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Artigos

  • A música como bálsamo

    O Globo, em 25/07/2018

    ‘Nós estávamos precisando”, exclamou uma senhora depois dos “Dois concertos”, de Nelson Freire, no domingo, num superlotado Teatro Municipal. Na véspera, eu ouvira mais ou menos o mesmo depois do musical “Minha vida daria um bolero”, no Sesc Ginástico.

  • Engano de pessoa

    O Globo, em 21/07/2018

    Na crônica “Patetice”, Luis Fernando Verissimo conta como em um jantar na casa de Marcos Azambuja, então embaixador brasileiro em Paris, sentou-se ao lado de Nelson Freire, com quem conversou longamente como se fosse Miguel Proença. “Ele não acusou a gafe e respondeu educadamente a todas as minhas perguntas sobre o domicílio, a agenda de concertos e a vida pessoal do Proença, sem dúvida recorrendo à ficção”. O nosso genial pateta só acertou o instrumento que os dois tocam magistralmente: piano

  • Nada mais espanta

    O Globo, em 18/07/2018

    Não só não espanta como sequer surpreende. Se o Brasil é a terra dos contrastes e contradições, como já foi classificado, o Rio de Janeiro é a sua capital, onde o absurdo e o paradoxo são lugares-comuns. Aqui, o desvio é norma, o crime, uma rotina e o caos urbano, o pão nosso de cada dia. Em cinco meses, a intervenção federal, que veio para resolver a questão da segurança, não só não conseguiu, como permitiu que casos graves tenham aumentado. 

  • O fim do recreio

    O Globo, em 14/07/2018

    É hoje e amanhã só. Uma pena, porque mesmo sem contar com a seleção do Brasil na fase final, a Copa acabou servindo como distração desse nosso cotidiano tão cheio de más notícias. Segundo meu instituto de pesquisa, ficamos frustrados, tristes, um pouco irritados, mas não deprimidos. De repente, todos viramos croatas ou croativics e passamos a torcer com a maior intimidade por jogadores com essa rima insólita: Modric, Rakitic, Mandzukic, Perisic, Strinic, sem saber de seus gestos e atitudes nazifascisas.

  • Às favas os escrúpulos

    O Globo, em 11/07/2018

    Mesmo em época de despudor generalizado e condutas públicas inescrupulosas, Marcelo Crivella conseguiu se destacar, atraindo críticas, três pedidos de impeachment já protocolados na Câmara dos Vereadores, investigação do MP e o repúdio do Cremerj (Conselho Regional de Medicina do Rio), “pelo desrespeito a milhares de cidadãos que estão na fila aguardando cirurgias e outros procedimentos”. Como O GLOBO publicou, o prefeito reuniu secretamente no palácio 250 fiéis e pastores evangélicos para lhes apontar o caminho fácil de privilégios indevidos.

  • Lembrando um mártir

    O Globo, em 07/07/2018

    A recente condenação do Estado brasileiro pela tortura e morte do jornalista Vladimir Herzog, em 1975, durante a ditadura militar, veio lembrar o que alguns ainda querem negar — que crimes contra a humanidade eram então cometidos por torturadores, um dos quais é hoje exaltado por um candidato à Presidência da República.

  • O ‘goooooool’ e o orgasmo

    O Globo, em 04/07/2018

    Durante a transmissão do jogo Brasil x México, um amigo de esquerda pedia, como se estivesse se dirigindo aos colegas mexicanos: “Já que vocês ganharam a eleição, deixem agora a gente ganhar o jogo”. Ainda estava 0 x 0, e ele se referia à histórica vitória, na véspera, do candidato esquerdista Andrés Manuel López Obrador (AMLO, como é chamado), o primeiro a chegar ao poder em seu país, contrariando a onda conservadora que varreu a América Latina.

  • Cenas de uma guerra inútil

    O Globo, em 30/06/2018

    Que a vibração com a eliminação da Alemanha e com a vitória do Brasil sobre a Sérvia não nos deixe iludir: o Rio continua em guerra. Esta semana mesmo, num intervalo de 15 horas, dois policiais foram mortos e dois baleados. Se não bastasse, a Câmara dos Vereadores transformou-se num campo de batalha, com os confrontos que deixaram duas professoras feridas por balas de borracha e estilhaços de bombas.

  • Crime e castigo

    O Globo, em 27/06/2018

    Com quem você acha que o brasileiro realmente se identifica — com aqueles torcedores machistas e cafajestes que assediaram e humilharam uma jovem russa que, sem entender português, foi levada a repetir termos chulos e ofensivos, como se tratasse de uma inocente brincadeira, ou com os que, em número muito maior, se indignaram com o revoltante comportamento?

  • Pesadelo e final feliz

    O Globo, em 23/06/2018

    Confesso que não tenho mais idade para ser submetido a uma experiência como a de ontem. Comecei a ver Brasil x Costa Rica carregado de perspectivas preocupantes e pressentimentos sombrios. 

  • Uma crença e um temor

    O Globo, em 20/06/2018

    O empate com a Suíça me preocupou menos do que seu possível efeito negativo no estado de espírito do brasileiro, cujo humor, como se dizia na coluna de sábado, véspera do jogo, é ciclotímico, ora está lá em cima, ora lá em baixo. Como o país vem de uma fase ruim em vários setores — crises política, econômica, moral — contava-se com uma vitória no futebol para, por contágio, espantar o baixo astral e a tristeza geral.

  • Juntos numa só emoção

    O Globo, em 16/06/2018

    Amanhã deverá ser um dia como há muito não se via igual. Os brasileiros, enfim, estarão torcendo por um mesmo lado nas redes sociais, nos bares, nas ruas, em casa e diante da televisão. Sem polarização, sem ódio e sem xingamentos, não serão nem Fla nem Flu, nem esquerda nem direita, nada de coxinhas x petralhas, de golpistas x mortadelas, de neofeministas x feministas, de negros x os não bastante negros. Como no velho hino, todos estarão “ligados na mesma emoção” vibrando pela seleção.

  • Espantando turistas

    O Globo, em 13/06/2018

    Quem já morou na Urca nos anos 60, como eu, dificilmente poderia imaginar que o então mais seguro bairro do Rio iria se transformar em um campo de batalha de facções de bandidos capaz de fornecer o seguinte título para a primeira pagina do jornal de anteontem: “Sete corpos achados na Urca”. É um cenário que não tem nada a ver com o território edênico, modelo de segurança pública, onde me casei, onde meus filhos nasceram e foram criados.

  • De repente, a corrente

    O Globo, em 06/06/2018

    Nesta minha volta das férias, durante as quais, digamos, os caminhoneiros aproveitaram para provocar uma crise de desabastecimento de combustíveis e de alimentos em todo o país, esvaziando prateleiras de supermercados e bloqueando estradas, o único a não fazer feio foi Neymar. Ao contrário, ele esteve “acima das expectativas”, como avaliou Tite, e nós, torcedores, concordamos.

  • O programa valeu a pena

    O Globo, em 09/05/2018

    Há um evidente exagero no que vou dizer, mas vamos lá: tenho vivido o ano de 1968 mais agora do que na época. É apenas uma sensação, claro, mas tão intensa que vou ter que tirar umas semanas de férias para poder dar conta dos compromissos assumidos — artigos, entrevistas, inclusive para rádios, documentários e teses, e palestras aqui e em outras cidades.