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Artigos

  • A outra agenda da educação

    O ministro Tarso Genro supera, na sua pasta, a opção entre achar e fazer. O primeiro ano do Governo Lula mereceu do líder gaúcho uma das reflexões mais agudas do que fosse a saída do idealismo, para entregar-se à exigência da mudança. Deu-nos a busca do que fosse “uma esquerda em processo”, no avanço realista de um projeto de transformação social que demora, parece desgarrar-se mas não se rende. A ambição desses resultados, na área específica da educação, supõe, inclusive, a amplitude polêmica, como a entendeu Cristovam Buarque, como um ingrediente da tomada de consciência que já é parte mesmo de uma ação que persiga a verdadeira diferença no recado do Governo.

  • Uma perversa reforma eleitoral

    A reforma política vem aí no arrasto da dita modernização, ou seja, do que é já possível mudar num consenso adiposo contra as práticas passadas, enfim, ao arcaico, e unanimemente.Mas não se trata do avanço da consciência coletiva, que o peso de uma vitória como a do PT acarretaria na aceleração do novo. Não é sem razão que o relator do projeto, sacramentado por gregos e troianos, seja o deputado Ronaldo Caiado, o mesmo do partido dos ruralistas, que hoje enfeitam a vistosa direita do PFL.

  • Começa o mea culpa no Iraque

    A assunção pelo general Wesley Clark da liderança de uma candidatura democrática à presidência americana em 2004 abre uma nova postura crítica na opinião pública à perspectiva da Star War no Iraque. O militar celebrizou-se pela procura da paz como comandante da Nato na Bósnia e no Kosovo. E protagoniza hoje um papel para a superpotência que se recusa à hegemonia mundial, sem retorno. Clark cresceu nos últimos meses como um comentarista implacável, na CNN, da conduta das forças de Bush, levando ao atual impasse no Iraque e seu vespeiro. A campanha eleitoral começa pelo combate aos estereótipos da extrema direita americana que também ensaiam as suas armas pela pregação do programa por um Estados Unidos sem rival no século.

  • Campus e transformação social

    O ministro Tarso Genro tem, de saída, marcado o seu tônus realista na abordagem das tarefas que elegeu na pasta da Educação. A palavra-chave é foco, a privilegiar as iniciativas que respondem aos temas-chave para julgamento de um governo de mudança. Mais do que isso, o timbre da objetividade do titular é de procurar uma estratégia que, pelos efeitos imediatos, multiplique o horizonte ulterior.

  • Aliança pela latinidade

    Jacques Chirac apoiou a criação do “Fundo Lula”, iniciativa inédita de potência do primeiro mundo, acolhendo a proposta de décadas das periferias. Amadureceu, sobre outras bases, a idéia da taxa Tobin, de extrair percentos da abastança dos ricos em favor da mudança social dos países desmunidos. O alvo é o comércio de armamentos e o presidente francês não deixou dúvida quanto ao impacto da garfada, já que a sua nação é a terceira exportadora mundial deste produto. A atitude marca um novo protagonismo da velha Europa, a partir de Paris. Acompanha o racha começado contra a guerra no Iraque, tornado nítido na Conferência de Evian, no ano passado - onde o presidente Bush compareceu entre duas portas giratórias.

  • Cursos jurídicos e cidadania

    Vem-nos agora, com o interesse, aplauso e espanto em todo o Brasil, a iniciativa da OAB de recomendar, ou não, os atuais cursos jurídicos do País. Trata-se de aplicar o dito selo de qualidade, instalando na área universitária a informação ao consumidor como sugerem os incentivos, urbi et orbe, da produtividade capitalista. Não se trata, pois, de definir aprovados e reprovados, como propagou a mídia, qual passagens para o paraíso ou o inferno das nossas faculdades. O martelo da Ordem privilegiou 69 unidades entre 248 casas de ensino. Mas nada foi dito quanto aos critérios do selo. Que bases, que amostragens, que eixos comparativos usou a Ordem, entre as 248 casas de ensino submetidas ao seu olhar e ao seu cutelo?

  • Lula e a impaciência de salão

    Em todos os dados do pró e contra do ano I do PT avulta um número crucial: a permanência da confiança em Lula, por 69% da população, não obstante o apoio ao governo flutuar em torno de 45%, no seu suporte. O mais estável dos capitais para os meses à frente é o da solidez da espera do país, a ter como artífice a exclusivíssima figura do presidente. Árbitro da esperança do outro Brasil, pela primeira vez trazido à crença na viabilidade da mudança. Não é nos “sem terra”, ou nas populações marginais, que se vê a rebeldia às promessas do PT. Mas nos donos do poder e sua impaciência de salão.

