Abaixo do volume morto
A presidente Dilma tem razão de ter achado “desastrosa” a fala do vice Michel Temer sobre a dificuldade de mantê-la no governo nos próximos três anos e meio com os níveis de popularidade que ostenta.
A presidente Dilma tem razão de ter achado “desastrosa” a fala do vice Michel Temer sobre a dificuldade de mantê-la no governo nos próximos três anos e meio com os níveis de popularidade que ostenta.
É muito conhecida entre os que já fizeram parte de governos, qualquer governo, a Síndrome da Porta Giratória, que acomete a todos que decidem deixar suas funções.
A presidente Dilma Rousseff deve aos brasileiros muitas explicações, que vão se acumulando com o passar do tempo, mas a que se dispôs a dar sobre o orçamento com déficit que enviou ao Congresso não faz nenhum sentido. Se vai mandar uma emenda ao orçamento para cobrir o rombo de mais de R$ 30 bilhões, por que não o fez antes, enviando um orçamento equilibrado?
Nada como uma grande dificuldade para estimular a ação dos que estavam inertes diante dos problemas. O governo acena agora com um grande plano de reformas estruturais a ser apresentado até o fim do ano, enquanto tenta descobrir uma saída para o déficit orçamentário que oficialmente acontecerá no próximo ano, se não houver uma solução negociada com o Congresso.
O depoimento de Marcelo Odebrecht à CPI da Petrobras revela ao país um dos pontos fulcrais de nossa crise moral: uma confusão tão enraizada entre o público e o privado que empresários e agentes públicos muitas vezes perdem a noção do que seja legítimo, isso se considerarmos que as explicações do ex-presidente da maior empreiteira brasileira são sinceras, e não mais uma demonstração de cinismo como tantas que temos visto nos últimos anos.
O juiz Sérgio Moro, que atua na Operação Lava-Jato, compara-a à Operação Mãos Limpas, o famoso combate na Itália contra a corrupção, ocorrido na década de 90. Considerado um dos maiores especialistas em combate à lavagem de dinheiro – e por isso atuou junto à ministra Rosa Weber no Supremo Tribunal Federal no processo do mensalão - é um estudioso do caso italiano e publicou em 2004 na revista do Conselho de Justiça Federal um artigo em que traça paralelos entre o Brasil daquela época e a Itália.
Não foi por acaso que o ex-presidente Lula anunciou ontem a possibilidade de vir a disputar a presidência da República em 2018, ao fim de uma semana em que o boato de que estaria prestes a ser apanhado na Operação Lava-Jato dominou o mercado político brasileiro.
O depoimento ontem do presidente do BNDES Luciano Coutinho na CPI, e a sabatina do Procurador-Geral da República Rodrigo Janot na Comissão de Constituição e Justiça do Senado na quarta, deixaram pelo menos alguns pontos obscuros que nossos parlamentares não souberam apontar.
O Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, revelou ontem em sua sabatina na Comissão de Constituição e Justiça do Senado que o processo pedido pelo PSDB, com base em parecer do jurista Miguel Reali Jr., acusando a presidente Dilma Roussef de crime comum pelas pedaladas fiscais, está em curso, e estão sendo ouvidas as pessoas relacionadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU) como responsáveis pela política econômica no primeiro governo.
O TSE definiu ontem uma maioria para abrir uma ação de investigação sobre as contas da campanha eleitoral da presidente Dilma em 2014, mudando de patamar a atuação do Tribunal com relação ao pedido do PSDB para impugnar o diploma da chapa vitoriosa por abuso de poder político e econômico.
A presidente Dilma Rousseff vai pouco a pouco, à sua maneira, fazendo um arremedo de mea culpa para tentar recuperar a credibilidade perdida. Mas como não é de sua natureza admitir erros, não consegue passar a sinceridade de seus atos, pois na verdade eles são insinceros.
Os Procuradores do Ministério Público que trabalham junto ao Tribunal de Contas da União (TCU) detectaram sinais de que o governo continua utilizando as pedaladas fiscais nestes primeiros meses do segundo mandato da presidente Dilma, o mesmo procedimento de 2014 que está sendo denunciado pelo TCU como um descumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal.
A saída do vice-presidente Michel Temer da coordenação política do governo, já decidida mas não concretizada, marcará o afastamento político do PMDB do governo petista cujo enredo tem um final previsível, embora não certo: o impeachment da presidente Dilma Rousseff, e a assunção de Temer ao cargo de presidente do país.
Ao denunciar o presidente da Câmara Eduardo Cunha na primeira leva de acusações, sem que nenhum petista tenha entrado na lista por enquanto, o Procurador-Geral da República Rodrigo Janot deu margem a que Cunha desse curso à sua teoria conspiratória de que o Palácio do Planalto estaria agindo em conluio com o Ministério Público para enfraquecê-lo.
A partir da denúncia do Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, ao Supremo Tribunal Federal, pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, o que deve acontecer ainda hoje, o deputado Eduardo Cunha passará de todo-poderoso líder político a investigado na Operação Lava-Jato, o que lhe retira boa parte do poder que esbanjava.