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Artigos

  • A perda de um irmão

    O domingo cinzento era um dia triste.  O cenário do cemitério israelita de Butantan, em São Paulo, mesmo que muito bem tratado, era mais triste ainda.  Quem pode se conformar com a perda de um irmão, mesmo que seja o mais velho, e que tenha tido uma longa e proveitosa existência de 88 anos?                                         Era o enterro do Sylvio, que se notabilizou  em São Paulo por duas atividades essenciais: engenheiro de méritos indiscutíveis e professor brilhante com destaque para os 25 anos de atividades  na Universidade Mackenzie, onde se formou  em engenharia na década de 40.                                   Na cerimônia  religiosa, ao lado  esposa Judith (quase 60 anos de bodas felizes), das filhas  Eliane e Sheila, além de netos e amigos, Sylvio foi homenageado por um dos rabinos presentes. Ao falar das suas virtudes, fez questão de ressaltar especialmente a retidão de caráter.  Nada mais importante para quem amou a sua condição de mestre, que foi também no Instituto Mauá de Tecnologia, na FAAP e na Politécnica. Era um sábio.                                Com uma particularidade sobre a qual ouvi elogios intensos, em outros tempos, da professora Esther Figueiredo Ferraz, sua amiga, e que foi reitora do Mackenzie e primeira mulher a ser ministra da educação do Brasil: “É incrível a paixão do Sylvio pela geometria descritiva.  Há uma corrente achando que os futuros arquitetos e engenheiros não precisam mais dessa matéria, mas ele defende com unhas e dentes a sua utilização – e eu fico impressionada com os seus argumentos.”                                Sylvio foi muito querido e respeitado pelos seus milhares de alunos.  Suas filha  Eliane e Sheila têm uma explicação: “Além de conhecer profundamente a matéria, foi dono de um bom-humor permanente.  As aulas eram muito agradáveis.”                            Quando ainda no Rio, com toda a família, foi aluno do Colégio Independência, na rua Barão do Bom Retiro, sempre primeiro da turma.  Uma das características marcantes da sua personalidade foi o profundo amor pelos livros.  Era um leitor apaixonado, com  especial predileção pela filosofia da matemática.  A família, que viveu em São Paulo entre 1944 e 1946, voltou para o Rio, mas ele não conseguiu transferência para a Escola Nacional de Engenharia.  Vindo de uma faculdade particular (Mackenzie) era praticamente impossível obter uma vaga na ENE, embora tivesse notas excepcionais.  Éramos desprovidos de pistolões.                             Sylvio nunca perdeu o espírito carioca.  Vinha passar as férias no Rio e escolhia especialmente a época de Carnaval, que adorava.  Morávamos na Tijuca.  Uma das suas grandes alegrias era vestir-se de “sujo”, solitariamente, sair de casa todo disfarçado, pegar o bonde Tijuca (66) e dar uma volta  pela cidade, muitas vezes no estribo, se deliciando com a reação das pessoas.  Depois de casado com a sua amada Judith, procurou novamente a praia e fez de Peruíbe o seu paraíso, para onde  ia nos finais de semana, pouco se importando  com as horas perdidas na  estrada sempre cheia.  Os dias e as horas vividos na cidade paulista  de Peruíbe (onde fez algumas construções) valiam a pena.  Este é o  bom Sylvio que perdemos.  Jamais será esquecido.

