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Artigos

  • Amazônia, o futuro depois do paraíso

    Vimos, todos, a fala do líder dos arrozeiros na Raposa Serra do Sol, Paulo Quartieri, saído da cadeia por hábeas corpus instantâneo, e passeando, de celular, nos salões do Congresso. Daí partiu para o avião e a passeata triunfal em Boavista. Carreata de mais de cem autos, bandeiras e hino nacional, e os beijos nos índios já trazidos à campanha para permanecer o plantio, de vez, na reserva ameaçada.

  • Universidade e capital estrangeiro

    A educação superior no Brasil mobiliza-se, agora, para uma nova dimensão estratégica de seu desenvolvimento: a inversão maciça de capital estrangeiro a começar por grandes complexos de ensino de São Paulo. A perspectiva é inédita dentro da própria maturação do nosso processo de mudança. É tardia também na medida em que a atividade educacional constitui, hoje, o quinto maior empreendimento no país.

  • Democracia e direitos humanos

    As recentes manifestações dos ministros Tarso Genro e Paulo Vannuchi quanto à ação do aparelho policial no quadro de crescente violência brasileira reforçam um dos aspectos dominantes do avanço da democracia profunda no Brasil. Ou seja, o respeito aos direitos humanos, vindo de par com a maior interdependência e autonomia dos poderes da União. O ponto crucial deriva da convocação das Forças Armadas para garantir a ordem social interna numa inevitável zona gris, frente ao papel das polícias. No seu amplo descortino, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, por outro lado, reconhece o quanto o deslinde final dependerá de uma reforma da Carta.

  • A América de Obama, ainda

    Este ano sísmico de 2008 surpreende por acontecimentos absolutamente imprevisíveis, dentro das lógicas de poder delineadas pelas hegemonias políticas, após a amplitude do domínio da superpotência, a civilização do medo e a absoluta remoção de uma cultura da paz como alimentada, ainda, na virada do século. O governo Bush seria a conclusão inapelável deste controle bélico global na assunção de todos os riscos calculados para fazê-lo prevalecer, através, inclusive, da guerra preemptiva.

  • A compulsiva reforma política

    O avanço da democracia entre nós exprime o reclamo de uma consciência cívica emergente que não descansará enquanto não se for à lei para virar a página da contínua decepção com o Congresso Nacional. A reforma política torna-se uma compulsão do inconsciente coletivo. O Presidente da Câmara quer tomar a si a tarefa, por inteiro, e à sua hora. Mas aquela impaciência de base leva Lula a apresentar projeto sem mais demora aos parlamentares.

  • Estado de direito e democracia selvagem

    Vivemos nestes dias uma crise paradoxalmente sadia do que seja, nos seus perigos e promessas, o avanço do Estado de direito entre nós. Mas a chegar já na semana que se abre à nova ameaça-limite: a do vácuo jurídico dos poderes com a paralisação do Congresso e a entrega de decisões críticas ao presidente do Senado. E, ao mesmo tempo, do afastamento de funções dos personagens do Judiciário neste embate, pela entrada de férias simultânea do presidente do Supremo e do juiz De Sanctis da Vara Criminal do julgamento de Daniel Dantas. O cenário se esvazia de todo com o afastamento compulsório do delegado Protógenes, na investida tonitruante de sua operação Satiagraha.

  • Os palanques sem Lula

    O fechamento das candidaturas à eleição municipal define já a plataforma dos estragos pós-mensalão na organização da vida partidária do país. Todas as inscrições recuaram sobre a proposta eleitoral de 2004. Freou-se a vontade da competição política, entre os riscos novos trazidos ao antigo desempenho, hoje, sobre a lente policial, e a oportunidade nova que o desenvolvimento econômico está abrindo às carreiras de sucesso despontados no município brasileiro.

  • A espantosa cegueira de Obama

    O discurso de Obama, frente à coluna de Berlim, encontrou ratificação estrondosa para a possível convivência entre os ricos do mundo. Kennedy já tinha enntendido que o palco efetivo do encontro das duas pontas do Ocidente era o cenário da queda do Muro, pedra por pedra, entre as duas visões do futuro contemporâneo. Os arremedos quase grotescos de McCain, entre salsichões, em cervejaria perdida no interior americano, só dizem da escala em que a fala do rival é a outra voz de fundo da cultura americana, saída do cabo de guerra demo-republicano.

