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Artigos

  • O romper do ano, decepções e boas catástrofes

    O fim de 2012 discrepa de todo esse advento do futuro, como se pensava, ainda, na abertura do novo século, acreditando na civilização da paz e no avanço acelerado do. O 11 de setembro torna-se, cada vez mais, o marco da ruptura com a crença nessa hegemonia tranquila e crescente dos valores indiscutíveis, até então, do universo, como entendido pelo Ocidente. Enfrentamos a "guerra das religiões" como o terrorismo da fé, a partir da destruição de Bin Laden. Mas a Al-Qaeda permanece, enquanto ameaça latente, descentralizada, verdadeiro suicídio cívico, como mostra a violência pontual no Afeganistão, na índia, ou no Paquistão. Foi, no entanto, a aceleração dos impasses da Primavera Árabe que tornou mais nítido ainda o que se reputava, independentemente dos conflitos culturais, uma conquista da consciência da humanidade, qual a da democracia ou do laicismo, ou da superação, de vez, dos fundamentalismos religiosos.

  • A queda irreversível das ideologias

    O ano que passou mostra a virada definitiva da dita "época de ouro do capitalismo" da última trintena. As sucessivas crises financeiras evidenciaram que não se tratava de condições conjunturais do sistema que o Ocidente, via de regra, confundiu com a da própria prosperidade. Dão-se conta as maiorias eleitorais, na reeleição de Obama, ou na vitória de François de Hollande, de como avançava um princípio básico de justiça social na consciência cidadã. Prima por sobre os fáceis alinhamentos de uma direita ou esquerda, ou mesmo de um centro, perdida a régua da velha estabilidade da vida coletiva.

  • O epitáfio da 'Primavera Árabe'

    Os desencontros da "Primavera Árabe" só evidenciam a liquidação das últimas crenças de que se consolidariam, no século emergente, os valores vistos como cruciais da dita "civilização ocidental". O que se constata, nesse entrechoque, é até onde a própria democracia confrontou, por exemplo, o secularismo, visto, após toda a luta renascentista, como a da conquista dos sistemas políticos desligados do império das crenças religiosas.  Após a queda dos governos ditatoriais da Tunísia e do Egito, assentava-se a certeza de que os novos regimes assegurariam as coexistências das fés, dentro da regra do respeito às minorias, em que se assentava a modernidade. Mas é a partir do protesto dos coptas e dos cristãos do Egito, frente à nova segregação temida, que passa a repontar o perigo crescente do exclusivismo religioso. Nos vaivéns do governo do Cairo, entremostra-se, com a habilidade do Presidente Mursi, o desfecho dessa maciça maioria política da Irmandade Muçulmana, que levará o Egito a novo Estado islâmico. No particular, aliás, contrastaria, no sudeste asiático, com a Malásia, a prescrever, pela sua própria Constituição, que todos os seus habitantes sejam muçulmanos. Mas o regime, no seu atual governo, não impõe limitações cívicas à população que mude de fé. Conta, sim, com a força do status quo para conservar essas dominações da crença, de par com o crescente apuro político de Kuala Lumpur, assumido como o da moderação democrática.

  • O ambíguo legado europeu ao século XXI

    Abre-se, em Paris, a XXVI Conferência da Academia da Latinidade, dedicada ao estudo do legado europeu no mundo, após a Primavera Árabe e a emergência da nova globalização. É largo o caminho, desde 1968, que levou a Academia a reuniões bianuais, e a começar por Teerã, Alexandria, Istambul, Baku, Cairo, Rabat. De par desdobrava-se o debate dos perigos, também, dos fundamentalismos ocidentais, tanto nos EUA, após o 11 de setembro, quanto na América Latina, na discussão da verdadeira autenticidade cultural pré-colombiana, levando aos debates de Nova York, Lima, Quito ou Mérida.