  • Adeus, Frei Caneca 511

    Doze segundos.  Não demorou mais do que isso, no dia 10 de novembro de 2012, a implosão do edifício de sete andares em que funcionou o complexo Bloch de empresas gráficas e jornalísticas.  Triste fim de  um incrível império montado especialmente pela competência e intuição do brasileiro nascido na Ucrânia, Adolpho Bloch.                                             Naquele local exerci atividades durante cerca de 15  anos, antes de ir para o monumental prédio da rua do Russell (projeto de Oscar Niemeyer).  Tenho muitas lembranças desse período, a começar pela redação improvisada da Manchete Esportiva, quando trabalhei com a família Rodrigues (Augusto, Paulo e Nelson).  Depois, os dois anos de direção da revista Sétimo Céu, quando criei as primeiras fotonovelas brasileiras e elevei a circulação para perto de 200 mil exemplares.                                             O prédio, que agora virou sete toneladas de entulhos, traz gratas recordações.  Como a entrevista que fiz com o então jovem compositor Tom Jobim, numa sala apertada do segundo  andar.  Houve também as visitas recebidas no sétimo andar, onde os almoços ficaram famosos, a ponto de a empresa passar a ser conhecida como “um grande restaurante que editava revistas.”                                             Para se chegar ao andar das redações ou mesmo ao restaurante, era preciso passar por um amplo galpão em que ficavam as modernas máquinas de offset e a  rotativa Webendorf, que rodava as revistas coloridas, uma novidade para a época.  O primeiro impacto do visitante era com as offsets alemãs, que imprimiam de duas em duas cores, embalagens como as da gillette e as da cachaça praianinha.  Surgia sempre o comentário infalível:  “Como se bebe nessa terra”, pois as tiragens em geral eram de 20 milhões de unidades.                                            Quando chegamos para trabalhar naquelas instalações, no ano de 1955, havia uma inscrição no alto do prédio: “B.Bloch & Irmãos”.  Durou assim muito tempo.  Um dia, numa viagem feita a Buenos Aires, com Albert Sabin,  perguntei ao Adolpho o que isso significava.  Ele desfiou uma enorme mágoa que guardava dos irmãos mais velhos, Bóris e Arnaldo:  “Fizemos a firma, mas eles não confiavam em mim.  Diziam que eu era viciado em cassinos.  Não colocaram o meu nome.  Hoje, mandei trocar tudo porque só Deus sabe o duro que dei para transformar  aquilo numa grande empresa.”  Disse isso, num restaurante de Buenos Aires, com lágrimas que  teimavam em cair dos seus olhos azuis.                                             No Rio, havia o convencimento de que Adolpho era um mago.  Ele fazia o controle de qualidade dos seus produtos pessoalmente.  Puxava uma folha impressa, ao acaso, e descobria defeitos de impressão inadmissíveis.  Dava broncas colossais nos operários, que conheciam a frase do velho, sempre repetida: “Com a qualidade gráfica não se brinca.”                                              Foi lá que nasceu a revista Manchete, em 1952, sob a direção do cronista Henrique Pongetti, sucedido respectivamente por Hélio Fernandes, Otto Lara Rezende, Nahum Sirotsky e Justino Martins.  Até que veio a transferência para o Russell, em 1970, quando então a empresa conheceu os seus dias mais gloriosos.  Frei Caneca nº 511 foi um marco.