  • Verão de remarcações políticas

    A vinda do PMDB ao poder define uma ambiciosa estratégia do Governo para assegurar uma vantagem qualitativa na conquista do Brasil das prefeituras. Permanece hoje um condomínio de base - naquele país profundo - entre o PFL e o PMDB. Neste verão o PT quer remarcar estes preços políticos. O poder municipal em 80% do seu conjunto na verdade se divide entre os chamados partidaços, sucessores tradicionais da Arena e do MDB, tal como estes são herdeiros do PSD e da UDN, do primeiro retorno à democracia no pós Estado Novo.

  • A onda petista e a impaciência disciplinada

    A superlegitimidade da eleição de 27 de outubro acelerou de imediato a expectativa nacional pela guinada de poder. Define também uma pauta inescapável para a tentativa de pôr-se à obra uma sociedade em mudança. Descarta-se, por aí mesmo, toda a viabilidade de uma ação de ruptura, tangida pela impaciência acumulada numa "esquerda da esquerda", ou na dita explosão da "forra da esperança". Fora do sistema, a marginalidade foi à mobilização continuada no pressionar o regime visto como barreira ao acesso do outro Brasil.

  • O inevitável bom senso cívico

    Não tivemos, desde a "cristianização" do candidato governamental contra Vargas, eleição mais rebelde aos donos do poder e ao Brasil de todo o sempre, que a do próximo 6 de outubro. Domina a cena a proeza decisiva do primeiro partido moderno do País, ensejando ao PT a vitória com o sucesso pertinaz, de disciplina, consulta às bases e, sobretudo, capacidade de aglutinação de Lula. O que mais ressalta é o profundo amadurecimento, mais que do candidato, da própria consciência política brasileira. Alastrou-se, nesses dias sísmicos do País diante da telinha e do noticiário jornalístico, derrubando, de vez, o comício das turbas despejadas dos ônibus-monstro e dos candidatos-pretexto, para o sucesso das duplas sertanejas.

  • O diplomata e o presidente

    É o próprio presidente Fernando Henrique, de longe o mais preparado dos nossos governantes, trunfo internacional reconhecido da nossa ciência social, que derruba toda pretensão de que se deva exigir diploma superior para chegar ao Planalto. A frase veio peremptória, deitando água fria na ofensiva da propaganda tucana, fiel ao exemplo que FH quer dar ao país, de uma transição absolutamente democrática e que remate o seu papel no avanço das instituições brasileiras.

  • O inimigo, o outro e o terrorista

    A segunda conferência "Latinidade e Herança Islâmica", organizada pela Academia da Latinidade e pela Universidade Candido Mendes, que vem de findar, no Rio de Janeiro, representou, na avaliação das organizações internacionais, o encontro de maior densidade, quanto à presença de scholars iranianos, no Ocidente. Contamos com especialistas em ciência política e relações internacionais das Universidades de Teerã, Behasti ou Azad, ao lado de peritos em línguas latinas, interessados em expandir, no país oriental, o conhecimento, especialmente, do espanhol.

  • A latinidade aberta ao Islão

    A Universidade Candido Mendes realiza, nesses dias, o II Encontro Internacional, dedicado ao estudo da Herança Islâmica, nesta faixa do mundo ocidental, a Latinidade diretamente ligada à influência do Mediterrâneo. Na França, Espanha, Itália, România, até todo este conjunto da nossa América, onde, dentro de mais dez anos, seremos cerca de meio bilhão de herdeiros, no Ocidente, da cultura que hoje se vê como o lado humano da globalização.

  • O denuncismo pego pela goela

    Presidente do Senior Board do Conselho Internacional de Ciências Sociais - Unesco, Membro da Academia Brasileira de Letras e da Comissão de Justiça e Paz O período eleitoral de 2002, talvez pelo peso das novas opções abertas ao país, marca-se por uma presença nova do Judiciário no balizar um esforço de modernização do processo político brasileiro. Vimo-lo, na decisão crucial da verticalização, ao evitarem-se as coligações da bacia das almas, e responder-se a uma visão nacional dos partidos, na coerência do que proponham aos eleitores. O vai e vem e das reorganizações de chapas dos últimos dias mostra o repto que o chamado Acórdão Jobim impôs aos velhos arreglos, todos apoiados nas políticas de clã, e no voto familístico, que continua a rachar o núcleo da política municipal brasileira. O retalho de cada facção local emenda-se num aprumo único, ou se anula numa soma algébrica contraditória.

  • O risco Brasil e a parábola Argentina

    Todo o fantasma de especulação descido sobre o perigo de um ganho das oposições, a partir dos pregoeiros internacionais, conturba as opções de fundo, pedidas pela eleição, forçando-nos a um clima de salvação pública, e à troca de continuidade do que aí está pelo seu estrito e crasso continuísmo. É contra tal regressão que se insurge o próprio discurso, finalmente instituído, da candidatura Serra, no sufrágio explícito, e no contorno que lhe deu a palavra de FHC. Perdemos a nossa visão nacional no peso e nos jogos efetivos da globalização.