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Artigos

  • O médico e o monstro

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 03/12/2005

    Poderia parecer uma vingança pessoal e política. Foi mais do que isso. Assisti pela TV aos discursos de Babá e Luciana Genro pouco antes da votação que cassaria o mandato de José Dirceu. No tom de voz de ambos havia, sim, alguma coisa de pessoal, nem mesmo o discurso principal da noite de quarta-feira, que foi o do interessado, teve elementos para transcender o fato político e atingir o território mágico da emoção.

  • Mar - personagem de Sylvio Pinto

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 02/12/2005

    Tema recorrente da pintura universal, o mar tem dois representantes na arte brasileira: José Pancetti e Sylvio Pinto. O primeiro, mais divulgado e enaltecido, prendeu-se ao tema pelo fato de ter sido marinheiro e por se fixar em praias geralmente desertas, captando da paisagem marinha a luz e a solidão. O segundo, mais abrangente e humano, buscou no mar a sua fonte mais funda e complexa. Suas marinhas - que continuam disputadas por museus e colecionadores - nem sempre são parecidas com as de Pancetti. Vez ou outra, os dois (que foram amigos e companheiros) adotam a mesma perspectiva, a mesma luz, o mesmo sentido pictórico.

  • Luzes de dezembro

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 01/12/2005

    Dezembro chegou e, um pouco antes dele, chegou a árvore de Natal daqui da Lagoa. Não tenho certeza, mas acho que é a décima vez que a colocam ali, boiando e iluminando todo o conjunto formado pelas montanhas que circundam aquilo que a geografia escolar nos ensina como uma porção de água cercada de terra por todos os lados.

  • Que gente toda é essa?

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 30/11/2005

    Pesquisa que ainda não foi feita: qual dos dois nomes, atualmente, é mais citado na mídia, Palocci ou Dirceu? Sei que todos temos problemas pessoais, profissionais e existenciais, criar mais um não chega a ser maldade, é um pleonasmo.

  • Quanto custa um preso?

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 29/11/2005

    Li, em algum lugar, que um preso custa ao Estado R$ 1.500, não incluindo no preço da mensalidade os custos anteriores com a polícia, os inquéritos, as perícias, as despesas do Judiciário com promotores, juízos, recursos etc - o que deve dobrar a despesa do erário público para manter o condenado numa penitenciária.

  • Amenilidades e leitores

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 28/11/2005

    Leitores, se os tenho, reclamam aos canais competentes dos assuntos que costumo abordar em minhas crônicas, que não considero colunas, mas crônicas mesmo. O país pegando fogo, escândalos pipocando, ídolos despencando de seus pedestais históricos, tudo isso constitui o pão, pão, queijo, queijo da mídia nos dias de hoje.

  • Autofagia das esquerdas

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 27/11/2005

    Outro dia, comentando a autofagia dos intelectuais, não apenas em momentos de crise, mas sobretudo depois das crises, lembrei a onda que se criou contra Jean-Paul Sartre logo após a libertação da França. A ocupação do país pelos nazistas e o regime colaboracionista de Vichy já haviam feito vítimas na inteligência, mas nada comparável ao morticínio posterior, quando os intelectuais da França Livre comeram-se uns aos outros sob variados pretextos e ressentimentos.

  • Supremo X Congresso

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 26/11/2005

    Sem entrar no mérito da atual briga entre o Supremo Tribunal Federal e o Congresso, a sugestão do senador Jefferson Péres, uma voz que parece clamar no deserto, é a única que poderá eliminar a grave distorção existente entre os três Poderes de um regime democrático.Executivo e Legislativo são eleitos pelo povo, em sua forma direta, embora alguns países democráticos adotem sistemas mistos de votação direta e indireta, esta última feita por colégios eleitorais predeterminados pela Constituição.

  • Perguntas sem respostas

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 25/11/2005

    Mania extravagante do homem, a de se interrogar desde o início dos tempos, fazendo a si mesmo e aos outros perguntas que ele está careca de saber que não tiveram, não têm nem terão resposta: "Quem sou? De onde vim? Onde estou? Para onde irei?". A única vantagem que este conjunto de perguntas trouxe à humanidade foi a existência de filósofos e seu respectivo mercado de trabalho, embora nenhum deles tenha dado qualquer resposta que prestasse.Abro exceção para um poeta, não dos maiores, até que um poeta bem menor mesmo, que era historiador de profissão e, nas horas vagas, fazia versos, quase que de brincadeira. Numa esquecida antologia escolar, li o soneto que infelizmente não guardei inteiro, fiquei apenas com o final - que, geralmente, é mais interessante.

  • Convenção de Genebra

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 24/11/2005

    Cela do Batalhão de Guardas, aqui em São Cristóvão, dezembro de 1968. Joel Silveira e eu estávamos presos havia uma semana e eu começara a sentir uma falta desgraçada, não da liberdade, mas de um pouco de sol nos meus ossos.

  • O doutor mandou

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 23/11/2005

    Lutando contra o tempo, Lula está procurando fazer alguma coisa que reverta a embrulhada em que se meteu. Mau conselheiro, auxiliado por conselheiros piores do que ele, veio agora com essa inacreditável MP do Bem -por extenso: Medida Provisória do Bem. Do jeito que está sendo implementada, reduz as MPs anteriores, das quais tanto e tamanhamente abusou, a "Medidas Provisórias do Mal", o que parece mais próximo da verdade.

  • Regatas

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 22/11/2005

    É aos sábados. Em plena temporada, é também aos domingos e feriados. A Lagoa fica cheia de barquinhos à vela, parecem formiguinhas levando imensas folhas secas para debaixo da terra, fazendo provisão de alimento para o inverno que se aproxima. Ao contrário das formigas, que seguem uma trilha quase militar, os barquinhos se arrumam e de desarrumam com a brisa que sopra ou pela imperícia de seus velejadores. Que é um quadro bonito, é.

  • Pedaços da catedral inacabada

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 21/11/2005

    Não, não se trata daquela catedral em Barcelona, que Gaudí projetou, iniciou as obras e até hoje continua em construção. Visitei-a diversas vezes, impressionaram-me os pedaços estraçalhados que se espalham em seu ventre a céu aberto, ameaçando um templo formidável e complicado.

  • Tempo de arrastões

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 20/11/2005

    O feriado da semana que passou (dia 15) abriu, oficial e praticamente, a temporada de verão aqui no Rio. Muita coisa passa a acontecer, além do sol, do calor e dos arrastões. Vejo, daqui da varanda, do outro lado da Lagoa, armar-se a árvore colorida que iluminará as nossas noites de Natal e Ano Novo. Tudo parece funcionar: o verão, o sol, o calor, os arrastões e a árvore de Natal. Num país e numa cidade em que nada parece funcionar, pelos menos o calendário funciona. Nem tudo está perdido.

  • A redundância do bode

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 19/11/2005

    Outro dia, comentei que gastava duas horas, em média, para ler os jornais e revistas que, por necessidade profissional, sou obrigado a enfrentar. Nos últimos meses, não chego a gastar meia hora: todos se repetem com as mesmas manchetes, as mesmas frases destacadas, os mesmos mentidos e desmentidos. Na quinta-feira passada, contei exatas 53 matérias em quatro jornais que começaram assim: "Palocci diz que...".