  • Democracia irrestrita e corrupção perfeita

    Os escândalos levantados pela Operação Satiagraha já têm um saldo definitivo, qual o do teste de uma nova maturidade da democracia brasileira. Esta só avança quando de fato chega-se à barra de contradições institucionais, e esta se resolvem por um passo à frente, até mesmo no desconhecido, e a bem da confiança em novos controles, sempre dentro da Carta Magna. Estamos, de vez, numa sociedade em mudança a que responde a crença na sustentabilidade do desenvolvimento, de par com o avanço do efetivo pluralismo das liberdades e da dignidade da pessoa. Estes valores são postos à prova pela nova desenvoltura da polícia, acostumada, de sempre, a se deter na ante-sala dos poderosos. Mas todo progresso paga o preço dos seus exageros, necessariamente corrigíveis.

  • Réquiem para o Brasil impune

    A crise do dossiê Dantas testou os limites da nossa maturidade democrática. Deparamos com uma nova consciência, que torna irrevogáveis estas conquistas, e nos deixa a salvo de regressões moralistas, ou de um controle autoritário. É benéfico que o choque tenha sido percebido ao nível decisivo dos movimentos sociais, dos abaixo-assinados e das moções, libertados do conformismo das instituições. A verdadeira paz social corrompe-se por um quietismo excessivo, confundindo com uma pseudo tranqüilidade o nível de desencanto, senão de cinismo, com que um país de elite de poder pretende se manter no banho-maria do seu status quo.

  • Sem as militâncias fáceis

    O encontro de Lula com meia centena de intelectuais no Rio foi o segundo deste ano, no empenho do governo amadurecido, de auscultar o seu recado a longo prazo. Para onde vai a Presidência e como o presidente conduz o país, para além do partido e, inclusive, das primeiras euforias de conquista do poder? Reuniram-se reitores, religiosos, psiquiatras, escritores, líderes comunitários, acadêmicos. E a educação, os direitos humanos e a cultura avultaram no debate, a partir da primeira pergunta de Oscar Niemeyer. Insistiu-se na importância do acesso da mocidade à verdadeira formação humanística e não profissional, e da chegada à universidade, num país que deixa ainda um milhão de jovens fora dos campi por ano, quer pelas limitações da universidade pública, quer pelos preços dos campi privados, frente às novas classes ascendentes entre nós.

  • Lugo, Lula, a fronteira da surpresa

    O discurso de posse de Fernando Lugo, em Assunção, vai a uma dimensão fundadora do discurso de mudança no Continente. Não logra, apenas, a quebra, de vez, de 61 anos da inércia do partido colorado. Traduz uma consciência emergente do "outro país", que teve chance, não só de votar, mas de fazê-lo fora do dilema esterilizante, entre a facção jubilada no poder e os liberais e sua eterna contradança.

  • O apocalipse já

    Frente à lembrança de mais um 11 de setembro, Obama e McCain marcaram o retrato das opções sem volta das próximas eleições americanas. Os republicanos não abrem mais qualquer guarida a um pós-Bush que não seja senão o confirmarem-se os piores presságios para a nação hegemônica entrincheirada no seu fundamentalismo extremo. Não há mais reforma republicana senão a da regressão ao núcleo mais empedernido do maior país do mundo barricado na civilização do medo.

  • Lula na Casa Branca

    Lula se entrevista este fim de semana com Obama, no começo deste intento de levar o presidente americano a uma visão ampla e prospectiva da América latina que tem diante dos olhos. É sem dúvida o lado do mundo menos conhecido pelo homem da Casa Branca. Permitiu-se, mesmo para escândalo dos mexicanos, penetrar uma das únicas gafes de sua campanha. No dircuso de Berlim referiu-se à queda, afinal, de todos os juros do muros no prenúncio de uma nova era. Mas esqueceu-se por inteiro que continua ereta a barreira no Rio Grande, fechando todo ingresso mexicano nos Estados Unidos, num portão que inclusive entra no Pacífico até 300 metros, tornando impossível praticamente o seu contorno a nado.