ABL na mídia - Estadão - Lilia Schwarcz é a nova imortal da Academia Brasileira de Letras; conheça a sua trajetória
Publicada em 11/03/2024
Publicada em 11/03/2024
Publicada em 18/12/2023
Publicada em 01/12/2023
Houve uma época em que eu ia com certa frequência a São Paulo e sempre guardava um pedaço de tarde para ir ver, em sua galeria, Marcantonio Vilaça. Para aprender com ele o que havia de novo nas artes plásticas e banhar-me de inteligência e sensibilidade. Marcantonio era um grande conversador, desses em que uma afirmação contém uma raiz de pergunta, para manter sem pausa ou silêncio o correr do diálogo. Lembro-me que era assim que discutíamos: perguntando. E discordávamos quase o mesmo tanto que coincidíamos, às vezes para ver até onde era capaz de ir o outro.
Estava nos meus 15 anos. Parecia, porém, ainda mais novo, porque era franzino e frágil. Sabia de cor a metade dos versos de Bandeira, que tinha então 60 anos, mas parecia também mais jovem - um quarentão que os cuidados impostos pela tuberculose conservaram desde a adolescência.
Quem tenha lido Aventura e rotina recordará o deslumbramento com que Gilberto Freyre viveu os poucos dias que passou na Ilha de Moçambique. Ali sentiu-se atordoado pela profusão de cores, ruídos, trajes e culturas em combinação e conflito. Entonteceram-no sobretudo as mulheres, nas quais, diz ele, a mestiçagem alcançava ''vitórias esquisitas de beleza e graça nas formas, nas cores, no sorriso, na voz e no ritmo do andar''.