  • O terrorismo vai à guerra

    A XXVI Conferência da Academia da Latinidade, em Paris, deu especial atenção à nova e inesperada revivescência do terrorismo islâmico. Não foi outra a surpresa dos acontecimentos do norte do Mali e da Argélia, tendo forçado a intervenção militar e peremptória do governo francês, agora seguida de vacilantes, ainda, concursos das Forças Armadas de vários países europeus. Tal como avançou na conferência o professor Al-Salimi, de Oman, o que está em causa não é a mera ocupação do vácuo de Bin Laden, mas a emergência de uma nova geração do confronto islâmico. É a liderança, já, de Mokhtar Belmokhtar, amadurecido em conflitos pontuais no Afeganistão, que vem ao comando do que parecia uma provocação terrorista, rapidamente erradicada. O que se vê é um choque frontal no terreno com forças armadas rebeldes, e treinadas, a assentar-se num território e não mais a buscar apenas o atentado pontual, típico dos homens-bomba.

  • Os percalços da nova globalização

    Quem são, de fato, e agora, partindo das perplexidades da crise financeira, os verdadeiros parceiros da nova globalização, fora das certezas de uma hegemonia ocidental de, ainda, uma década? Aí está a crescente fragilidade europeia, senão, já, a da impensável fratura, como nos mostra a possível independência da Catalunha, na Península Ibérica. Não há mais a repetir, por outro lado, o peso da assistência internacional à Grécia e, agora, a Portugal, a disparar um coeficiente quase irreversível de desemprego. Arrefece-se, também, a antiga gula dos países centro-europeus e eslavos, de se integrarem na Comunidade Econômica Europeia, desenhada pelos grandes visionários de após a II Guerra Mundial. As novas descobertas petrolíferas do Atlântico Norte tornam cauteloso qualquer ingresso escandinavo e reforçam a crescente retração de Londres, a desanimar as expectativas remanescentes de Paris e Berlim.

  • A França à frente contra o terrorismo

    As declarações da presidente Dilma sobre a eventualidade de um neocolonialismo francês na intervenção militar no Mali levaram à reflexão da opinião pública europeia, quanto ao contraste do lance de Hollande com o acervo habitual de expectativas, da recorrência de presenças militares do Ocidente na África contemporânea. A intervenção nasceu de um evento, literalmente fundador, de uma reação do Estado organizado contra o terrorismo, até agora beneficiado na esteira de Bin Laden, de apoio frontal, como no Iêmen, ou disfarçado, como no Paquistão. O que disparava, a olhos vistos, era a sequencia da Al-Qaeda com lideranças, reconhecidas e proclamadas, em nova onda, a demonstrar largo preparo técnico para a guerra de guerrilhas, e o grande aporte de armas e munições, transferidas após a queda de Kadafi, na Líbia. A região dos novos rebeldes ganhava, por sua vez, um expressivo impacto territorial em áreas vazias, mas geograficamente importantes, no norte do Mali, antevendo uma ocupação duradoura, à falta de fronteiras vivas, neste oeste do Saara. As novas chefias querem um salto estratégico no confronto, superando as ações típicas dos homens-bomba, ou da explosão de edifícios, para o corpo a corpo das ações terroristas, continuadas nos desgastes das estabilidades governamentais, e do alerta permanente contra o abate militar. Sobretudo, buscam a integração de populações nômades, dispersas nos vazios desérticos e incentivadas ao botim dos oásis.

