Educação linguística às avessas
Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), em 16/02/2005
Não sei se o prezado leitor acompanhou recente noticiário televisivo pelo qual se anunciava que autoridades de ensino de determinada região dos Estados Unidos, tendo chegado à conclusão de que a deficiência escolar patente nos alunos negros se devia à sua insuficiência de conhecimento do inglês standard - tanto na gramática quanto no léxico -, resolveram ensinar e admitir nas escolas a modalidade de inglês que acredito seja o que lá se conhece, entre especialistas, por black english vernacular. Digo acredito, porque essas notícias culturais passam diante do telespectador como gato por brasas; dá-se preferência a assuntos gerais da política, dos esportes e da vida em sociedade, principalmente fofocas e escândalos do grand monde. Mas o noticiário registrou também o repúdio das pessoas entrevistadas sobre o que pensavam da medida; e a reação maior, com muita justiça, partiu dos pretos, alegando que eram pessoas normais, que queriam aprender o inglês padrão e que tinham os dotes intelectuais e culturais para consegui-lo, do que, aliás, dão prova vários segmentos da sociedade norte-americana, em todos os ramos das artes, das ciências e dos esportes.