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Artigos

  • Bobo sabe, o intelectual cala

    Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), em 22/10/2005

    Há mais de ano, Adauto Novaes programou, no debate que ora explodiu, a temática sobre o silêncio do intelectual. A perspectiva era ainda, no momento de primeira estabilidade petista, perguntar se, diante de uma possível mudança de estrutura da vida nacional, do papel do pensador no seu seio, estaríamos saindo, de vez, e do papel do acadêmico como ''sorriso da sociedade'', ou de seu demolidor ferrenho, na proto utopia de esquerdas ainda jejunas do poder?

  • Todos fora, todos dentro

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), em 21/10/2005

    Frente à abertura do palco das novas eleições, a instância das CPIs, muito mais que um gatilho para apoio de forças eleitorais, transformou-se num impromptu de perplexidades gerais. Seu único enredo possível é o do exit rápido do imbróglio nacional, em vez de pódio para heróis, interditos e promoções, trazidos ao proscênio da campanha por sobre a pobreza dos resultados efetivos do que se poderá definir como a pior legislatura do último meio século.

  • Do velho PT ao neolulismo

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 19/10/2005

    As eleições do PT definem o futuro do partido. Parou o faccionalismo. Saíram as estrelas e o próprio Raul Pont reitera que continuará na legenda. É toda uma volta ao bom senso básico de fazer a história e compreender, especialmente por um partido da mudança, o que representam os deveres da vigência. Mencheviques jamais constroem um futuro. E chega a espantar, afinal, o número reduzido de dissidentes que, de fato, se transformaram em refratários em vez de perseguir novos rumos, dentro da continuidade, no dia-a-dia, renunciando às purgas da primeira vociferação.

  • O pior Congresso dos últimos tempos

    O Globo (Rio de Janeiro), em 15/10/2005

    O país acompanhou, voto a voto, até, praticamente, os últimos segundos, a opção entre Aldo e Nonô para a presidência da Câmara. Viveu-se um miniplebiscito, a conservar ainda o governo Lula a plena iniciativa no tempo minguante, para manter a confiança do outro Brasil, que o elegeu em 2002. Ganhou o Planalto as maiorias possíveis, a custo, sem retoques, nem maquiagens, empalmando a contagem que lhe permitisse vencer a oposição e a onda temporã do velhíssimo mar de lama, reacordado pelo fantasma lacerdista. O governo foi ao rolo compressor, contou com os votos do baixo clero e reafirmou as políticas da coalizão e das reformas - nariz apertado ou não - do primeiro biênio petista.

  • A implacável elegância de Sérgio da Costa

    Jornal do Comércio (Rio de Janeiro), em 14/10/2005

    O retrato de Sérgio Corrêa da Costa que fica, logo, na memória é o de capa chibante, de espião em Buenos Aires, na elegância que só tem o diplomata, portando sua inquirição e seu mistério. Deixou o passaporte, e a identidade, para perscrutar do começo da intentona peronista, tão antes da nossa entrada na guerra de 45, e dos cálculos geopolíticos que amarrariam, à época, a Argentina à opção hitlerista. Da aventura nasceu, para publicação meio século após, a Crônica de uma Guerra Secreta.

  • A caminho do pastelão cívico

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), em 07/10/2005

    Acontinuarmos a romaria do anticlímax do mensalão, a Polícia Federal pede mais tempo para chegar a conclusões sobre o toma-lá-dá-cá dos parlamentares denunciados. As CPIs, por seu lado, querem prazos indeterminados, também, para completar as suas investigações. E o ex-deputado Roberto Jefferson insiste na retirada da denúncia contra José Dirceu, estopim da crise. Fique o dito pelo não-dito.

  • O bispo, pena, não é Gandhi

    Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), em 05/10/2005

    Dom Luiz Cappio, o bispo franciscano de Barra, na Bahia, iniciou há oito dias greve de fome para paralisar o projeto de inversão das águas do São Francisco, que ora começa em Cabrobó. Só bebe água do rio, mantém ainda inalteráveis os sinais orgânicos e sentado numa cadeira branca de plástico, abençoa os romeiros chegados ao seu pastor em trinta anos de presença abnegada junto à população ribeirinha.

  • Da corrupção ao caos sistêmicos

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), em 30/09/2005

    O que começou com as acusações do "mensalão", de réplica em réplica transformou-se no processo sem volta do Brasil de sempre e sua injustiça estrutural, acelerado pelo advento do partido diferente e pelas contradições que são ainda a sua paga, no processo de tomada de consciência nacional. Demo-nos conta, em rapidez sem paralelo, dos impasses profundos que acometeriam qualquer chegada ao Planalto de uma proposta de mudança em que fale o "outro país" chegado ao poder. Atingiu-o pelo arranco de um verdadeiro inconsciente coletivo, quando a Nação da marginalidade foi à fundo, como marca única de nossa cultura política, no exercício do voto para a quebra de inércia do sistema e rasgo de outro futuro possível. Poderá o PT soçobrar neste quadro, ou se exasperarem os confrontos entre a esperança em Lula e o que seja, fiel à originalidade matriz. à legenda da disciplina e da caminhada decisiva desta última trintena.

  • Um PT nem cínico nem descrente

    Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), em 21/09/2005

    O opróbrio dos últimos dias com o incidente Severino não leva a tragédia da corrupção apenas à farsa, mas ao grotesco. O sair-se disso tudo está cada vez mais pedindo o desemperro do denuncismo moralista, para definir-se a verdadeira perspectiva da ''ética na política'', que reclama a reemergência do PT no futuro político do país.

