Os tempos da vida
No colégio, uma de nossas principais (e mais difíceis) tarefas era aprender a conjugar os verbos. Conjugar os verbos já não é mais uma condição para passar de ano; mas agora me parece uma coisa muito simbólica. Conjugar verbos é conjugar a vida. Em primeiro lugar, por causa das pessoas verbais. Começamos, e isso é muito significativo, com a primeira pessoa: “eu”. Um resultado indireto do instinto de preservação que existe em cada indivíduo. Lutamos pela vida; lutamos para nos afirmar. Na sociedade em que vivemos, esse instinto gerou um verdadeiro culto do ego, mas, felizmente para nós, a conjugação dos verbos não se esgota na primeira pessoa. Logo em seguida vem o “tu” (viva o Rio Grande, que preserva esse pronome!) e isso muda por completo o panorama de nossas relações. O relacionamento, diz-nos aquele notável filósofo da convivência, e do pacifismo, Martin Buber, acontece entre o Eu e o Tu, e se faz através do encontro, do diálogo, e da responsabilidade mútua: é uma intersubjetividade, não uma subjetividade exclusiva e frenética.