  • Os voos de Ari Vidal

    Foi um desses convívios inesquecíveis.  Éramos jovens, pouco mais de 10 anos de idade,  e nossas famílias tiveram a mesma ideia de nos matricular no ginásio do Colégio Vera Cruz, na rua Hadock Lobo, na Tijuca.  Frequentamos as mesmas turmas, a partir da primeira série, e a lembrança dos professores por vezes nos unia, em papos agradáveis.  Lembra do Afro? E do dr. Oswaldo?  (ríamos porque ele era médico e dava excelentes aulas de matemática).  E a d. Maria da Conceição, que lecionava desenho e chamávamos de dona Teteca? Bons tempos, bons tempos.                                               A escola tinha um enorme campo de futebol.  Nossas aulas de educação física eram animadíssimas peladas, apitadas pelo prof. Adair.  Eu jogava no meio do campo, com um fôlego elogiável, e o Ari Ventura Vidal agarrava no gol, alto que era, com uma competência extraordinária para a sua idade.  Tinha  muita elasticidade e seus voos em busca da bola se tornaram célebres.  Acabou ganhando o apelido de “Ari Borboleta”.                                              Anos depois, encontramo-nos novamente, no campeonato carioca de basquetebol (categoria juvenil).  Ele atuando pelo Tijuca T.C., eu defendendo as cores do América F.C.  Houve um fato histórico: o AFC, arrancando recursos não se sabe de onde, resolveu construir o seu ginásio, no espaço paralelo à rua Gonçalves Crespo.  Era o fim da quadra de saibro que dava para a famosa barreira de Campos Sales.  Jogo de estreia: América x Tijuca.  Lá estavam os dois colegas e amigos, um de cada lado.  Lembro que o primeiro arremesso da partia foi feito pelo Ari.  A bola bateu no aro e voltou para as minhas mãos.  Corri para o garrafão adversário e, pressentindo a brecha, entrei por ali e arremessei.  A  bola  bateu na tabela, quicou no  aro, e sobrou para o altão Arnolfo Pimenta de Melo (de uma família de atletas) e ele, com um leve toque, inaugurou o marcador do novo ginásio.  Eu e o Ari, depois comentando, revelamos a nossa frustração pelas chances perdidas.                                            A vida seguiu para cada um de nós e ele se tornou um belíssimo treinador de basquetebol.  Foi medalha de bronze no Mundial de Manila, em 1978, e conquistou o título do Pan, em 1987.  Numa decisão épica, o Brasil venceu os Estados Unidos, em seu território, por 120 a 115, com atuações espetaculares de Marcel e Oscar, que se tornaram, graças à inteligente estratégia de Ari, os reis do garrafão.                                            O meu amigo foi técnico do Tijuca, Flamengo, Vasco, Fluminense, Minas e Cortinthians de Santa Cruz do Sul(RS), pelo qual foi campeão brasileiro de 1994.  Comandou a seleção masculina brasileira em 16 competições, sempre com muita argúcia, duas delas nas olimpíadas de Seul-1988 (5º lugar) e Atlanta 1996 (6º. Lugar).  Também dirigiu a seleção brasileira feminina em 11 partidas, vitorioso em 8 delas.  Com ele, nossos times se tornaram mais agressivos, arriscando  mais as cestas de três pontos.  Teve  no treinador Kanela o seu modelo de técnico.  Tentou fazer um timaço no América, mas não lhe foi dada a devida cobertura.  Morreu aos 77 anos de idade, bem antes do tempo, mas com uma carreira brilhante de jogador e técnico.  Deixa saudade.

  • O pintor de palavras

    Na Maratona Escolar de 2011, promovida pela Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro, com o apoio da Academia Brasileira de Letras, o escolhido para motivar os trabalhos dos alunos do 6º ao 9º  ano foi o escritor gaúcho Erico Veríssimo.  Ao falar  na XV Coordenadoria de  Educação, em Santa Cruz, que abrange 90 mil alunos, abordei aspectos marcantes do autor de “O tempo e o vento”, a começar  pelo saudável hábito de ler com profusão autores nacionais e estrangeiros.  Daí ter se tornado “um pintor de palavras”.                                                Num determinado ponto da sua brilhante carreira, chegou-se a comentar que o seu estilo literário tinha certas semelhanças com a obra de Aldous Huxley, de que tinha sido um leitor voraz.  Nada confirmado, pois Erico era um gaúcho autêntico, totalmente identificado com as coisas da sua terra.  As referências topográficas, de costumes, climáticas e de linguagens surgiam naturalmente, sem qualquer exagero ou falsidade.                                                  Com uma obra de altíssima qualidade, estranha-se que Erico Veríssimo não tenha sido membro da Academia Brasileira de Letras, mas é possível afiançar que  ele jamais desejou essa glória.  Preocupou-se muito mais com a sua obra altamente qualificada, com todos os desdobramentos vitoriosos na televisão e no cinema.  “O tempo e o vento” foi um sucesso na Rede Globo, com Tarcísio Meira (Capitão Rodrigo) e Glória Pires (Ana Terra) nos papéis principais. 

