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Artigos

  • Os vaticínios do jogo da humanidade

    Jornal do Commercio (RJ), em 11/07/2014

    A catástrofe da semifinal Alemanha-Brasil não pode atropelar a reflexão sobre o horizonte mais largo do perfil dos jogos da Copa e do quanto eles impactaram, para o futuro, a expectativa de seus desfechos. O presente campeonato mundial instala, de vez, o futebol como o jogo da humanidade, assistido por, praticamente, 2 bilhões de espectadores. Há que atentar ao quanto se organiza essa expectativa de nosso inconsciente coletivo e ao que seja a satisfação ou o repúdio com este desempenho.

  • 'Sincericídio' e toma de consciência

    Jornal do Commercio (RJ), em 04/07/2014

    O pronunciamento do ministro Gilberto Carvalho é uma palavra fundadora da visão crítica do poder por quem o exerce e, no caso, por um PT já instalado no Planalto há três mandatos. Não há que vê-lo como a estrita explosão de um sincericídio, mas, já, como tomada de consciência, a se inscrever no avanço e na reflexão crítica da inteligência brasileira. 

  • O resgate e o mito da raça

    O Globo, em 21/06/2014

    O impacto da aposentadoria prematura de Joaquim Barbosa vai ao crivo de uma interrogação em nosso inconsciente coletivo quanto à força simbólica do presidente do Supremo. No pleno advento de nossa democracia racial, Barbosa passa, ao mesmo tempo, à condição de herói e de desafiante. Repercute o gesto, num misto de elogio e de crítica, na medida em que se multiplicaram tanto o apoio quase mítico à sua figura, quanto o repúdio ao autoritarismo e à violência das diatribes do magistrado.

  • De volta ao justiçamento selvagem

    O Globo, em 21/05/2014

    O massacre de Fabiane de Jesus, em Guarujá, exasperou esta nova marca de ruptura entre a sociedade civil e os aparelhos da segurança em nossos dias. Alastra-se o recurso à violência como forma de justiçamento selvagem pela população, somando o cansaço à espera da ação pública. Regressamos à violência imediata como torna ancestral ao “olho por olho’’ na vida coletiva. O linchamento consagra o anonimato da agressão como fosse um reclamo no gesto espontâneo e incontido de vizinhos e passantes por uma vindita coletiva.

  • Depois de Mandela

    O Globo, em 16/12/2013

    Não há inédito como o de Mandela, no preito em que o mundo acorreu ao seu funeral. Até onde ele vai, além da sua biografia — e aqui começa uma interrogação —, na força emergente em que acordou um inconsciente social do nosso tempo? A peregrinação às exéquias uniu amigos e inimigos, num portento a ligar todas as lideranças políticas destes dias. E é, sem dúvida, ao perdão aos seus carcereiros, por 27 anos, que emprestou Mandela um gesto-fundador na nossa contemporaneidade.

  • O recado de Jango

    Jornal do Commercio (RJ), em 22/11/2013

    As homenagens de Estado, nestes dias, a Jango, em Brasília, dão conta de uma primeira integração e de um primeiro reconhecimento da história política da nossa modernidade. Muito mais além do averiguar-se um eventual envenenamento do ex-presidente, faz-se, agora, o enlace simbólico do governo Vargas à política do Brasil antiestablishment, consagrado pela vigência do petismo.

  • Em 2014, eleição sem messianismo

    O Globo, em 28/10/2013

    A aliança de Marina com Eduardo Campos constitui um inédito na contenda eleitoral, nas últimas décadas. Juntam-se forças de esquerda contra um partido da mudança no poder. O PSB marca uma programática nítida, tanto na presença intrínseca do Estado na economia, quanto na decidida redistribuição da renda nacional, a partir de uma incisiva política tributária, tanto deparamos 50% da renda nacional nas mãos de 126 pessoas.

