O feriado da semana que passou (dia 15) abriu, oficial e praticamente, a temporada de verão aqui no Rio. Muita coisa passa a acontecer, além do sol, do calor e dos arrastões. Vejo, daqui da varanda, do outro lado da Lagoa, armar-se a árvore colorida que iluminará as nossas noites de Natal e Ano Novo. Tudo parece funcionar: o verão, o sol, o calor, os arrastões e a árvore de Natal. Num país e numa cidade em que nada parece funcionar, pelos menos o calendário funciona. Nem tudo está perdido.
Nada é novidade, nem mesmo o arrastão na política nacional, que ficou velho e, como já acentuei em crônica anterior, dá a impressão de ter o prazo de validade vencido. Que foi um arrastão complicado, foi. Bem verdade que as vítimas foram poucas, muito mais da metade conseguiu salvar-se. Como naquele trecho dos Evangelhos, muitos foram chamados e poucos escolhidos -embora com os pólos trocados: ninguém queria ser chamado e muito menos escolhido.
Deu para o gasto. Ficamos sabendo o que já devíamos estar carecas de saber: enquanto prevaleceram as regras vigentes no processo eleitoral, do presidente da República ao vereador de São José das Três Ilhas, todos pagarão o tributo das doações e faturamentos paralelos. Garanto que não mais haverá caixa dois. Ficou desmoralizada, saiu da linha de produção. O processo será aperfeiçoado, teremos a caixa três, que não será a mesma coisa porque será muito mais, agregando o risco que todos correrão, doadores e doados.
Bem, o verão chegou, o arrastão na política nacional entrará em recesso, substituído pelos arrastões no Arpoador e em Ipanema. Como faço parte dos arrastados, consolo-me em esperar a árvore de Natal ser acesa, com suas luzes refletidas nas águas da Lagoa. Uma pena que nem todos tenham direito à pausa que iluminará minhas noites. Mesmo assim, não me sinto culpado.
Folha de São Paulo (São Paulo) 20/11/2005