  • A lucidez do homem e a coragem do partir

    O impacto único da renúncia de Bento XVI não pode ter como resposta uma ambiguidade instintiva de reação, entre o seu entendimento como entrega ao cansaço da idade, ou da coragem de levá-la a uma exaustiva e radical tomada de consciência. O gesto é de uma indiscutível modernidade, inclusive em confronto com o seu antecessor, a manter a crença num providencialismo inato ao pastoreio pontificai, até a sua morte, como fez João Paulo II. É situação-limite e, talvez, sem antecedentes na história dos papados, já que, a que a antecedeu, há 415 anos, com Celestino V não foi a da responsabilidade do dever, mas do bem-estar da alma, a trazer de volta ao monacato o pastor então eleito, praticamente contra a sua vontade. Influiu, sem dúvida, a percepção de Bento XVI da aceleração das crises desta pós-modernidade. Mas muito menos quanto às condutas clericais, do que no concernente às manifestações da Igreja sobre o seu tempo. E aí, significativamente, também, num corte equívoco, no seu testemunho sobre a convivência das fés, e, em especial, quanto ao Islã, frente à iminência das guerras de religiões. De outro lado, entretanto, o pensamento de Ratzinger enfrentaria a intelligentsia emergente, no proclamar a relativização, senão a anulação, em soma algébrica, do avanço da racionalidade frente à crença, em nossos dias. É numa reflexão aberta sobre a modernidade que enveredou, surpreendentemente, há poucos dias, o Papa, a reconhecer a prioridade dos direitos humanos nas questões, até há pouco, fechadas, do casamento gay, ou da homossexualidade. O intelectual e o filósofo, em Ratzinger, ao lado do teólogo, manteve o alerta da consciência crítica, independentemente do seu dixit final. Deparou o avanço da secularização do Ocidente, nas perdas das maiorias cristãs, na Holanda, ou na Escandinávia, ou mesmo na Inglaterra, ou no catolicismo francês. Este acúmulo da densidade da descrença fecha os caminhos, naturalmente, a um papado inovador, ao mesmo tempo em que invalida-pelas próprias perplexidades da'lgreja destes dias um novo pontificado de transição. A perspectiva, dramatizada pela renúncia, é a de um cerrar fileiras em torno de uma ortodoxia, de pontificado defensivo, ainda que não-restaurador, como ao que se inclinou o então jovem Papa, Pio K, no cerne do século XIX. Uma Igreja conservadora responderia a esse perfil, dificilmente escapável de uma retração sobre os grandes episcopados italianos, à volta de Bento XVI, a partir da super arquidiocese milanesa. E tal, de par com o testemunho do silêncio inédito de Ratzinger, no repto da última entrega pelo extremo de sua lucidez.

  • Depois, de vez, das economias regionais

    A recente Conferência das Nações Unidas, em Viena, voltou-se para o problema fundamental do que seja, hoje, um conceito de regionalização, após a crise financeira de 2008: a nova integração econômica, dos Estados Unidos e da Europa, e, sobretudo do avanço dos BRINCS. Pergunta-se que especial impacto teriam estas mudanças sobre a visão emergente de uma América Latina. E, de saída, por ser, talvez, a área do mundo que continua na sua prospectiva clássica, a seguir prisioneira do contraponto centro e periferia, e o quadro de dependência que ainda manteria com a economia americana. Nesta última vintena, a consciência do antagonismo levou à movimentação política de vários países do hemisfério, a propor-se à confrontação, a partir do movimento do bolivarismo, comandado pela Venezuela de Hugo Chávez. A perspectiva buscava um possível primeiro delineamento de uma economia latinoamericana, a partir dos pressupostos do Mercosul. É nessa mesma medida que evidenciou-se um bolivarismo refratário à busca da iniciativa neste submercado continental, de saída marcado pela sua não-complementaridade, como evidencia a produção da Venezuela, do Equador, ou da Bolívia. Mais ainda, esta contradição mais se agrava, na aposta crescente na exportação petrolífera, no recuo de um possível processo de industrialização, essencial a qualquer ganho de uma política de desenvolvimento e, sobretudo, de sua sustentabilidade.

  • No limiar da guerra de religiões

    Vem de terminar, em Viena, o V Fórum da Aliança das Civilizações, promovido pelas Nações Unidas, para buscar a renovação do diálogo, ou do entendimento internacional, visceralmente atingido pelo 11 de setembro, pelo avanço do terrorismo e por uma eventual guerra das religiões. A conferência evitou os lugares-comuns de discursos da boa-vontade, na reiteração das intenções de abertura, e da retórica do óbvio. E, a partir, sobretudo, de reiterar-se a afirmação dos direitos humanos, na clássica previsão da concórdia, e da visão convencional do outro.  É nesta própria reciprocidade de perspectivas que se apoiou uma visão da racionalidade ocidental, que clama por um direito essencial hoje em dia, qual o da diferença, inexistente na Declaração Universal, organizada no meio do século passado. O terrorista é este personagem, hoje, congênito à pós-modernidade, enquanto quer forçar o reconhecimento do outro, e sua difícil coexistência nos conflitos culturais. Exasperam-se no horizonte próximo da “guerra de religiões”, e na continuação, depois da Al-Qaeda, do movimento do Boko Haram, na Nigéria, ou dos extremistas do Mali.

