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Artigos

  • Traiu ou não traiu?

    No Brasil, a batalha final não será travada entre o Bem e o Mal, entre juízes e o STF, ou entre o Inter e o Grêmio. A batalha final será travada entre os que acham que Capitu traiu e aqueles que defendem a idéia de que Capitu não traiu. É uma discussão que agora tem mais de um século, e que volta à tona por causa do centenário do criador de Capitu, o grande Machado de Assis, autor de um romance que gerações e gerações, e não só no Brasil, vêm lendo: Dom Casmurro.

  • Escrever é terapia

    "Que notícias sensacionais podemos obter dos poemas?" pergunta, em versos famosos, o poeta norte-americano Williams Carlos Williams. Mas, depois desta desconsolada indagação, ele continua: "No entanto, pessoas perecem a cada dia / Por falta do que ali se encontra".

  • Depressão na aurora da vida

    Para quem vive no Brasil, a criança triste está longe de ser um personagem desconhecido. É aquele menino ou aquela menina que vemos vagando pelas ruas ou pedindo esmola nos cruzamentos, a criança que não sorri porque não tem do que sorrir. É a tristeza que resulta da pobreza e que, mesmo não aceitando (e não deveríamos mesmo aceitar), podemos compreender.

  • Deu a louca nas mulheres

    AOS 34 ANOS, MOLINA estava longe de ser um "Don Juan". Não só continuava absolutamente solteiro, para desespero da mãe viúva, que implorava por um neto, como nem sequer conseguia arranjar uma namorada. Molina era um solitário. O que, infelizmente, era mais do que explicável. Molina era feio, muito feio, Molina era pobre (trabalhava como balconista numa lojinha de subúrbio), Molina não era muito inteligente nem muito culto. Ou seja: suas chances de arranjar mulher eram mesmo diminutas. E ele não sabia o que fazer.

  • A primeira transgressora

    Eva foi a primeira transgressora? Bobagem. Tanto Eva como Adão eram uns ingênuos, uns babacas. Acreditaram na propaganda enganosa da serpente, e por causa disso foram expulsos do Paraíso, transformando-se nos primeiros sem-teto da História. Não, Eva não tinha a vocação de transgressora. Quem criou a transgressão, ao menos a transgressão feminina, foi outra imaginária mulher. Foi Lilith.

  • A miniaturização da vida

    No final deste notável romance que é Caminhos Cruzados, de Erico Verissimo, Clarimundo, professor de matemática, resolve tocar um projeto antigo: escrever um livro em que um ET relatará como vê o nosso mundo e a humanidade. Começa, naturalmente, pelo prefácio, onde se queixa de que a vida é chata, monótona. Da janela de seu quarto, prossegue o professor, ele vê numerosas pessoas, empenhadas no “ramerrão cotidiano”. Entre parênteses, são estas as pessoas cujos dramas, tragédias e comédias Érico acabou de narrar nas 286 páginas precedentes. Mas, diz Clarimundo, “debalde os romancistas tentam nos convencer de que a vida é um romance”; ele simplesmente não acredita nisso. Ao terminar o prefácio, Clarimundo tem um sobressalto: na chaleira que deixou no fogão, a água ferve, “a tampa dá pulinhos, ameaçando saltar”. Num pulo, Clarimundo tira a ameaçadora chaleira do fogo. “Quase me acontece um desastre!” – pensa.

  • Sarney usa a crônica como antídoto contra o rancor de nosso tempo

    A JULGAR pelas enquetes de confiabilidade que comparam diferentes categorias, os brasileiros não levam muito a sério os seus políticos, o que pode corresponder a uma histórica frustração e/ou a algum grau de preconceito. Mas o que acontece quando o político exerce alguma outra atividade ou profissão? Quando ele é, por exemplo, um médico? Será que os pacientes deste médico o verão com a mesma desconfiança com que avaliam o político? E se ele for um jornalista, como será avaliado?

  • Retrato da infância

    Não tenho muitas fotos de minha infância – fotos eram coisas relativamente caras para o modesto orçamento da família – mas, das poucas que tenho, existe uma que me parece particularmente significativa e nostálgica: a foto que figura nesta página. Ela foi tirada (“clicada”, para usar um termo atual) em Passo Fundo, onde moramos por uns poucos anos. Foi num baile de Carnaval – e eu, que teria uns três ou quatro anos, estou ali devidamente fantasiado.

  • Uma instalação no vazio

    Se a intenção da curadoria da 28ª Bienal de São Paulo era dar visibilidade à crise do modelo das bienais, o resultado foi plenamente alcançado. O vazio do segundo andar, que representaria a tal crise, recebeu muito mais elogios de artistas e curadores do que a mostra de arte apresentada no terceiro andar, marcada pelo tom conceitual.

  • Falando da Doença

    Temos basicamente duas linguagens: aquela que falamos ou escrevemos e com a qual expressamos pensamentos, sentimentos, opiniões, e que serve basicamente para a comunicação entre pessoas; e a linguagem do corpo, que se traduz por sintomas e sinais: uma dor, uma febre, uma tumoração. Médicos são treinados para traduzir a linguagem da comunicação em linguagem do corpo. Assim, quando uma pessoa diz: “Qualquer esforço me dá falta de ar, tenho de dormir com travesseiro alto”, o profissional “ouve” o coração dizendo que já não tem força para bombear o sangue, e que este, acumulando-se nos pulmões, está gerando dispneia, ou seja, falta de ar.

  • Literatura e álcool

    A história me foi contada pela escritora Lygia Fagundes Telles. Há muitos anos veio a São Paulo o Nobel de Literatura William Faulkner e Lygia foi sua anfitriã. O escritor americano passou quatro dias na capital paulista – constantemente bêbado. Finalmente Lygia foi levá-lo ao aeroporto. Ao se despedir, já na fila de embarque, Faulkner voltou-se para ela e perguntou, na voz arrastada pelo álcool: “Qual é o mesmo o nome da cidade onde estive?”.