  • Delfim Netto e o acordo

    Tenho pelo ex-ministro Delfim Neto um misto de admiração e simpatia.  Os seus feitos nos três ministérios ocupados (Fazenda, Planejamento e Agricultura) são históricos.  Ele foi também muito amigo de Oscar Bloch Sigelmann,  ex-vice-presidente das Empresas Bloch, razão pela qual era comum estarmos  juntos em solenidades e almoços na sede da revista Manchete.  Isto sem contar os seus tempos de embaixador do Brasil na França.  Lembro de uma visita que lhe fiz, em Paris, quando conversamos longamente sobre a situação do país e, naquele momento, as repercussões do chamado voto antissionista na ONU.                                          Sou leitor fanático dos artigos do professor Delfim Neto, que honra o corpo docente da Universidade de São Paulo.  Ele escreve em dois jornais que são minha leitura diária: a Folha de São Paulo e o Jornal do Commercio do Rio de Janeiro.  Pois na Folha, no dia 6 de fevereiro, levei um susto com a apreciação que fez sobre as incidências do Acordo Ortográfico de Unificação da Língua Portuguesa.                                         Levemente desinformado, Delfim criticou os objetivos da iniciativa nascida, segundo ele, de “genitores duvidosos e colocados na “roda” em Lisboa, nos idos de 1990.”  Não é bem assim.  O assunto, muito antigo, foi retomado em 90 por dois competentes “genitores”, os filólogos Antonio Houaiss e Malaca Casteleiro, este último em nome da Academia das Ciências de Lisboa.                                          Aí vem uma contradição do articulista: ele afirma peremptoriamente que não tem competência para avaliar se o Acordo é uma necessidade e sugere que “a tarefa deveria ser deixada às respectivas academias de letras.” Pois foi o que aconteceu, em sucessivas reuniões.  O Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, com os seus 360 mil verbetes, é produto desses encontros e foi editado pela Academia Brasileira de Letras, no caso, com a minha estreita colaboração gráfica.                                         Não havia “encenação, nem conversa”, como insinuou o meu estimado amigo.  O então presidente José Sarney aprovou o Acordo, que foi referendado pelo presidente Lula, em agosto de 2008, numa histórica reunião na ABL.  A ideia é de que passasse a funcionar obrigatoriamente a partir de 1º de janeiro de 2013.  Houve uma completa adesão aos seus postulados, em território brasileiro, mas infelizmente o mesmo não ocorreu em Portugal e num  ou  noutro país lusófono.                                          Alguns linguistas brasileiros venderam ao nosso Governo a ideia de que seria melhor adiar o início para 2016, sob o pretexto de “alinhar tudo à comunidade lusófona”.  Não existe a menor garantia de que isso vá ocorrer, apesar da convicção de que se tivéssemos uma só ortografia (e simplificada, como propõe o Acordo) o fato levaria a ONU a reconhecer o português como língua oficial de trabalho, velha reivindicação dos nossos diplomatas.  Portanto, não há “desacordo” que deve ser celebrado, com fez o nosso prezado professor Delfim Netto.  Pela sua reconhecida cultura, estimava-se que ele estivesse de acordo com a decisão das academias concernentes, aliás, como ele próprio propôs no seu artigo.

