O ar que respiramos
Quando o ódio e a violência falam mais alto que o argumento, a defesa da democracia se torna imperativa.
Quando o ódio e a violência falam mais alto que o argumento, a defesa da democracia se torna imperativa.
A construção de uma nação é uma tarefa de séculos, sua ruína pode ser precipitada por uma irreparável sucessão de desastres. Um país destroçado, tanta violência no ar, o medo ditando gestos, o ódio na ponta da língua, afiado como a loucura na ponta da faca.
Pasmem! Em 2018 ainda há quem repita que as mulheres votam com os maridos! Que maridos? Nos 40% dos lares brasileiros chefiados por mulheres, eles são raros e intermitentes. E quem disse que é preciso não ter marido para pensar com a própria cabeça?
Durante 15 dias, entrelaçadas em tempo real, uma festa e uma tragédia se desenrolaram diante de bilhões de pessoas eletrizadas por emoções opostas: a festa da Copa do Mundo na Rússia e o drama dos meninos na Tailândia. Um inesperado reencontro da Humanidade consigo mesma.
O ódio e o medo são as mais sombrias emoções humanas. Quando a mentira as alimenta e elas passam a ditar opiniões e comportamentos a democracia se torna vulnerável. É o que está ocorrendo no Brasil a quatro meses das eleições presidenciais.
Caiu-me nas mãos um livro fascinante, “Factfulness”. O autor, Hans Rosling, é um médico sueco cofundador do Médicos Sem Fronteiras. Um retrato surpreendente do mundo em que vivemos, segundo Bill Gates, que vem usando sua fortuna no enfrentamento de problemas globais.
É como se após uma sufocação, voltássemos a respirar ar fresco. Vínhamos há muito tempo condenados a uma polarização alimentada pelo ódio e pelo medo, sentimentos corrosivos, que dividem pessoas e sociedades.
A campanha de difamação contra a vereadora Marielle Franco, que, como um vírus letal, invadiu a internet, além de sórdida, é assustadora. Um novo protagonista se insinuou no tumultuado cenário politico: a notícia falsa. A covardia dos que agem nas sombras aproxima os tiros que a mataram da campanha lançada nas redes para desacreditá-la, assim como as causas que ela defendia.
A intervenção das Forcas Armadas na segurança do Rio, bem ou mal recebida, é um fato consumado.
A desqualificação do protesto global das mulheres é a tentativa agônica de salvar o espirito do século passado.
Já vivemos dias piores, anos de chumbo e sombra. De lá para cá refundamos a democracia, diminuímos as desigualdades.
Ninguém as obrigará contra a sua vontade a morrer ou a carregar para sempre a sequela da mais brutal agressão sexual.
O assédio e a violência sexual ainda são absolvidos pela cultura, mesmo quando proibidos pela lei.
População exasperada é a única explicação para o apoio suicida que ela vem exprimindo a uma possível intervenção militar.
O risco que corre o povo brasileiro é desacreditar de suas esperanças e cair nos braços de outro aventureiro ou psicopata.