A aliança de Marina com Eduardo Campos constitui um inédito na contenda eleitoral, nas últimas décadas. Juntam-se forças de esquerda contra um partido da mudança no poder. O PSB marca uma programática nítida, tanto na presença intrínseca do Estado na economia, quanto na decidida redistribuição da renda nacional, a partir de uma incisiva política tributária, tanto deparamos 50% da renda nacional nas mãos de 126 pessoas.
Eduardo Campos une, neste momento, por outro lado, o Nordeste do país, marcado, desde Celso Furtado, pela intrínseca necessidade do planejamento para a mudança. Marina emprestaria a essa aliança uma visão messiânica, no desenraizamento de todo o status quo, reforçado pela pregação ambiental. Mas não é tranquila a sua certeza de carrear a vintena de milhões de votos da última contenda, num quadro, então, de menor presença política da candidata petista.
O embate previsível retira o PT da inércia das certezas de vitória, forçando-o a reorganizar-se e, sobretudo, à mobilização. A sigla dispõe, ao lado dos quadros, deste “povo de Lula”, que, praticamente, não conhece outra opção eleitoral, desde que saiu, nos seus 40 milhões de brasileiros, da marginalidade total para o mercado. Aí está, ao mesmo tempo, a limitação dos governadores do PT, em vários estados, a depender de uma aliança congênita com o PMDB.
Os resultados da nossa performance econômica mostram, contra todos os vaticínios oposicionistas, os bons índices do PNB, com o controle da inflação e a harmonização do processo urbano do país. Deparamos êxitos que só tenderão a se ampliar nos próximos meses.
Atingido, de vez, pela aliança Campos/Marina, é o PSDB, empurrado a um tertius, sem retorno, para o próximo embate. Marina ameaça a visão oposicionista, de verdadeira alternativa de esquerda, como a do PSB. Envolve-a da tônica moralista, frente à corrupção, praticamente inevitável ao exercício de poder, sobretudo, num comando do Planalto, há uma década. Emerge, também, como risco consistente, o jogo das vontades fortes de ambas as lideranças.
De toda forma, a última dança das siglas consolidou a militância partidária petista, de quadros praticamente inalterados, para a próxima refrega. E a multiplicação de minipartidos só reforça o jogo cansado das clientelas.
Ao contrário, propondo-se a uma decidida contraposição ao PT, e resistindo às obviedades da Rede, o PSB desponta com a consciência de outro futuro que o das vaguezas utópicas da esquerda brasileira.
O Globo, 28/10/2013