  • Mais três anos, para nada

    No total das palavras em uso, na língua portuguesa, menos de 3% foram afetadas pela simplificação proposta pelo Acordo Ortográfico.  Um número na verdade insignificante, se considerarmos a globalidade do mundo lusófono.  Escrevendo de uma só forma, mas pronunciando cada um a seu modo, poderemos manter a organicidade do nosso rico idioma, hoje submetido a convulsões.                              A história do Marechal Charles De Gaulle tornou-se clássica.  Num dado momento, lançou a dúvida: “O Brasil é um país sério?” Muitos de nós ficamos chocados.  Isso feriu o orgulho nacional.  Agora, a frase voltou à tona, a propósito da decisão do  Governo  de adiar para 2016 a entrada em vigor do decreto assinado em agosto de 2008, pelo presidente Lula, a propósito do Acordo Ortográfico de Unificação da Língua Portuguesa.  Mais três anos, para nada.                               Houve uma adesão quase unânime do lado brasileiro.  Os nossos irmãos portugueses e algumas nações luso-africanas, como Angola e Moçambique, por interesses variados, resistiram à adoção, que tem por finalidade essencial a simplificação da escrita do nosso idioma.  Nada mais do que isso.  E com um claro objetivo estratégico: postular assim a oficialização do português como língua de trabalho  da ONU, o que eleva o nosso status internacional.                               Também aqui há os recalcitrantes, que só agora se manifestam.  Silenciaram em 1990, quando o Acordo foi assinado, e em 2008, quando se estabeleceu o prazo fatal para a unificação pretendida.  Somos obrigados a ler até alguns absurdos, como o comentário de que isso se fez de forma burocrática, sem audiências públicas, ou por “reformadores de plantão”.  Aqui uma clara agressão à memória de um dos grandes brasileiros que se debruçaram sobre o assunto, como é o caso do acadêmico Antonio Houaiss.  Antes de ser cassado, por motivos políticos, dedicou parte ponderável da sua vida, como filólogo consagrado, à discussão interna e externa dessa problemática.  Só colheu aplausos.                                O Brasil aderiu com entusiasmo ao Acordo.  Livros, jornais e revistas passaram a ser escritos com as novas normas.  Centenas de concursos públicos, como é o caso do Enem (4 milhões de jovens), foram realizados com essa marca, aparentemente irreversível.  São  quase 200 milhões de brasileiros que hoje escrevem de forma simplificada.  Mudar  esse quadro não foi desrespeitoso?                                          Numa prova eloquente da sua modernidade, o nosso País aceitou as recomendações da Academia Brasileira de Letras, no que tange às suas 200 mil escolas.  Mesmo as do interior, como se atesta na Olimpíada de Língua Portuguesa, deixaram para trás os tempos de voo e enjoo com acento circunflexo.  De mais a mais, o que muitos desconhecem, há um decreto presidencial em pleno vigor, datado de 1972, que dá à ABL as prerrogativas de ser a  última palavra em matéria de grafia.  Os  mal informados ou mesmo os ignorantes desconhecem isso e aí só nos resta lamentar esse retrocesso.

  • Qual de nós não deve a vida a uma professora?

    Foi um sucesso o lançamento do livro "Dr. Chagas", editado pelo Consultor, no dia em que o ex-governador estaria completando 99 anos de vida. Iniciativa do ex-deputado Aloysio Teixeira, contou com a presença, no Copacabana Praia Hotel, de mais de 200 ex-colaboradores e simpatizantes do dr. Antônio de Pádua Chagas Freitas, que governou por duas vezes o Rio de Janeiro.

  • Escola renovada

    É sabido que, durante os primeiros séculos de vida, o nosso país tinha características coloniais, impostas pelo domínio de Portugal. A partir de 1808, com a vinda de D. João VI e sua corte, vivemos o princípio da evolução cultural, com obras como a Biblioteca Nacional, o Observatório Nacional, a Academia de Guardas-Marinha e tantas outras instituições que foram fundamentais para o deslanche do nosso desenvolvimento.

  • Arte e cultura em Tiradentes

    Mário Mendonça vive para a pintura há mais de meio século.  Suas obras notáveis, especialmente sob a inspiração de D. Quixote, correm mundo, com um estilo pessoal que valoriza  também a arte sacra.  Adotado pela  cidade  mineira de Tiradentes, nela instalou o incrível Museu Mário Mendonça, com preciosidades em quadros e esculturas de valor internacional.  Isso não exclui paisagens belíssimas, que constam da sua obra, como  as que pintou  na Bulgária.

  • O que o MEC não "encherga"

    Acreditamos piamente que os examinadores do Enem, contratados pelo MEC para a correção das provas de língua portuguesa, saibam como são escritas as palavras "enxergar", "razoável" e trouxe". Se deram 1.000 pontos, para provas consideradas perfeitas, com os candidatos utilizando as formas "enchergar", "rasoavel" e trousse", como comprovou o jornal O Globo, é porque desprezaram a norma padrão ou culta, numa atitude francamente irresponsável. São linguistas da Universidade de Brasília que orientaram esse comportamento, com o beneplácito do Inep.

