O soneto e a emenda
Embora não tenha compromisso com a ciência e a história, o Gênesis, primeiro livro da Bíblia aceita por várias religiões, é o relato literário mais articulado da criação do mundo, acima e afora das teses acadêmicas.
Embora não tenha compromisso com a ciência e a história, o Gênesis, primeiro livro da Bíblia aceita por várias religiões, é o relato literário mais articulado da criação do mundo, acima e afora das teses acadêmicas.
É mais fácil prever o futuro do que entender o passado. Evidentemente, em visão panorâmica. Em detalhes, o futuro será sempre enigmático, daí o lugar comum formado e firmado pelo veredicto dos séculos: o futuro a Deus pertence.
Arthur Xexéo, meu parceiro num programa da CBN, faz uma espécie de retrospectiva sobre o passado, bolou a "Mala do Ano", em que destaca as principais gafes, besteiras e chatices de personagens que em 2015 encheram o saco do respeitável público, tornando-se eméritas malas sem alça que fomos obrigados a carregar.
As coisas não andam bem aqui no Rio de Janeiro, apesar da lama de Mariana não ter chegado ainda a outro rio, o Comprido, filete de água em cujas margens vivi e estudei durante dez santificados anos no seminário onde traduzi o "Pro Milone", o melhor discurso de Cícero, apesar de as Catilinárias serem mais famosas e de estarem em evidência por causa da Operação Lava Jato.
O Natal é talvez a mais simpática das convenções da civilização cristã ocidental, embora, com o tempo, tenha se transformado mais em ocidental do que em cristã. Mas isso não nos importa. Importa é que o Natal é um oásis de protocolar e epidérmica boa vontade entre os homens.
Em crônica antiga, tentando definir Copacabana, considerei o morador mais importante do bairro o poeta Carlos Drummond de Andrade e o menos importante um anônimo que, depois de beber bastante, ia para o meio da rua e ficava berrando: "Olha a crise!", Olha a crise!". O poeta me corrigiu: "O mais importante não sou eu, é o outro cara".
O principal argumento que dona Dilma e a assanhada militância do PT, a começar pelo seu assanhadíssimo fundador, é que a Operação Lava Jato é um golpe, uma violência contra a Constituição, os bons costumes da nossa vida pública, um terceiro turno da última eleição presidencial.
Nunca foi tão fácil para o Brasil resolver todos os seus problemas. Passei o último domingo lendo nossos jornais e revistas e vi que a solução nunca esteve tão na cara como agora. Desde as Guerras Púnicas, quando Catão descobriu o inimigo de Roma e bradou, sem jornais e revistas, o diagnóstico correto ("Delenda Cartago"), que a história não criou condições para se descobrir o inimigo óbvio de um país e de um povo.
O sentimento é geral: estamos vivendo um dos momentos mais vergonhosos de nossa vida republicana. A presidente Dilma e o PT em massa estão falando em golpe. Já tivemos vários e dramáticos golpes na nossa história, basta lembrar a Proclamação da República, a Revolução de 30, a queda da ditadura Vargas e, o mais trágico de todos, o golpe militar de 1964.
Estou sabendo que uma turma de cobras, em Paris, está chegando a um plano ou coisa que o valha sobre o clima na Terra, o meio ambiente e outros temas de nosso tempo.
Quando o Brasil perdeu para o Uruguai, em 1950, fiquei triste. Na última Copa do Mundo, quando o Brasil perdeu para a Alemanha por 7 a 1, eu não fiquei triste, fiquei envergonhado. Menos envergonhado do que agora com as trapalhadas de nossa vida pública.
Renan, não o Calheiros, mas o Ernesto, observou que, dos quatro biógrafos oficiais de Jesus (Mateus, Lucas, Marcos e João), somente o último se preocupou com a história e as histórias do personagem que escolheram.
A crise política que atravessamos de modo cada vez mais dramático está jogando para o banco dos reservas a crise econômica, desde que se considere a crise moral como geradora das duas crises anteriores, sem esquecer uma terceira crise, a oral, que mais cedo ou mais tarde criará uma quarta crise, a mais devastadora, a institucional.
Antigamente, havia um tipo de jornalismo baseado em enquetes. Era a peça de sustentação da reportagem. A mania vinha de longe: Marcel Proust, enquanto escrevia sua obra e ninguém sabia que ele era gênio mesmo, fazia jornalismo circunstancial e bolou uma famosa enquete, famosa, sobretudo, porque se limitava a uma série de perguntas idiotas que provocavam respostas imbecis —não fazendo justiça nem ao autor das perguntas nem ao autor das respostas.