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Artigos

  • A determinada democracia africana

    Ao visitar a África pela primeira vez, Obama foi só a Gana, enquanto nação de indiscutível credencial democrática no Continente. Mas Dilma, em futura viagem à região, não tem como iniciá-la senão pelo Cabo Verde, o país que, desde a sua fundação, mantém governos popularmente eleitos em amplo respeito à expressão política de suas minorias.

  • A tardia e ambígua revolução árabe

    O seísmo continua no Oriente Médio, num abalo comparável, para muitos, à queda do Muro de Berlim. É o acordar de um inconsciente coletivo, disparado pela revolução tunisiana, mas a encontrar a multiplicidade de cenários, como acontece com aspirações históricas longamente reprimidas.

  • 'Migração boa' e o ocidente depurado

    O primeiro-ministro Cameron, da Inglaterra, frente a larga reticência do Parlamento, acaba de defender a política da "migração boa" para o futuro do Reino Unido. Dos seus 62 milhões de habitantes, quase 5% vêm de estrangeiros para se radicar nas ilhas britânicas. O que está em causa, pela primeira vez nesta virada do século, é a restrição ao fluxo internacional que choca, de imediato, com as garantias dos direitos humanos de nossos dias. Não estamos ainda diante das proibições de etnias, nem do horror da retomada do que foram, no nazismo, as políticas frontais de exclusão coletiva do seio da modernidade. Mas à proposta de Cameron - para nossa inquietude - ecoa " também a de Angela Merkel entre migrações bem-vindas, ou mal-vindas, a colocar nestas, e de logo, a de árabes na Alemanha.

  • A oposição conta os seus ossos

    Aí está a força do sociólogo FHC para encontrar os possíveis caminhos do Brasil da maturídade política, em busca do; jogo das alternativas de poder. O ex-presídente, com razão, mostra a impossibilidade do tucanato em chegar ao âmago do povão e do que o Brasil emergente vê, desde os últimos mandatos, como o Lula-lá. FH busca o respaldo eleitoral a partir desta constatação:pelos 56% de brasileiros que podem ser definidos como de uma nova ampla classe média ascendente. E em que termos, nela, as expectativas mais rápidas na prosperidade podem criar vínculos novos, suscetíveis de diferenciação política? O contributo do presidente-sociólogo é o de superar a ingenuidade em que as oposições envelhecidas continuam a pensar numa chegada pendular ao poder, nascendo da fortuna eleitoral, dos meros cansaços politícos de maiorias eventuais e dos contrastes de opinião sobre o desenvolvimento e sua maturida de histórica.  A contundência da mensagem não ecoou, entretanto, na profundidade que possa, mesmo com um jejum político imediato, alicerçar as oposíções para um jogo estável e de maior chance de chegar ao Planalto. O que se vê, ao contrário, de parte das hostes contrárias à situação, são os clássicos realinhamentos sôfregos, e de aproximação com a Presidência Dilma, buscando as aparas de cargos e de quinhões orçamentários, que deixem à tona do negocismo político de sempre essas facções exiladas pelas vitórias do lulismo. O movimento atinge o próprio cerne da reserva de votos tucana, guardada em São Paulo e que se vê agora esvair no governo Alckmin, predestinado a todo novo anticlímax eleitoral.

  • As diferenças do pós-Lula

    Os 4% a mais de popularidade de Dilma em relação à de Lula, no seu primeiro trimestre, representaram mais que um simpático crédito inicial de confiança. Cresce um sentimento de solidez no perfil da nova Presidente, na proposta da "continuidade sem continuísmo". E desde já com o destaque de que não vai à encenação estudada, mas num estilo de passar à obra, e desde logo, impor-Ihe o seu sinete.