  • Merval e o mensalão

    Raramente, a Livraria Travessa, no Leblon, terá recebido tamanha plateia, para ouvir uma preleção do jornalista e escritor Merval Pereira, seguida de autógrafos. A fila dava voltas no interior do imenso espaço, prova evidente de dois fatores: a popularidade do autor e o interesse pelo histórico do Mensalão, que ocupou quatro meses e meio de intensas atividades do Supremo Tribunal Federal.                       O livro “Mensalão, o dia a dia do mais importante julgamento da história política do Brasil” tem o prefácio (aliás, muito bem escrito) do ex-ministro Carlos Ayres Britto. São suas palavras: “Não dá para prosseguir na cultura da impunidade, que a tanto se opõe o princípio tão jurídico quanto civilizado de que a lei é para todos; ou seja, princípio de que ninguém, republicanamente ninguém, está acima do bem e do mal.”                     O resultado é que 25 pessoas foram condenadas por ilicitudes de toda espécie – e os pormenores do extenso julgamento foram acompanhados pari-passu por Merval, na sua apreciada coluna diária de O Globo. Os comentários eram tão interessantes que lhes vou contar um “causo”: todas as vezes que Merval comparecia à Academia Brasileira de Letras, ouvia de algum confrade a mesma frase: “Amigo, o artigo de hoje é o melhor de todos.” Foi num crescendo e a opinião pública tomou conhecimento de forma ordenada e crítica de tudo o que se passava nos bastidores e no plenário da nossa Corte Suprema.                          Merval, ele mesmo um multimídia, pois está presente igualmente na Rádio CBN e na televisão Globo News, mostrou corajosamente todas as indecorosas trocas havidas, como a história do jipe entregue a um prócer político por serviços prestados a uma empresa privada ou viagens e operações plásticas trocadas por integrantes do governo por audiências com autoridades. Louve-se o comportamento irrepreensível dos nossos maiores juízes, à frente dos quais o país se curvou, agradecido, no caso exemplar do ministro Joaquim Barbosa. Suas intervenções, sempre muito sérias, foram admiráveis.                          O livro não tem só os artigos do jornal, mas há capítulos inéditos, em que o autor diz, por exemplo, que “o julgamento do caso só aconteceu nove anos depois de os fatos ocorrerem, sete anos depois de denunciados e cinco depois do início do processo. Num país em que, de maneira geral, políticos não vão sequer a tribunal, 38 réus ligados direta ou indiretamente ao governo que está no poder julgados pela última instância do Poder Judiciário é fato que por si só fortalece a democracia brasileira.”                          Nesse livro, editado pela Record, e que caminha célere para a segunda edição, Merval toca seguidamente na Lei da Ficha Limpa, aprovada por pressão direta da sociedade sobre o Congresso, para concluir que “no atual estágio em que nos encontramos, é sintomático que o povo tenha escolhido seu herói entre os ministros do Supremo, enquanto militantes partidários tentam em vão transformar em heróis alguns dos réus condenados.” É uma obra histórica da nossa literatura.

  • A despedida de um grande amigo

    Pede-me o confrade Marcos Vinícius Vilaça que, na sessão de saudade da Academia Brasileira de Letras, em homenagem ao já saudoso escritor João de Scantimburgo, faça suas as minhas palavras.  É o que farei, com a dor de uma ausência muito sentida. Desde que me foi apresentado pelo amigo comum, Austregésilo de Athayde, companheiro das lides jornalísticas, estabeleceu-se entre nós uma clara empatia, reforçada em 1993 pela viagem a Portugal, para o julgamento do Prêmio Camões de Literatura.  Foi conosco outra figura estelar da Casa de Machado de Assis, o jurista e escritor Oscar Dias Correa e assim pudemos compor um trio harmonioso, que fez justiça à nossa querida Rachel de Queiroz.  Foi ela a vencedora do prêmio, com amplos méritos.  Scantimburgo era um homem simples, que vivia para o seu labor, a que acrescentava com muito gosto a elaboração de bem cuidados livros sobre a realidade brasileira.   Nosso último encontro foi numa visita à Academia Paulista de Letras, a que ele emprestava o brilho do seu talento.  Diretor do “Diário do Comércio”, sempre acolheu em suas páginas a colaboração de acadêmicos e amigos queridos, como foi o nosso caso, o que o fez credor de uma gratidão infinita.