  • Emergem os novos radicalismos ocidentais

    Jornal do Commercio (RJ), em 25/10/2013

    A vitória, afinal, de Obama no impasse orçamentário é muito mais do que o ganho, de vez, de uma prospectiva do horizonte, a longo prazo, do futuro americano. De princípio, pela redução da força eleitoral do Tea Party como núcleo duro do republicanismo do país. Reduziu-se sua ascendência sobre a opinião pública, de par com o seu endurecimento radical. Não comportou variações ou dissidências. Assentou-se, de maneira irrevogável, como o radicalismo de direita no país. Não há como subestimar, entretanto, em termos eleitorais, o vulto despropositado de seus financiadores, concentrados em três ou quatro gigantescas companhias, e, sobretudo, nos fundos dos irmãos Hubble.

  • Depois do inverno árabe

    Jornal do Commercio (RJ), em 18/10/2013

    A desfeita da Primavera Árabe vai do imprevisível ao inaudito. Mais que a ruína democrática, deparamos a demolição da governabilidade, senão do próprio Estado. Aí está o colapso da gestão Líbia, com o sequestro do Presidente, num jogo de negociações de clãs contra clãs. A estabilidade social desaparece no país pós-Kadafi e se dissolve em tribos, num verdadeiro nomadismo político, em todo o sul do país.

  • Os trunfos guardados da Carta Magna

    Jornal do Commercio (RJ), em 11/10/2013

    A celebração dos 25 anos da Carta Magna é momento de não só se atentar às inovações do documento de 88, mas também, na sua organização, de darmo-nos conta da riqueza de sugestões – que não prosperaram, sobretudo em função da Comissão Arinos – de um trabalho da intelligentsia brasileira, saída da ditadura, e podendo trabalhar a fundo, já à época, o que seria uma prospectiva do nosso Estado de Direito.

  • O país da consciência e o Brasil do perdão

    Jornal do Commercio (RJ), em 24/12/2012

    O remate do julgamento do mensalão é de impactos inéditos na consciência nacional e seu avanço irrecorrível. De saída, o da realização da justiça chegada aos superpoderosos, desbaratados dos velhos nichos da impunidade. Esvaiu-se a acomodação de sempre, do atraso dos julgamentos, e da aposta na perda da memória coletiva. No caso, por um quase monopólio midiático da atenção popular, que, por sua vez, traduzia um fato sociológico: o da virada de página do imperativo da tolerância com a corrupção, amadurecida pelo nosso desenvolvimento. Garantiu-a Joaquim Barbosa, nos atributos todos da figura vingadora, para a superação, de vez, do país acomodado.  Irrelevante no caso é se saber se este sentimento coletivo desbordou do velho moralismo das classes médias brasileiras para o País recentemente saído da marginalidade, e mais ligado, de imediato, ao fruir de seu acesso à economia de mercado.

  • O Vietnã e a guerra excessiva

    Folha de S. Paulo, em 20/12/2012

    O Vietnã avulta como nação com seus quase 100 milhões de habitantes e com uma determinação multissecular de sua individualidade, exposta desde as invasões chinesas e japonesas, na sua obstinada identidade cultural.

  • Niemeyer e o breviário da perenidade

    Jornal do Commercio (RJ), em 17/12/2012

    Não foi criado o Nobel para a arquitetura e as artes plásticas, mas Niemeyer seria, sem dúvida, e de longe, o primeiro brasileiro a receber a grande palma. Quebraríamos este absoluto jejum, já que nunca tivemos o prêmio, em qualquer das suas concessões. A unanimidade indiscutível em torno do nosso arquiteto se consolidou há décadas, na obra continuada até hoje, e passou, de há muito, à posteridade.

  • A imperfeita descoberta do Camboja

    Jornal do Commercio (RJ), em 10/12/2012

    No quadro do dinamismo do Sudeste Asiático, o Camboja é o país que, literalmente, veio à força da modernidade, pela recuperação da riqueza única de seu passado histórico. E, tal, não em função de uma convivência multissecular, já que essas raízes vão, ineditamente, pelos antecedentes do Império Khmer, aos 800 a.C, e à sucessão de construções ciclópicas de seus reis. Todos esses monumentos, até meados do século XIX, estavam, por inteiro, cobertos pela vegetação, no que mostram as raízes gigantescas, quase a sufocar as muralhas à sua volta. As primeiras descobertas ocidentais nasceram de exploradores individuais, financiados, a custo, por entidades científicas, e não por qualquer iniciativa pública.