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Artigos

  • Crise óbvia, desfecho novo?

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), em 26/08/2005

    O cenário das CPIs montou-se, logo, nos trinques para o espetáculo das oposições, toda mídia escancarada frente ao patíbulo, tangidos os depoentes, seus advogados, seus habeas corpus preventivos. A violência das inquirições punha fim ao jejum de poder, e a forra à chegada do Brasil de fundo ao Planalto. Desataram-se as injúrias, os rangeres de dentes e a irascibilidade solta dos acusadores, sob o álibi da cólera cívica. Um espectador escandinavo, se não um membro do Tribunal de Haia, cobraria esse respeito mínimo a um depoente desprotegido das presunções normais da inocência, de que lhe guarnecem o Judiciário, e seu respeito às provas e à interlocução, deixada ainda no umbral da suspeita.

  • Palocci e a verdade premiada

    Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), em 24/08/2005

    A crise tem a sua retórica. Normalização, a sua linguagem. Na sucessão de choques e espetáculos cívicos das últimas semanas, a surpresa do pronunciamento do ministro Palocci, em pleno meio-dia de domingo, deu-nos o direito à credibilidade política. Suas frases descansadas contrastam com os excessos do denuncismo ou as manipulações do acordão, no empenho do Congresso de voltar ao controle do script, saído dos trilhos das CPIs, e suas apostas na desmemoria do país.

  • Corrupção sistêmica e acordão já

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 12/08/2005

    A crise comandada pelo "mensalão" apossou-se das manchetes oficiais, em nome de um discurso antigo, a passar o seu veredicto, não obstante a enormidade dos novos cenários de dependência econômica e política das nossas instituições. O novelo de Roberto Jefferson desenrolou o portento do abuso modernizado, ao padrão da complexidade dos interesses e dos aparelhos em que se entrelaçam verbas orçamentárias, fundos de pensão, contas de propaganda, contratos de venda fatura de votos no Legislativo. A atingir o situacionismo da hora, veio ao patíbulo da opinião pública todo o estigma da corrupção inseparável, como sua segunda natureza, do subdesenvolvimento político de um País, ainda preso à privatização da coisa pública, própria à dominação típica da nossa estrutura semicolonial.

  • Brasil de Lula, partido de Dirceu

    Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), em 10/08/2005

    A vertigem da crise já nos depara a exasperação de situações-limite, como da nova guinada da direção petista na reunião de 6 de agosto. Qual o perfil da legenda que vai à opinião pública diante dos crescentes questionamentos nacionais? O da purga proposta ao PT por Tarso Genro ou da ida à frente da estratégia do ''campo majoritário'' na opção de José Dirceu? O caminho adiante parece ser o da aposta na verossimilhança da versão da ausência de conhecimento da cúpula do partido nos pagamentos das caixas 2 de campanha e do ''mensalão''. Não há mais recuo no ''tudo ou nada'', em que insistirá a legenda fiada na sua credibilidade de fundo - avalizada pela biografia de Dirceu - frente aos incidentes de trajetória de erros e abusos para a conquista de maiorias parlamentares. E até onde, agora, o presidente se associou ao ex-chefe da Casa Civil no rumo dado ao confronto do PT com a crise?

  • O Brasil de Lula e o País da crise

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), em 29/07/2005

    A crise do Planalto se vê dominada pelo enfoque ético e as reparações cobradas ao situacionismo brasileiro para retorno à normalidade do Governo Lula. O que, para tal, logo sai de cena é a ribalta petista da Paulicéia, onde parecia jogar-se sempre o futuro do regime, e o rondó de seus nomes favoritos. Seria mesmo de perguntar-se se o vaivém destas lideranças - culminado no impasse da eleição de Severino para presidente da Câmara - não refletia as primeiras escaramuças para saber-se qual o delfim ao governo de São Paulo, na pugna entre Mercadante, Dirceu, Genoíno ou João Paulo Cunha. A nova Presidência do PT, entregue a Tarso Genro, reflete uma estratégia de poder, que retorna a uma visão de projeto, arraigada na defesa do partido diferente, e vai até o real questionamento dos modelos de mudança a partir de um verdadeiro escrutínio das alternativas à globalização.

  • E agora Brasil de Lula?

    Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), em 27/07/2005

    Neste luxo único de crises deparamos um novo paradoxo reconhecido pela mídia brasileira. O PT despedaça-se tanto quanto Lula agüenta o tranco e mantém-se com um inédito capital político no país. Diante do rame-rame das nossas catástrofes de salão o novo desses dias mal começa a apontar. As manchetes repetem cansativamente que os miseráveis não se importam com o escândalo do ''mensalão''. E os vaticínios de que, afinal, Lula irá a um abate de popularidade não se confirmam frente ao ranço deste moralismo que se apossa periodicamente da classe média, que passou, desde 2002, a votar em Lula e ora fala como dona do pedaço. A fatura da decepção não tem nada a ver, nem se desconta no a que veio, de fato, o presidente. Nem o desestabilizará diante da confiança elementar em que, afinal, o Brasil dos destituídos dá outro compasso ao que seja a mudança brasileira.

  • A marca do fim

    Tribuna da Imprensa (Rio de Janeiro), em 26/07/2005

    Há menos de um mês, em encontro organizado por Cândido Mendes de Almeida em Paris, coube-me falar na Sorbonne, sobre "O romance no Brasil". Depois de uma introdução rápida sobre as raízes da arte de narrar, estudei a obra de dois narradores seminais da nossa literatura - José de Alencar e Manuel Antônio de Almeida - fixando-me, em seguida, em Machado, Raul Pompéia e Aloísio de Azevedo, para chegar a Rachel de Queiroz, Jorge Amado, Graciliano, Adonias, Lúcio Cardoso, Otávio de Faria, Clarice Lispector, Cornélio Pena, João Guimarães Rosa, Érico Veríssimo, José Sarney, Ciro dos Anjos, Antônio Calado, Ariano Suassuna, Nélida Pinõn, Inácio de Loyola Brandão, Campos de Carvalho.

  • Lula, depois de Lula

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 22/07/2005

    Bresser Pereira vem nos dar, nestas páginas, a análise talvez mais contundente da crise atual do sistema, batendo a sonda toda. Estaríamos a pique de uma crise de legitimação capaz de atingir as bases sociais do governo e as previsões tranqüilas, de início, de reeleição. Não nos poupa do veredicto letal: o governo Lula acabou. Pode continuar na rotina, já que golpe não existe, nem quebra do mínimo de virtude administrativa para entregar a faixa e os anéis do próximo mandato. O bisturi do sociólogo investiga o suporte de classes ao Planalto, nesse apoio a se desmoronar, e agrega, na faixa de perigo, a pequena classe média capitalista, a burocracia de Estado e o mundo empresarial, rendido, pela primeira vez, à avalanche eleitoral de 2002.

  • Em Paris, nossa universidade de corpo inteiro

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), em 15/07/2005

    Poucas vezes a viabilidade de um encontro como o do Ano França-Brasil, no plano da educação superior, permitiu uma abertura tão larga de experiências e visão prospectiva entre os campi dos dois países. Sob o patrocínio da Sorbonne III e o entusiasmo de seu presidente, Bernard Bosredon, o lingüista que hoje se volta, repetidamente, sobre o nosso país, o "Grand Salon" ouviu não menos que uma dúzia de nossos reitores, a marcar toda diversidade da atual oferta do ensino superior do País. Em sintonia com seus homólogos franceses - que devemos ao trabalho e ao denodo de Martine Dorance e René Lestienne -, percebeu-se a vastidão do interesse e, sobretudo, das engrenagens e do trabalho a seguir, que tornaram os encontros de 27 e 28 de junho muito mais que uma prestação de contas e um sucesso retórico. Mesmo porque, ao lado das exposições estritamente acadêmicas, o empenho do reitor Paulo Alcântara permitiu os encontros de Paris e Marselha, e a agenda densa da cooperação tecnológica, assentada sobre a estratégia-chave: a criação das redes - como bem salientou o reitor Melfi, da USP - que asseguram o entrelaçamento entre o campus e o sistema empresarial.

  • As CPIs, às gargalhadas

    Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), em 13/07/2005

    O que significam para uma virada de página frente à nossa corrupção sistemática, as gargalhadas e os tapinhas nas costas, o tutta buona gente em que terminaram as dez horas da vociferação anunciada de Roberto Jefferson, entre seus hematomas e rangeres de dentes? A catarse pedida por mais uma erupção do óbvio em nossa vida parlamentar? O anticlímax, até antes do tempo, ou já, de fato, a exaustão da farsa periódica, em que o país das clientelas se exorciza de seu fantasma camarada? Modernizou-se a corrupção, ou mudou o Brasil? O erro do PT, agora inescapável, é o de ter-se seduzido pelo imediatismo do sucesso, aceitando a realpolitik apertando o nariz para consolidar as suas maiorias parlamentares. Do corpo a corpo suarento para entrega dos cargos passou à compra segura dos votos no mensalão, à distância, da mala de Marcos Valério.