  • Começa a política externa de Dilma

    Ao receber o presidente Wulff, da Alemanha, Dilma Roussef deu os primeiros passos de uma política externa, na linha desenhada pelo governo Lula. Amadurecemos no último mandato esta quebra de uma velha geografia de centros e periferias, em que se reforçava, classicamente, a dominação americana transformada em hegemônica, nos anos subsequentes à queda do muro. Num novo ressalto internacional, a autonomia brasileira vai, naturalmente, à constituição do bloco dos BRICS, e, fora do perfil, ainda há uma década, previsto para a globalização. Nosso País confronta-se aí a duas outras nações gigantes, a China e a índia, também voltadas, pela dinâmica de sua própria população, para uma política de desenvolvimento nacional. Desaparecem, nesse quadro, as velhas polarizações, com a clássica ascendência dos Estados Unidos ao lado do continente europeu, e até a crise financeira de 2008, voltados para a afluência e o progressismo do modelo neoliberal.

  • Civilização do medo

     O que representam as fotografias escondidas do corpo de Bin Laden? De que realidade se faz a morte do terrorista, permitindo que o espectro avance na sua "missão sagrada" em nosso tempo, como vem de proclamar Al-Zawahiri? Na confirmação da saga que começa, o número 2, forçando uma imagem bíblico-botânica, repete: "Perdeu-se tão só uma uva no cacho exuberante da al-Qaeda."

  • As surpresas do nosso avanço democrático

    Os desdobramentos da pressão pelo Código Florestal indicam sinais novos desta maturação do processo democrático brasileiro. Só a democracia aduba a democracia, e a estabilidade política do País, reconhecida internacionalmente, só reforça este avanço da sociedade civil, em todo o seu dinamismo, frente à organização governamental e ao mundo dos aparelhos. Tradicionalmente, o jogo de intercâmbios de interesses entre representantes populares e o interesse do sistema se resolvia na política de clientelas e nos abocanhamentos possíveis de cargos e fatias orçamentárias, de que se faria o peso clássico das situações e dos comandos governamentais. É deste quadro que se aparta, de vez, o novo jogo de condicionamentos que desfigura, por completo, as antigas acomodações e perturba as contas das maiorias previstas.

  • Da Praça Tahrir à democracia dos indignados

    O conjunto de levantes na praça, simbolizados pela aglomeração na Praça Tahrir, no Cairo, vai à senda mais funda do seu efeito dominó, para além do Oriente Médio e da primavera árabe. Lá estão, em Madri, e na Praça da Catalunha, em Barcelona, ajuntamentos determinados a ficar, dia e noite, na visibilização deste poder emergente do povo na praça, em maratona incansável do protesto. É a réplica a toda comunicação a distância, que já socializou tão profundamente, pela internet, o debate político e a formação de uma nova consciência coletiva. É o corpo a corpo em que a conquista da coesão fala mais, inclusive, que a própria temática dos " seus múltiplos recados e protestos. Tal como se deparássemos, de vez, não só ,a exaustão das mecânicas de representação política e, mesmo, a dos próprios plebiscitos que pareceriam ser a sua imediata derivação.

  • Da greve dos bombeiros ao partido militar

    As manifestações de rua dos bombeiros, por quase um mês a fio, marca, sem dúvida, uma nova etapa das pressões grevistas na presente democracia brasileira. Não é mais um comício; são horas a fio dos manifestantes junto ao Palácio Tiradentes, na cantilena incessante de bordões e invectivas, cantos e cantochões, numa continuidade de vigília que passou, também, a atravessar os fins de semana. Acampamentos de rua, barracas contra as portas da Assembleia Legislativa, em todo o contrário de uma debandada pelo cansaço. Estamos diante de uma maratona, somando às lideranças um verdadeiro corpo de tropa e suas próprias famílias. O novo do movimento é a sua fusão com a crença evangélica. Seu principal comandante manifesta-se, exatamente, na linha ostensiva da crença, e começa a sua conclamação, sempre, em nome de Deus, da mobilização da fé, cercado, inclusive, pela certeza profética de seu êxito.

