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Artigos

  • Fernanda Montenegro, um nome que vem iluminando o Brasil

    Estadão Online, em 05/11/2021

    Há uma frase que tenho repetido como um mantra e que funciona em minha trajetória. A vida lança no espaço vários pontos que parecem desconexos e depois liga um a um. Numa noite de 1958, eu ainda me adaptava a São Paulo e uma jornalista do Última Hora, Yvonne Fellman, me convidou para ir ao TBC assistir à estreia de Pedreira das Almas, de Jorge Andrade.

  • Ele não quis o celular

    O Estado de S. Paulo, em 31/10/2021

    Todos o conhecem pelo apelido, Dono. Quando se pergunta sobre o nome, ele diz que um dia alguém assim o chamou e assim continuou pela vida toda. Deve ter 50 anos. Quando você estende a mão, ele abre um sorriso, feliz por te ver. É cordial, parece que tudo está sempre bem. A menos que uma de suas plantinhas, como ele as chama, da horta da Sueli e do Ivo não esteja se desenvolvendo como ele pretende. Ou como devia. Fica ali um tempão a olhar para ela, tentando descobrir a razão. Pouca água? Ou muita? Agrotóxicos não existem em seu vocabulário. Realmente não foi uma muda bem tirada? Muda boa tem de ser conseguida com jeito e carinho. Dono sabe o temperamento de cada verdura, flor, fruta.

  • Ânsia que refaz e alegra

    O Estado de S. Paulo, em 17/10/2021

    Minha terceira mudança neste jornal. A partir de agora, estarei aqui aos domingos, ao lado de Karnal e Hatoum. Bem acompanhado, dizem no interior. Comecei aos domingos no caderno Cidades, passei para as sextas-feiras no Caderno 2. E finalmente migrei para o Na Quarentena. Mudar faz bem, excita, anima. Você tem de se refazer, reaprender.

  • A tarde em que tudo apagou

    O Estado de S. Paulo, em 08/10/2021

    Para Laine Milan

    Aí, um poder superior (qual?) disse: Haja apagão. E houve. E todos viram que o apagão era ruim. E o poder superior (qual?) dividiu o apagão entre WhatsApp e Facebook. E houve choro, convulsões e desespero. Todos perplexos, atemorizados, sacudiam seus aparelhos inertes. Sempre achamos que uma sacudidela resolve. Teria tudo acabado naquela segunda-feira? Morreu o WhatsApp? Como viver? Suportar? A própria pandemia pareceu uma gripezinha, como dizia o destemperado. As pessoas, estupefatas, murmuravam: isso é impossível. Tão absurdo como acabar com o desmatamento no Amazonas ou o ministro da Educação conseguir somar dois mais dois.

  • Sherazade vence a morte

    O Estado de S. Paulo, em 24/09/2021

    Eu era criança e ficava feliz quando meus pais me levavam à casa de Maria do Carmo Mendonça, parente cujo grau jamais consegui decifrar. A família dela tinha posses, uma casa boa, geladeira. Ter geladeira era indício de bem situado. Nada disso me importava, Maria do Carmo era dona de dois tesouros: a coleção completa da revista Tico-Tico e a coleção completa da Biblioteca Infantil Melhoramentos, mais de cem volumes. Havia um acordo entre ela e meu pai. Ela me emprestava um exemplar por vez da Biblioteca Infantil ou de O Tico-Tico. Cada vez que eu devolvia, ela examinava com lupa se não havia manchas de dedos sujos, nada rasgado, perfeito estado de conservação. Assim, aprendi a cuidar de livros.

  • Ceder a uma tentação?

    O Estado de S. Paulo, em 10/09/2021

    Devo reler ‘A Cidadela’, de A. J. Cronin? Devemos reler os livros que nos encantaram?

