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Artigos

  • O suicida da Lagoa

    Acordei com um barulho danado em cima de mim. Custei a entender o que era. Aos poucos identifiquei o ruído típico das pás de um helicóptero, que antigamente se chamava “autogiro”, nome mais fácil de entender e menos complicado. Não seria a primeira vez. Voava baixo, na certa estaria procurando traficantes na ladeira dos Tabajaras ou no morro dos Cabritos, onde estão nascendo duas favelas.

  • Bandeira amarela

    Eram muitos, estavam em todas as partes, usavam uma farda meio esculhambada, um quepe maior do que a cabeça, pareciam carteiros fatigados e tristes, levando uma bandeirinha amarela e uma espécie de regador com creolina para desinfetar possíveis focos de mosquitos. Para os editoriais da grande imprensa, eram “os valorosos soldados de Oswaldo Cruz”. No dia a dia e no dia-a-dia das ruas e das gentes, eram os mata-mosquitos – com hífen ou sem hífen, dava no mesmo.

  • O que nos falta

    Vivemos num país cartorial, onde tudo termina não em palavras, como na citação clássica de Shakespeare (“words, words, words”), mas em papéis, papéis, papéis. Por mais que apareçam documentos com firma reconhecida, cheques, talões de depósito bancário, bilhetes de passagens aéreas, vídeos, fotos e áudios; por mais que as CPIs, a PF e os jornalistas investigativos obtenham depoimentos assombrosos e testemunhos indestrutíveis, nada acontecerá no país além do muito e bastante que já está acontecendo.

  • Dona Dilma

    Inevitável um comentário sobre a principal notícia da semana, que deu louvável transparência à doença da ministra Dilma Rousseff. Os entendidos em política já se manifestaram e continuarão cometendo prognósticos que envolvem a próxima sucessão presidencial. Não é a minha praia.

  • Doentes e doenças

    Quinta-feira passada, na sessão habitual da Academia Brasileira de Letras, presentes dois médicos acadêmicos, Ivo Pitanguy e Moacyr Scliar, comentou-se aquilo que os jornais estão chamando de “pandemia”: a gripe suína. Na condição de sanitarista, Scliar explicava o que podia e dava conselhos genéricos aos colegas, que, apesar de imortais, muito se preocupam com tudo aquilo que ameaça a própria e discutível imortalidade.

  • Gripes e Gripados

    Apesar dos muitos e desnecessários anos que carrego nas costas, não cheguei a este mundo a tempo de pegar a espanhola, com a qual a gripe suína, agora com um nome cabalístico e esterilizado, vem sendo comparada. As duas nada têm a ver, pelo menos até agora, e pelos depoimentos dos contemporâneos da peste.

  • Opinião e público

    RIO DE JANEIRO - Deputado federal desconhecido irritou a mídia ao declarar que estava se lixando para a opinião pública. No fundo, quis dizer que se lixava para a própria mídia, que segundo ele, não forma nem informa a dita opinião pública.

  • A mosca

    Um pedreiro anônimo teve mais do que os seus 15 minutos de glória. Teve 16. Trabalhando no cemitério junto a uma igreja de São João del Rey (MG), emocionou a nação e comoveu a cúpula do Estado que lá estava para sepultar Tancredo Neves – ato final de um drama que abalou todo o País. Ficou no ar em rede nacional, via satélite, nem por isso se afobou, cumpriu o ofício como se estivesse sozinho, caprichou com sua pá humilde, dando à cerimônia um momento de reflexão: assim passa a glória do mundo.

  • Elogio do carro de boi

    Só para dar um exemplo. Quando Napoleão viu que um motor a vapor podia ser melhor, mais rápido e mais seguro do que o vento, que até então impulsionava os navios, esnobou solenemente a tecnologia nascente, chamou o inventor de charlatão e ficou na dele. A Inglaterra logo se tornaria o império que dominaria os mares e destruiria o império napoleônico. Moral da história: não se deve pichar e muito menos recusar os avanços da técnica.

  • Quartel de Abrantes

    Não deixa de ser um avanço, por sinal, relevante. O premiê de Israel, Binyamin Netanyahu, fortemente pressionado pelos últimos acontecimentos no Oriente Médio, voltou atrás em sua posição radical e admitiu pela primeira vez a criação de um Estado palestino.

  • A moça e o analista

    Tinha 35 anos de idade e oito de análise. Trocara cinco vezes de analista por diferentes razões. Um deles só se alimentava com arroz integral e quis obrigá-la a tanto, outro deu em cima dela, e ela deu em cima de um outro, que não lhe de bola. Não era fiel aos analistas, mas fiel à instituição.

  • O Frade Espanhol

    A corrupção é uma velha companheira do poder. O prato com lentilhas com o qual o adolescente Jacó subornou seu irmão Esaú tornou-se mais substancial ao longo dos séculos, inclui reinos, terras, mulheres, principalmente dinheiro, se sempre teve atuação nas disputas humanas, tanto nas individuais como nas coletivas.

  • Modos e modas

    Não se trata de faixa etária, mas de ouvido mesmo. Abrindo-se as exceções de praxe entre os admiradores de Michael Jackson, o gostar ou não gostar de suas músicas é uma questão de hábito – fica difícil classificá-lo como músico. Sobram-lhe as letras, algumas muito boas, e, sobretudo, a sua dança – e desde logo afirmo e reafirmo que ele é superior a Fred Astaire, até então o maior bailarino do audiovisual de nossa era.

  • Tempos de Chaplin

    "Chaplin é um chato!", disse-me Glauber Rocha um dia, quando estávamos comprimidos numa exígua sala de janelas gradeadas, num quartel da rua Barão de Mesquita, com sentinela armado à porta.