  • O que diria Maquiavel?

    O Globo (Rio de Janeiro), em 09/07/2005

    Após a catástrofe dos plebiscitos de França e Holanda, os estrategistas da União Européia poderiam perguntar-se da indagação que, retrospectivamente, Maquiavel lhes faria. Por que a insistência na consulta popular, para levar adiante a Carta, e não a simples ratificação pelos Parlamentos nacionais? Não foi outra a solução que já deu pelo “sim” em todos os países que a acolheram, como Alemanha, Itália e Bélgica. Não estava na perspectiva do grande avanço da conquista da Carta o desacerto de agora entre a sensibilidade dos governos e a retranca de uma opinião pública ainda mal preparada para a modernidade democrática que representa o apelo crescente aos plebiscitos.

  • Nossa cabeça francesa

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), em 08/07/2005

    Os mais recentes encontros do ano França-Brasil concentraram-se na troca da experiência das nossas cabeças: tanto a da universidade, como a literária. É o que proporcionou, de início, a presença na Academia Francesa, de dezesseis membros da ABL, respondendo a um intercâmbio começado pela vinda ao Rio de Janeiro, no Centenário da Casa de Machado de Assis, dos Secretários Perpétuos, Maurice Druon e Hél×ne Carr×re d"Encausse, bem como de Marc Fumaroli e Hector Bianchotti. "Sous la coupole" agora os donos da casa foram saudados por Ivan Junqueira e José Sarney. Relembraram-se as vinhetas dos primórdios da nossa colonização, pelos sucessivos empenhos, finalmente abortados, da França Antártica, na Baía de Guanabara, e da Equinoxial, quando Lavardi×re imprimiu à capital do Maranhão o nome de São Luís, o Rei nos altares.

  • O Congresso quase inimigo do povo

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), em 01/07/2005

    Todo o estardalhaço da aparição de Severino no cenário nacional cria cenários surpreendentes para o desfecho do segundo tempo de Lula. Confunde os próprios equívocos, entrega as gafes para os tentos do governo, assume os desacertos para piorá-los e atravessa bodes expiatórios no caminho do sistema. E, embalde, atinge Lula, blindado no seu trato de graças e apoios populares. Nenhum anticlímax o fere fundo nesta perseverança do apoio do Brasil de fundo. Abalos, se os há de raspão, nada têm de comum com a crise das CPIs, ou com a tentativa de roubar do Planalto a ribalta por este exorcismo de todos os flagelos em que se transformou o terceiro poder da República. É exatamente o Lula que repete o óbvio, o que se mantém a todo pano, e sabe fazê-lo, tal como conhece cada dobra do ouvido popular.

  • As boas surpresas dentro do óbvio

    Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), em 29/06/2005

    O desenrolar dos últimos dias, com a saída de José Dirceu e o novo desempenho que se talhou Roberto Jefferson, aponta, talvez, a uma quebra, no desfecho de sempre e sua receita, na ópera bufa das CPIs brasileiras. Dirceu veio à planície, mais que para aparar a estocada contra o Presidente, no empenho da volta às bases, para o fortalecimento de sua iniciativa política à vista do segundo mandato. Não saiu para o escanteio, nem como o perigo daninho, como se a sobrevivência do governo entrasse na contagem regressiva dos puros entre os dedos do sistema. A manifestação maciça de apoio ao ex-chefe da Casa Civil deu um teor todo, o contrário da nostalgia, como se começasse a arregimentação política para o novo tempo do PT no Planalto.

  • Melhoria democrática e impaciência popular

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), em 24/06/2005

    Instalou-se o Conselho Nacional de Magistratura, como conquista sofrida, e não menos determinada, do aperfeiçoamento institucional do País. Tratava-se de reconhecer, de vez, o princípio talvez mais difícil para se lograr esta funcionalização das estruturas de poder, em bem das reais e diferentes prestações do Estado. Entregue, tão-só, às próprias corporações, este exercício se endurece na letargia inevitável de sua inércia e, sobretudo, nos facilitários ou nas indulgências que o administram.