Que a vibração com a eliminação da Alemanha e com a vitória do Brasil sobre a Sérvia não nos deixe iludir: o Rio continua em guerra. Esta semana mesmo, num intervalo de 15 horas, dois policiais foram mortos e dois baleados. Se não bastasse, a Câmara dos Vereadores transformou-se num campo de batalha, com os confrontos que deixaram duas professoras feridas por balas de borracha e estilhaços de bombas.
As fotos com os PMs apontando armas de longo alcance contra servidores municipais em protestos pacíficos pareciam mais de algum lugar da Síria do que de uma cidade conhecida como maravilhosa.
Enquanto isso, os investigadores batem cabeça há mais de cem dias para desvendar o assassinato da vereadora Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes. Numa “carta a Marielle”, o delegado Brenno Carnevale, do setor de inteligência da Polícia Civil, culpou pelo atraso a precariedade das condições de trabalho — “a falta quase absoluta de recursos humanos e materiais da unidade especializada e da polícia como um todo”.
Pois, se é assim, se lutam com tanta carência de meios, como se explica ter havido tantos gastos na desastrada operação que causou seis mortes, na comunidade da Maré, inclusive uma traumática, a do adolescente Marcos Vinicius, de 14 anos, que levou um tiro na barriga, quando se dirigia para o Ciep Operário Vicente Mariano, onde cursava a 7ª série.
Realizada para cumprir 22 mandados de prisão, a ação da Polícia Civil teve apoio de blindados do Exército e de um helicóptero, levando pânico aos 16 mil alunos das 44 escolas e creches do complexo de favelas. O que mais assustou os moradores foram os tiros disparados de cima.
Uma professora, que precisou proteger 24 crianças entre 8 e 9 anos, contou que os tiros soavam muito alto dentro da sala de aula, e as crianças ficaram o tempo todo “deitadas no chão, juntinhas, chorando muito. Foram uns cinco ou seis rasantes da aeronave”.
O defensor público Daniel Lozoya, do Núcleo de Defesa dos Direitos Humanos, afirmou que o uso de helicópteros para efetuar disparos de arma de fogo em zonas urbanas densamente povoadas é absurdamente temerário. A probabilidade de atingir pessoas inocentes é imensa”, disse ele.
O absurdo da dispendiosa e arriscada operação ressalta ainda mais quando se constata o seu resultado. Além das mortes, ela conseguiu apreender quatro fuzis, algumas granadas e drogas.
Será que alguma autoridade do estado acha que valeu a pena?