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Artigos

  • Contra o autoritarismo

    No impressionante filme A Onda (Die Welle), um professor de Ensino Médio propõe-se a explicar a seus alunos o surgimento do totalitarismo, e o faz mediante uma espécie de dramatização, que escapa a seu controle e acaba tornando-se real. Surge entre os jovens um movimento chamado A Onda, que, com seus códigos e rituais, evoluirá com crescente violência até o trágico final. A história baseia-se em fato acontecido em 1976 numa escola da Califórnia, e lembra dois famosos experimentos. O primeiro, conduzido pelo psicólogo da Yale University, http://en.wikipedia.org/wiki/Yale_University Stanley Milgram, teve início em 1961, logo depois do julgamento do criminoso de guerra nazista Adolf Eichmann. Em sua defesa, Eichmann insistia em dizer que estava apenas “cumprindo as ordens”, o que levou Hannah Arendt a falar na “banalidade do mal”. Milgram se propôs a averiguar uma questão crucial: até onde uma pessoa vai quando cumpre ordens? Para tanto, contratou pessoas que, mediante um gerador elétrico, deveriam dar choques de crescente intensidade num “cobaio” humano. Na realidade, o gerador não dava choque algum; o “cobaio”, vivido por um ator, simulava ser a vítima dos supostos choques gritando de dor. Apesar disso, o condutor do experimento mandava que as pessoas continuassem acionando o aparelho e aí as respostas variaram. Alguns desistiam, inclusive abrindo mão do pagamento, mas 26 dos 40 participantes chegaram ao “limite” de 450 volts, mostrando que realmente a disposição de cumprir ordens ultrapassava o senso de compaixão.

  • Melhor juntos do que separados

    Demência é um termo amplo que designa várias doenças afetando principalmente pessoas idosas, e manifestando-se por vários problemas, sobretudo a perda da memória e distúrbios de conduta. Em geral pensa-se logo na doença descrita pelo médico alemão Alois Alzheimer em 1906, e que é muito frequente (cerca de 30 milhões de pessoas no mundo), mas há outras formas de demência, por exemplo aquelas que resultam de problemas circulatórios no cérebro.

  • A vida nos hotéis

    Viajar não é apenas conhecer novos lugares, conhecer novas pessoas. Viajar significa mudar, ainda que transitoriamente, o estilo de vida. De repente, já não estamos mais em nossas casas, no cenário que nos é familiar. De repente estamos num lugar que, pretendendo ser como as nossas casas, ou até melhor que as nossas casas, acaba nos dando uma sensação de estranhamento. Estou falando, claro, no hotel.

  • Celebrando em Chicago

    Eu estava em Chicago exatamente no dia em que a cidade perdeu para o Rio a disputa para sediar a Olimpíada. Minha viagem nada tinha a ver com essa amável briga; fui lá para duas conferências promovidas pelo consulado brasileiro (cujo titular, o embaixador João Almino, é excelente escritor) em conjunto com a Universidade de Chicago e com o Instituto Cervantes. Conferências e encontros à parte (foi uma satisfação rever meu colega Nelson Kanter, que é lá médico bem-sucedido), pude acompanhar a torcida dos brasileiros, que já são 20 mil na cidade, e a decepção, dos “chicagoans”. A verdade, porém, é que eles não têm do que reclamar. Mesmo com a atual crise, Chicago continua sendo uma cidade rica, um dinâmico polo industrial, financeiro – e cultural. O Instituto de Arte de Chicago tem um dos maiores acervos do mundo, e está localizado num prédio belíssimo. Aliás, Chicago é famosa por sua arquitetura arrojada e inovadora, e um dos tours mais interessantes é feito de barco, no Rio Chicago, com uma guia falando sobre os gigantescos prédios que a gente avista no trajeto e que evocam arquitetos como Frank Lloyd Wright e Mies van der Rohe.

  • O siri higiênico

    A proprietária e o gerente de um restaurante foram detidos após uma inspeção da 1ª Delegacia de Saúde Pública do Departamento de Polícia e Proteção a Cidadania. Segundo a polícia, o estabelecimento funcionava em condições precárias. A polícia foi até o local após receber uma denúncia anônima. No restaurante, policiais encontraram um siri vivo no banheiro.

  • A imagem do médico

    Este 18 de outubro, Dia do Médico, permite que se faça uma reflexão acerca da imagem do médico para o público em geral. Afinal, a data homenageia uma figura que, aparentemente, goza do respeito e da admiração do público. Mas será que sempre foi assim? E será que continua sendo assim? A resposta mais provavelmente é negativa, mesmo porque os médicos nem sempre ocuparam esse lugar destacado. No Antigo Testamento médicos aparecem raramente. No melancólico Jeremias há uma metafórica, e desanimada, alusão aos médicos. E o rei Asa, portador de uma séria enfermidade dos pés, morre por ter consultado médicos ao invés de recorrer ao Senhor. Na Roma antiga os médicos frequentemente eram escravos. Molière, em suas peças, vê os doutores como charlatães enganadores, e também assim Bernard Shaw em O Dilema do Médico. Em O Alienista Machado de Assis vai ainda mais longe, descrevendo um médico que é um tirano alucinado.