  • Às vésperas da 'guerra de religiões'

    Depois da revolução árabe vamos, de fato, à democracia? Ou estamos mergulhando no fundamentalismo, no Ocidente ou no Oriente Médio, num sentimento defensivo de identidade e não de efetiva coexistência internacional? A recente Conferência da Academia da Latinidade, realizada em Barcelona, examinou este contraponto, onde está em causa a possível regressão do pluralismo político sob o álibi do arranco democrático e do abate das ditaduras no Mediterrâneo muçulmano. Começam as interrogações com a reforma constitucional da Tunísia, que rejeitou o laicismo, e o perigo da aparição de partidos únicos, como o da Fraternidade Muçulmana, num novo alinhamento pressentido das forças políticas, no Egito.

  • Regressão e primavera democrática

    Realizou-se recentemente, patrocinada pela Academia da Latinidade, no seu 23° seminário, em Barcelona, a discussão de todo o impacto das atuais revoluções democráticas no mundo árabe, bem como do avanço da radicalidade republicana nos Estados Unidos e das novas restrições migratórias, justamente contra essa mesma cultura islâmica.

  • Democracia e neofundamentalismo

    Realizou-se nestes dias, patrocinada pela Academia da Latinidade, no seu XXIIl Seminário, em Barcelona, a discussão de todo o impacto das atuais revoluções democráticas no mundo árabe, bem como do avanço da radiealidade republicana, nos Estados Unidos, e das novas restrições migratórias, e justamente contra esta mesma cultura islâmica. O que inquieta é a queda da garantia do pluralismo, ou dos dois lados do cenário, nesta configuração do novo mundo global. O imperativo da democracia confronta os seus ditos universais, por todos os atores da contemporaneidade no próprio imo dos regimes ocidentais. Angela Merkel rejeitou o pluralismo na Alemanha, precedendo as declarações de Cameron, no último G-20, ao defender uma imigração "boa", em crescente restrição dos fluxos árabes. O Ocidente passa, hoje, a uma linha defensiva onde os regimes da liberdade confrontam um sistema de exclusão social, de repto ao completo reconhecimento do outro, implicado pela plena cidadania, na esteira das conquistas dos Direitos Humanos pela modernidade.

  • Dilma, soberania e direitos humanos

    As novas conquistas da política externa brasileira deparam uma interrogação: vão à conquista estrita da iniciativa internacional do país, saído das velhas dependências continentais ou das velhas servidões de periferia, -como já expresso na voz do país, no mundo árabe, ou à não interferência da Otan nas tensões de Trípoli e Damasco? Ou,cada vez mais, o novo perfil internacional do país se associa, por sobre os problemas nacionais e de soberania, ao avanço dos direitos humanos e aos ganhos da cidadania dos ditos reclamos, já, da própria humanidade, neste começo do século XXI? As primeiras visitas internacionais de Dilma associam-se, intrinsecamente, a estes imperativos e não é sem razão que sua visita a Pequim reforçou a liberação de Ai Wawet e outros contestadores do sistema.

  • O Dr. Alceu, a abadessa e a posteridade

    Faleceu em 1º de julho a madre abadessa Maria Teresa, da Ordem de São Bento, filha de Alceu Amoroso Lima. Não temos, talvez, na nossa história contemporânea, diálogo cultural entre duas gerações que nos tenha permitido o dia a dia único, por mais de meio século, do primeiro dos católicos brasileiros. A interlocução com a abadessa, na multiplicidade das anotações recíprocas, garante-nos, hoje, a reconstrução do pensamento de Tristão, na conversa diária com Lia, a sua Tuca. Dá-nos, na sua vastidão, a perplexidade e a coragem, ao mesmo tempo, com que se interroga sob os seus deveres da militância da fé, em todo esse longuíssimo périplo.Desde a conversão, por Dom Leme, na sequência da correspondência com Jackson de Figueiredo, em 1928, até se ter transformado no primeiro dos combatentes, pela imprensa, contra o governo militar.