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A despedida de um grande amigo

 

Pede-me o confrade Marcos Vinícius Vilaça que, na sessão de saudade da Academia Brasileira de Letras, em homenagem ao já saudoso escritor João de Scantimburgo, faça suas as minhas palavras.  É o que farei, com a dor de uma ausência muito sentida.
 
Desde que me foi apresentado pelo amigo comum, Austregésilo de Athayde, companheiro das lides jornalísticas, estabeleceu-se entre nós uma clara empatia, reforçada em 1993 pela viagem a Portugal, para o julgamento do Prêmio Camões de Literatura.  Foi conosco outra figura estelar da Casa de Machado de Assis, o jurista e escritor Oscar Dias Correa e assim pudemos compor um trio harmonioso, que fez justiça à nossa querida Rachel de Queiroz.  Foi ela a vencedora do prêmio, com amplos méritos.
 
Scantimburgo era um homem simples, que vivia para o seu labor, a que acrescentava com muito gosto a elaboração de bem cuidados livros sobre a realidade brasileira.
  
Nosso último encontro foi numa visita à Academia Paulista de Letras, a que ele emprestava o brilho do seu talento.  Diretor do “Diário do Comércio”, sempre acolheu em suas páginas a colaboração de acadêmicos e amigos queridos, como foi o nosso caso, o que o fez credor de uma gratidão infinita.

Conversando em Brasília com Luiz Gonzaga Bertelli, presidente executivo do CIEE/SP, dele ouvi palavras de muito carinho e respeito de Scantimburgo: “Ele era um bom homem, nasceu na minha cidade de Dois Córregos. Tivemos uma amizade muito bonita.” Foi no “Correio de Rio Claro” que ele iniciou a vida jornalística. Quando se mudou para a capital paulista, em 1940, trabalhou sucessivamente na Rádio Bandeirantes, no jornal “O Estado de São Paulo” e no “Diário de São Paulo”. Integrou depois a diretoria dos Diários Associados e se aventurou a editar o “Correio Paulistano”, que infelizmente durou apenas seis anos de vida. Foi uma aventura mal sucedida.  Teve a glória de criar o Prêmio José Ermírio de Moraes.

Em 1960, ele próprio considerava um marco da sua atividade jornalística: integrou a TV Excelsior, da família Simonsen. Chegou ao posto de presidente da emissora. Nunca deixou de estudar, pois achava isso fundamental para qualquer pessoa. Assim, fez mestrado em Economia, doutorado em Filosofia e Ciências Sociais e lecionou, com muito agrado, em duas instituições respeitáveis: a Fundação Armando Álvares Penteado (Faap) e a Universidade Estadual Paulista (Unesp). Era muito querido pelos seus alunos e, para o seu prestígio acadêmico, contribuiu a elaboração de 31 livros, um dos quais, sobre Estudos de Problemas Brasileiros, fez muito sucesso.

Membro da Academia Brasileira de Letras desde 1992, deu o melhor de si para a projeção da Casa de Machado de Assis. Foi notável o seu desempenho na direção da Revista Brasileira, resgatando importantes textos para a utilização sobretudo de jovens estudantes das universidades brasileiras. Foi um acadêmico exemplar, que merece todas as  nossas homenagens.

Folha Dirigida (RJ), 4/4/2013