  • A tênue fronteira

    No começo da minha trajetória como médico, vi muitas pessoas morrerem. Houve um óbito que me impressionou particularmente; ocorreu com uma mulher que estava em insuficiência renal avançada, já agônica. Eu permanecia ali, junto ao leito, observando-a - já não havia mais nada a fazer - quando, de repente, ela empalideceu, soltou um fundo suspiro, e pronto, no instante seguinte, estava imóvel, morta. Naquela fração de segundo tinha atravessado a sempre tênue fronteira que separa a vida da morte. Já não estava entre nós.

  • Vai para a Feira do Livro

    Eu ia subindo a Protásio – um trajeto habitual em minhas caminhadas de fim de semana –, quando avistei um lotação Chácara das Pedras que vinha descendo a avenida. Trazia, no para-brisa, um pequeno cartaz que me chamou a atenção: “Vai para a Feira do Livro”. Era óbvia a razão da informação: certamente em muitas paradas pessoas haviam perguntado ao motorista: “Vai para a Feira do Livro?”. Uma indagação a que o cartaz respondia antecipadamente.

  • A irmandade da leitura

    Numa época, era costume, entre alguns grupos de jovens, andar com um livro sob o braço. Era o que se chamava ironicamente de cultura de sovaco, e tinha uma dupla finalidade: ter sempre algo disponível para ler na fila do banco, ou na parada do ônibus, ou na lanchonete. Servia também para identificar o portador do livro como membro de uma irmandade: a irmandade da leitura, formada por aquelas pessoas que veem no texto uma privilegiada porta de acesso ao mundo em que vivemos. E que são ajudadas por esta peculiaridade da anatomia humana, que é a conformação da axila. O sovaco não é bem algo do qual possamos nos orgulhar; jamais alguém dirá de um homem algo como: Que belo sovaco ele tem!. Ao contrário, a axila é a principal fonte do CC, o Cheiro de Corpo, que faz a alegria da poderosa indústria do desodorante. Mas, humilde como é, o sovaco revelou-se, para a literatura, um abrigo ideal. A tarefa de levar o livro fica consideravelmente simplificada, porque as mãos ficam livres. Além disso, o sovaco fica perto da intimidade do corpo, do coração que bate mais forte com as emoções da leitura, dos pulmões, que nos lembram a inspiração, literária, inclusive.

  • Estranhas histórias de hospital

    Confirmada, a história da técnica de enfermagem que, no Hospital Universitário da Ulbra, aplicou poderosos sedativos em bebês se constituirá num dos episódios mais estranhos da história da medicina gaúcha. E, ao mesmo tempo, encerra algumas lições sobre as quais é preciso meditar. Na versão inicial, depois desmentida, Vanessa Pedroso disse que injetava morfina e diazepam, este um forte tranquilizante, para induzir nas crianças parada respiratória. A seguir, a própria Vanessa fazia os procedimentos de reanimação. Seu objetivo, portanto, era aparecer na história como a heroína, a salvadora dos bebês. Um plano que obviamente só poderia ter nascido de uma mente enferma, e de fato, no primeiro depoimento, Vanessa admitiu problemas mentais e emocionais, entre eles a frustração por não ser médica.

  • Libertando-se do fumo

    A importante Pesquisa Especial sobre Tabagismo, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística em parceria com o Instituto Nacional do Câncer, do Ministério da Saúde, e divulgada no último fim de semana, apresenta dados surpreendentes sobre o hábito de fumar no Brasil. Para começar, uma notícia não muito boa: o Rio Grande do Sul é o segundo estado em que mais se fuma, e as gaúchas são as brasileiras que mais fazem uso do cigarro: 17,2% delas fumam diariamente (pô, gurias, vocês bem que podiam arranjar um jeito mais sadio de autoafirmação, não é mesmo?). Baseados nos dados da ampla amostra, conclui-se que fumam 24,6 milhões de brasileiros, ou seja, 17,2% da população com 15 anos mais. A boa notícia: um número maior que este, 26 milhões de pessoas, deixaram de fumar. Temos mais ex-fumantes do que fumantes, mostrando que o Brasil de fato aprendeu a lição: o tabaco é um desastre para a saúde.

  • A agulha como símbolo

    Como o Sant’Ana tem comentado, o ano está terminando sob o signo dessa estranha e perturbadora história das agulhas. Primeiro foi o menino da Bahia, e depois o menino do Maranhão, e mais adiante uma gaúcha de 42 anos que tem 12 agulhas no corpo, resultado da brutalidade de um ex-companheiro. Mais: quando se entra em sites médicos, verifica-se que casos semelhantes não são raros. Encontramos o relato de uma mulher chinesa em cujo corpo foram descobertas – por acaso, durante um exame radiológico – várias agulhas. Resultado, supõe-se, da frustração dos avós com o nascimento da menina: na China, como se sabe, casais podem, em geral, ter um filho só, e torcem para que seja do sexo masculino. No Hospital Geral de Teerã, foi recentemente operada uma mulher de 36 anos que tinha uma agulha no coração; de novo, resultado de violência marital. Os autores deste último artigo encontraram na literatura quase 200 casos de lesões cardíacas causadas por agulhas; e isto, obviamente, é apenas o topo do iceberg.

  • Os jovens e seu estilo de vida

    O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) tem feito um trabalho notável na investigação das condições de vida e de saúde de nossa população. Exemplo disso é a Pesquisa Nacional de Saúde Escolar, realizada em colaboração com o Ministério da Saúde. Foram entrevistados cerca de 60 mil jovens matriculados no último ano do Ensino Fundamental, com idade entre 13 e 15 anos.