  • Moralismo e estado de direito

    A decisão do Supremo na Ação Penal 470, vista como a mais importante da sua história, mostra, de logo, o seu impacto sobre a sociedade civil, para além mesmo dos abalos no nosso estado de direito. Aí está a explosão nas redes sociais, a indicar um racha único de classes. É a rejeição maciça da absolvição do crime de quadrilha, que traduz o clássico moralismo das nossas classes médias, levado à sua exasperação. Vem de par com a condenação do governo Dilma e com a suspeita de indicações facciosas dos novos ministros do Supremo, que permitiram a alteração do quorum do julgamento anterior. É como se o presente status quo finalmente trouxesse à tona a correção de rumos das condenações pelas vozes dos novos ministros, adrede trazidos à Corte.

  • O Papa, no dia seguinte

    A avalanche da acolhida universal do Papa Francisco envolve, de imediato, a previsão do seu segundo tempo, ou de como vão se comportar as expectativas, após o impacto da escolha do Papa Bergoglio. De saída, no inevitável con-tra-tom, a nova imagem internacional foi à mídia, com o máximo detalhe, na alegada colaboração do Bispo Bergoglio com as autoridades militares, na eventual denúncia de padres de esquerda. De toda forma, o pontificado vai avançar, sem restolho, nem bombas de tempo, pela contundência dos desmentidos do único Prêmio Nobel da Paz argentino, Perez Esquivei, exatamente sobre Direitos Humanos. A recepção crítica insiste, por outro lado, em que o debruçar do Papa Francisco sobre os pobres pode permitir uma "retórica da caridade", ou a concentração das dimensões sociais do pastoreio, numa clássica política assistencialista. O pontífice, numa visão realmente global do seu ministério, penetraria nas próprias estruturas dos modelos da prosperidade contemporânea, a acelerar a concentração de renda, em todos os quadrantes da atualidade.

  • Nossos trunfos lá fora

    A última reunião da Aliança das Civilizações, das Nações Unidas, em Viena, salientou a importância da política internacional do Brasil, inclusive num confronto com as demais nações do grupo dos BRICS, que alteraram, de vez, os caminhos da globalização hegemônica, como ainda prevista há uma década. O país teria, numa distinção nítida com a Índia, China, Rússia e África do Sul, componentes únicas neste protagonismo externo, que ainda mal desponta. E, de saída, pelo quadro intercontinental em que avança, no reconhecimento de sua presença  crescente no mundo africano. Sai-se, de vez, neste quadro prospectivo, da moldura latinoamericana, e, sobretudo, quando amarrado ao velho e gasto contraste entre centro e periferia, no contraponto com os Estados Unidos. Avança nossa presença  em Angola e Moçambique, assim como, em bem de todo o continente, pelo contributo financeiro do Brasil para uma legítima lítica de desenvolvimento, fora dos antigos assistencialismos do último meio século. O País superou a sua moldura geográfica clássica e, por sobre qualquer velha política de blocos, enfrenta hoje uma ação diversa e plural com os países fronteiriços. Defronta as políticas de crescente assistencialismo com o Paraguai e a Bolívia, nas transferências de recursos naturais, como no caso dos nossos direitos ao potencial energético das Sete Quedas, ou das trocas petrolíferas e de gás natural com o governo de La Paz.

  • Do PT ao povo de Lula

    No antever-se as eleições de 2014, começam a avultar as estratégias da vitória de Dilma. Mas a evitar, de logo, supostos equivocados do que seja o real peso de suas maiorias e, sobretudo, a partir do efetivo controle de votos pelas alianças partidárias. Não obstante, só se redobram as preocupações do Planalto de manter a envergadura dessas alianças, negociando com todo o minicontingente de voto, que lhes possam trazer quaisquer legendas. Tal de par com o adiamento de alternativas vindouras, a se fixar no alvo de uma estrita candidatura de oposição, assentada no PSDB, e forçando o alinhamento de Eduardo Campos com o situacionismo.