  • A crise: do ridículo ao grotesco

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), em 16/09/2005

    As perplexidades da crise chegariam a esta complexidade-limite em que a corrupção sistêmica criou os mais variados cenários para a culpabilização, por que espera o País, mas como já a repartida nacional. O imperativo mais fundo do ir-se adiante estriba-se na lógica dessa expectativa primeira do País que levou Lula ao poder em 2002. E, de outra parte, no já conquistado na consolidação econômico-financeira e da credibilidade ética que lhe veio, inclusive, desta ponta do sistema. O debate aberto de Palocci com a imprensa brasileira trouxe à população o sentimento de confiança básica de Governo. O ministro desarmou as intrigas, expôs-se ao interrogatório mais radical, espancando as indecisões do pronunciamento de Lula, no recado cabal do que queira o PT que reclame o direito de ir adiante na sua promessa. Registrou-se, sim, um clima indiscutível de desafogo, a marcar uma sabedoria básica do partido, a que se associarão inclusive os inconformismos dos velhos donos do País bem e seus pruridos indignados.

  • O Haiti que nos desafia

    Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), em 14/09/2005

    A Academia da Latinidade realiza seu XII Encontro em Port-au-Prince, buscando uma dessas situações-limite dos diálogos pela identidade, no mundo hegemônico. Torna-se cada vez mais urgente pensar-se ainda na diferença dentro do universo de após o 11 de setembro. A ''civilização do medo'' começa pelo corte do globo em inimigo, amigo, eliminando a visão, de fato, da alteridade ou do pluralismo por onde se constrói uma efetiva cultura da paz. Nem há como insistir sobre a própria decadência desta idéia-chave, que parecia comandar o século, como esperaria o mundo de depois da queda do Muro, da extraordinária União Européia, e uma administração internacional para vencer o desequilíbrio de riqueza.

  • Implosão petista e teimosa premiada

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 09/09/2005

    Lula prova toda a força da sua intuição política, fazendo o certo para vencer a crise. No refazer o contato direto com seu eleitorado de base, vai ao provérbio da frase certa, ao abraço e se reforça do tumulto de sempre à sua volta. O fracasso, reconhecido pela Folha de S. Paulo, da manifestação contra o presidente pela Força Sindical tornou também nítido o tira-teima dos prós e contras dos movimentos de massa começados nos últimos dias. Vencendo os contornos chapa-branca, o que apoiou Lula em Brasília deixa intocado o capital de mobilização popular que entra em jogo na superação da crise e no confinamento do escândalo ao Brasil oficial ou ao despeito e ao desencanto dos neolulistas no seu seio, os últimos a referendar a avalanche da chegada do PT ao Planalto.

  • O PT o mesmo e o autêntico

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), em 09/09/2005

    Poucas datas parecem mais críticas para o nosso futuro imediato que o da eleição da nova Presidência do PT. O cenário mais provável, há poucos dias, seria o de uma tripartição entre a persistência do Campo Majoritário, a purga dentro do partido pela iniciativa de Tarso Genro e o possível esfacelamento pelas dissidências, à busca de legendas sucessoras. Mediante a acomodação do Presidente interino a tendência dominante já vai à refundação, sem maior mossa, mantendo na chapa as figuras do situacionismo, a partir de José Dirceu. E como fica, diante do mesmo, a reivindicação pelo autêntico PT - à pique de dispersar-se em multifrações?Neste desenrolar, a atitude padrão parece ser a de Aloísio Mercadante, assumindo francamente o conflito, de par, entretanto, com a caução de permanência, e a expectativa de reassegurar a torna identitária primordial, até a Convenção. Desapareceu a síndrome efetiva, de ruptura imediata, criando-se sim, a partir inclusive das bancadas federais e a afirmação de um estado de rebeldia à disciplina partidária, sem entretanto chegar à desfiliação. Cristovam Buarque epitomizou esta atitude de descarte, como ainda limitada pelo afeto ao partido, fiel à ressonância de sua convocação original.

  • Moralismo e dever petista

    Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), em 07/09/2005

    As reuniões do ''Plantão da Crise'', no centro do Rio de Janeiro, permitem, talvez, um primeiro corte do que seria nossa interrogação diante da crise, com resposta de um público universitário, independentemente dos clichês ou dos fatos consumados que tomam conta da dita opinião pública. Perguntamo-nos em que medida os choques clássicos do moralismo ameaçam a lógica mais profunda da chegada de Lula ao poder. O processo das CPIs pode ter descarrilado e as convenções de sempre talvez não mais regulem, afinal, o seu clímax. De toda forma a dita pressão popular desemperrou os relatores das CPIs, juntando à ida de Jefferson ao patíbulo - e já por unanimidade da Comissão de Ética - os 19 outros possíveis perdedores de mandato.

  • Lula lá, depois do denuncismo

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), em 02/09/2005

    Já sabemos, desta vez, pelos scripts óbvios da irrupção moralista nacional não vamos aos desfechos de sempre. Talvez, de fato, por estar na fogueira, a carne do partido diferente. As cinzas já são outras no combustível das denúncias ao deixa-disso final que sempre convém ao País de sempre. Não está em causa apenas o Brasil dos cartolas, nem a demolição a que possa chegar o denuncismo como paixão em desenfreio sob o álibi moralista. Dos escândalos de libreto conhecido, passa-se por uma vez à interrogação de se o País que, pela primeira vez, foi ao poder com Lula se reconhece numa comoção tradicional do regime estabelecido, seus abusos continuados do poder como cosa nostra, e do remédio das CPIs sazonais para vociferar e esquecer.