    Passei por uma livraria, começo da noite, final de semana, e vi na vitrine um romance que me deixou arrepiado. Há quantos anos, e ponham quantos nisso, eu não via uma nova edição de A Cidadela, de A. J. Cronin? Naquele instante, me veio um turbilhão de imagens. Dei tanta entrevista falando de livros que me foram fundamentais e jamais citei A Cidadela. Injustiça de uma memória falha. E um de meus orgulhos é justamente esta memória acionada por cheiros, imagens, brisas, perfumes, sons. 

  • Se precisar, chame o Afonso Pena

    O Estado de S. Paulo, em 27/08/2021

    Encontrei Afonso Pena tomando suco de mamão com laranja na CPL. Nos encontramos todos ali, aos domingos de manhã. Antes da pandemia éramos oito, a ler jornal, trocar ideias, bem cedinho. Tinha quem emendava para o chopinho antes do almoço em dias quentes. Agora, somos quatro. Gradualmente os pequenos encontros cotidianos começam a ser reativados. Estava feliz, comuniquei: - Finalmente, de sorte, encontrei uma podóloga ótima aqui no bairro. Há tempos precisava dar um tratamento nos pés. A gente muda a vida, fica leve, solto.

  • Indignidade absurda

    O Estado de S. Paulo, em 20/08/2021

    Está havendo um enorme equívoco dos negacionistas e apoiadores do presidente (se é que se pode chamar tal homem de presidente), que vêm usando a morte de Tarcísio Meira na campanha antivacinação. Mais do que equívoco, demonstração de oportunismo, safadeza e mau-caratismo.

  • A Cinemateca que amamos

    O Estado de S. Paulo, em 13/08/2021

    Certo dia, início de 1953, tomei o trem das 6 h 10 em Araraquara (ou seria 6h 05? Os horários eram estranhos, mas respeitadíssimos) rumo a São Paulo. Uma viagem inquieta. Eu não passava de um garoto, crítico de cinema há poucos meses, e tinha horário marcado com a Cinemateca Brasileira, onde conversaria com Paulo Emílio Salles Gomes, Rudá de Andrade e Caio Scheiby. Como me atenderiam? O encontro tinha sido marcado por Carlos Vieira que, na época, era o grande batalhador pela implantação de cineclubes Brasil afora. Com seu sotaque português, Vieira era a vanguarda e sustentáculo no cineclubismo brasileiro. Felipe Macedo, em postagem na internet, assim o definiu: 'Nos anos em que todos se sentiam cinéfilos, Vieira era como que o centro irradiador do intercâmbio que ligava diversos cineclubes extremamente importantes na vida de diversas cidades do interior paulista'.

  • O invencível bate-estacas?

    O Estado de S. Paulo, em 30/07/2021

    Meu pai ao voltar do escritório comunicou: 'Este mês vocês irão comigo para São Paulo'. De tempos em tempos ele participava na capital de uma reunião com chefes de Contadoria das ferrovias brasileiras. O aviso era recebido com alvoroço por mim e meu irmão Luis Gonzaga. Aquela era uma viagem encantada. Só quem nasceu no interior viveu a experiência arrepiante de chegar de trem na Estação da Luz, passando por baixo da rede de fios elétricos de uma super aranha acima de nossas cabeças. Havia a expectativa na capital de outra viagem dentro da viagem. Pegar o bonde Penha-Lapa, ida e volta, o que nos ocupava meia-tarde atravessando a cidade.

  • O que poderia ter sido não existe

    O Estado de S. Paulo, em 16/07/2021

    Ao meio-dia, as classes deixavam o Ieba e corríamos para a esquina da Rua Quatro, ponto estratégico para observarmos a saída das alunas do Colégio Progresso. Havia centenas de jovens, mas cada um estava ali por causa de uma. Meu interesse era Alda, sempre junto à irmã Maria Ernestina, ambas Lupo. 

  • A volta da casa 842

    O Estado de S. Paulo, em 04/06/2021

    Rita Mazzoni, parente minha e neta de Sebastião Bandeira, contou que Mário de Andrade, certa tarde em que esteve em Araraquara, em uma de suas visitas à chácara de Pio Lourenço, desceu a Avenida Guaianases, hoje Djalma Dutra.