  • Mais um remendo na LDB

    A Lei n° 9394 é de 1996. Estabeleceu as diretrizes e bases da educação nacional. Nem chegou a ser completamente aplicada e logo surgiram as chamadas emendas constitucionais, quebrando o pouco de organicidade do instrumento legal. Em menos de 10 anos, o Congresso já havia aprovado 14 modificações na LDB original - e isso continua até hoje, para complicar a vida dos educadores que precisam acompanhar de perto a legislação brasileira.

  • Democracia e comunicação

    A sociedade moderna está enfrentando uma nova realidade comportamental provocada pela evolução da tecnologia e dos meios digitais. Essa realidade é fruto das variáveis decorrentes de novas técnicas que incluem a velocidade de propagação e a quantidade de dados divulgados nos meios digitais, a conduta dos indivíduos em redes sociais, blogs e afins, bem como a facilidade de acesso às notícias e informações de qualidades diversas por meio da internet.

  • Demanda explosiva

    Para o ministro Aloízio Mercadante, que participou do Fórum Permanente de Desenvolvimento Estratégico do Estado, na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, “a demanda nacional por educação é explosiva”.  Ele falou a propósito das comemorações, promovidas pela Associação Brasileira de Educação (ABE), sobre os 80 anos do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova.  Lembrou os 26 educadores que foram pioneiros na defesa de novos tempos para a educação brasileira e aproveitou para reclamar da pouca importância que se tem dado à contribuição de um deles, o acadêmico Fernando de Azevedo, que foi o principal redator do documento: “Sem ele, não  teríamos chegado a esse histórico posicionamento”.                                       Antecedido em sua fala por outros oradores, como os deputados Paulo Melo, Aspásia Camargo e Comte Bitencourt, além do educador João Pessoa, presidente da ABE, todos defendendo a ideia de uma educação de qualidade, o ministro Mercadante enfatizou a necessidade de começar uma grande reforma pela educação infantil: “Temos só 23% das nossas crianças de 0 a 3 anos frequentando creches.  Quero subir esse percentual rapidamente para 50%.”  Depois de registrar que temos 80% de crianças de 4 e 5 anos na escola, fez uma ardorosa defesa a respeito da necessidade de ampliar o número de bibliotecas escolares: “Assim, será mais fácil tornar realidade o sonho de dar a todas as nossas crianças o direito de ler e aprender na idade certa.”  Foi aplaudido demoradamente.                                     O ministro da Educação não se ilude com as dificuldades maiores que enfrenta no país: “É o ensino médio, que exige uma reforma profunda. Conto com parceiros preciosos, como o Senai, que promete 4 milhões de matrículas em seus cursos.  De nossa parte, fazemos o que é possível, mesmo reconhecendo que a grande responsabilidade pelo ensino médio é das Secretarias Estaduais de Educação.                                 Mercadante falou da sua intenção de dar educação de qualidade a todos, mostrou que o ideal seria adotar o tempo integral (mínimo de 7 horas diárias), como preconizado no Manifesto dos Pioneiros, há quase 100 anos, e que ainda não colocamos em prática, e lançou um desafio às nossas autoridades: “Fui defensor do emprego dos royalties do petróleo totalmente em educação.  É um bem finito e se não aproveitarmos essa oportunidade, em nossa geração não haverá outra.   Mas isso é preciso ser bem compreendido e executado pelos governadores, para que não haja desvios, a qualquer pretexto.”                              Houve ainda o ensejo, na Assembleia do Rio, que estava lotada, de uma referência ao projeto “Ciência sem fronteiras”, desenvolvido por Aloízio Mercadante quando se encontrava à frente da pasta de Ciência e Tecnologia:  “Já enviamos 21 mil estudantes ao exterior, utilizando simplesmente o sistema do mérito.  Todos os que fizeram mais de 600 pontos no Enem têm direito a esse programa, amplamente apoiado pela presidente Dilma Rousseff.  Pretendemos chegar em breve ao número de 100 mil estudantes.”  É claro que, no retorno, esses jovens trarão sangue novo ao sistema educacional brasileiro.  Devemos persistir nessas providências.