A construção de uma nação é uma tarefa de séculos, sua ruína pode ser precipitada por uma irreparável sucessão de desastres. Um país destroçado, tanta violência no ar, o medo ditando gestos, o ódio na ponta da língua, afiado como a loucura na ponta da faca. Falsos profetas vendem felicidade a preço de voto.
A radicalização entre extremos vem sendo alimentada por aqueles a quem ela interessa. Bolsonaro e o PT alimentam-se um do outro, sacudindo a bandeira do medo, o pior dos conselheiros. Ambos se querem como adversários no segundo turno. Em proveito próprio, reduzem ao “nós contra eles” a complexidade de um país diverso, de uma sociedade perplexa e assustada.
Essa falsa polarização deforma a imagem do Brasil como um espelho de circo. Anula a metade dos eleitores que recusa esses extremos e matiza seu voto nos tons da diversidade de opiniões, do pensamento sem cabresto. Será um trágico mal-entendido se, por um jogo de circunstâncias — uma fragmentação de candidaturas similar à que elegeu Crivella prefeito do Rio — um ou outro extremo sair vencedor, deixando atrás de si mágoas e juras de vingança do derrotado que se arrastarão pelos anos vindouros. E, frustrada e excluída, a metade dos eleitores que se recusam a participar dessa guerra de facções.
O enfrentamento dos problemas que nos assombram caberá a quem souber somar os honestos e competentes, e esses, sim, saberão se multiplicar. Não subtraindo nem dividindo. Falando de paz e não de guerra, de futuro, não de regressão.
É preciso que a razão prevaleça sobre o fanatismo. Uma nação não é um aglomerado de pessoas. É uma comunidade de destino que, quando lastreada na liberdade, não pode eleger o ódio e a intolerância como regra de convivência.
Nesta eleição a sorte do Brasil se joga no primeiro turno. É preciso fortalecer uma opção aos extremos que, no segundo turno, torne possível a derrota de salvadores da pátria que não servem senão a si mesmos e de justiceiros que serão sempre os piores semeadores de injustiças.