Dezembro chegou e, um pouco antes dele, chegou a árvore de Natal daqui da Lagoa. Não tenho certeza, mas acho que é a décima vez que a colocam ali, boiando e iluminando todo o conjunto formado pelas montanhas que circundam aquilo que a geografia escolar nos ensina como uma porção de água cercada de terra por todos os lados.
Ainda não sei se gosto ou se desgosto daquela árvore. Que é bonita, é, mas tem alguma coisa de artificial, incluindo o seu tamanho, alta como um edifício de não sei quantos andares, com dois milhões de lâmpadas coloridas, pesando não sei quantos quilos, ocupando, além da Lagoa propriamente dita, um lugar mais do que merecido no livro dos recordes, o mesmo que registra o tamanho da Muralha da China e o marinheiro australiano que bebeu 18 canecas de chope em 20 segundos.
O benefício visual que ela me traz, igualmente me traz um problema. As pistas que dão acesso ao meu prédio ficam entupidas, os carros passam lentamente, alguns chegam a parar para melhor admirar a árvore. Nesses momentos, xingo-a de todos os palavrões que conheço -e que são muitos e variados. Para uso externo, e para não constranger os circunstantes, o mínimo que digo dela é "monstrengo". A palavra é feia, mas não deixa de ser apropriada à minha cólera, que é efêmera.
Logo me reconcilio com a árvore, quando todos vão embora e ela fica sozinha, piscando, refletida nas águas que nunca ficam escuras de todo porque, lá em cima, também iluminado, mas sem os penduricalhos natalinos, está o Cristo Redentor, também refletido nas mesmas águas. É outro que me parece estar no tal livro de recordes, pelo seu tamanho, pela imensidão daqueles braços abertos, que, desde a minha infância, me abraçam e, segundo minha mãe, me protegem.
Deus é testemunha de que nada tenho contra ou a favor do Palocci e do Dirceu, mas começar dezembro falando neles é dose. Prefiro falar de coisas mais urgentes e iluminadas.
Folha de São Paulo (São Paulo) 01/12/2005