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Artigos

  • Bandas de outros tempos

    Folha de São Paulo (RJ), em 24/09/2017

    Eu acho que nem era nascido ainda –nem precisava ser. Até que ouvi no rádio (um Philips de seis válvulas) a música de um Carnaval que devia ser contemporâneo da chegada de Cabral ao Rio. Não sei por que até hoje, fazendo a mala para procurar outro mundo, a letra dizia: "O meu boi morreu/ que será de mim/ mande buscar outro oh morena, lá no Piauí."

  • Chacrinha não morreu

    Folha de São Paulo (RJ), em 17/09/2017

    Paralisado por um acidente doméstico, pela primeira vez acompanhei os ensaios dos artistas que hoje se apresentarão no Rock in Rio. Não precisou que alguém jogasse bacalhau para a plateia de jovens, que estão criando uma nova forma de expressar amor e sentimentos correlatos. Algumas letras são maravilhosas, embora monótonas pelo tema e pelo ritmo repetido à exaustão. A alternativa que me ficou foi acompanhar com má vontade as misérias da Lava Jato. Espero que esta nova geração faça um Brasil melhor.

  • A honra e o crime

    Folha de São Paulo (RJ), em 10/09/2017

    "Somos um povo honrado, governado por ladrões". A frase não é minha, é de Carlos Lacerda, na campanha que terminou com o suicídio de Getulio Vargas. De minha parte, não considero o povo brasileiro tão honrado assim. É um povo bom, capaz de fazer algumas maravilhas, inclusive nas duas pontas da moral política.

  • A verdade das espumas

    Folha de São Paulo (RJ), em 27/08/2017

    Acho que não foi há tanto tempo assim. Cheguei à praia com minhas filhas e encontrei um aglomerado de cidadãos. Eles montavam guarda num pequeno trecho da areia, caras alarmadas, pior: pungidas. Não fui eu quem viu o grupo: foi o grupo que me viu e dois de seus membros vieram em minha direção, delicadamente me afastaram das meninas e comunicaram: -Tire depressa suas filhas daqui!. As palavras foram duras, mas o tom era ameno, cúmplice.

  • A raiz dos ódios

    Folha de São Paulo (RJ), em 20/08/2017

    Segundo os entendidos, são mais de 8.000 anos do predomínio dos homens no planeta Terra. Pelo calendário gregoriano, são 2017 anos que o cristianismo, religião dominante no Ocidente, prega a igualdade entre os seres humanos, condenando a violência, o racismo e a superioridade de uma raça sobre a outra.

  • Elefante epiléptico

    Folha de S. Paulo (RJ), em 13/08/2017

    Não estou me referindo a Donald Trump, apesar de sua mania ao tratar da política externa dos Estados Unidos. O problema dele é que pode afetar o mundo inteiro ao ameaçar uma represália fulminante para a questão da Coreia do Norte.

  • Mal da América Latina é a retórica

    Folha de São Paulo (RJ), em 06/08/2017

    Dois problemas atrapalham os cronistas: muito assunto e nenhum assunto. Este dá mais liberdade, mas nem sempre agrada o leitor. Muito assunto provoca um tipo de concorrência, porque todos falam mais ou menos a mesma coisa. Cabe ao leitor escolher o texto que mais lhe agrada.

  • Brazil über alles

    Folha de São Paulo (RJ), em 30/07/2017

    Já chamaram o dinheiro de "excremento do demônio". O filho de um imperador romano reclamou do pai o imposto criado para o uso dos mictórios e latrinas. O pai respondeu: "pecunia non olet", ou seja, o dinheiro não cheira. Agora em tempos de Lava Jato, surgiu a expressão "dinheiro sujo". No fundo, todos têm razão.

  • Fim de caso

    Folha de São Paulo (RJ), em 23/07/2017

    Agradeço a gentileza de ter devolvido os poemas que mandei para você mostrar a seu amigo. Tenho certeza de que nem ele nem você leram qualquer poema que lhe emprestei para tentar convencer da necessidade do Orlando continuar os poemas dele que você me deu.

  • Canções do exílio

    Folha de São Paulo (RJ), em 16/07/2017

     "Minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá" (Gonçalves Dias). "No Brasil tudo é possível, até o impossível" (Machado de Assis). "No Brasil coqueiro dá coco" (Ary Barroso). "Ah, que saudades que eu tenho da aurora da minha vida" (Casimiro de Abreu). "Antes te houvessem roto na batalha, que servires um povo de mortalha" (Castro Alves). "Quero ser pobre sem deixar Copacabana" (Antonio Maria). "O Rio amanheceu cantando, toda cidade amanheceu em flor" (Braguinha). "O chefe da polícia, pelo telefone mandou me avisar que na Carioca tem uma roleta para se jogar" (Donga). "Copacabana, princesinha do mar, pelas manhãs tu és a vida a cantar" (Tom Jobim).

  • O lobo e o cordeiro

    Folha de São Paulo (RJ), em 09/07/2017

    Muita gente não sabe que a literatura começou com as fábulas. O próprio Cristo usou e até abusou ao transmitir seus ensinamentos por meio de parábolas, que, no fundo, são fábulas com ensinamentos ou advertências morais.

  • Pais e filhos

    Folha de São Paulo (RJ), em 02/07/2017

    Sem entrar no mérito pessoal, político e administrativo, sinto-me obrigado a realçar três personagens que estão na boca das matildes nestes tempos de delações, propinas e acusações, nem todas provadas. São relativamente jovens e têm em comum uma ascendência brilhante.

  • Mais de mil Fouchés no salão

    Folha de São Paulo (RJ), em 25/06/2017

    Pode parecer exagero do cronista, mas diante de tanta confusão e misérias, delações premiadas ou não, ainda nos faz falta um personagem de péssimo caráter, mas com uma inteligência que marcaria a Revolução Francesa com as maiores felonias da política universal, principalmente a da França durante a revolução que, entre outros feitos, levou o rei Luís 16 à guilhotina.

  • Governar o Brasil não é difícil nem impossível: é inútil

    Folha de São Paulo (RJ), em 18/06/2017

    Benito Mussolini terminou seus dias na face da Terra numa posição incômoda: pendurado de cabeça para baixo num gancho de açougue. Um fim de vida coerente com uma de suas frases mais famosas: "Governar a Itália não é difícil, é impossível". Menos trágicos, os presidentes do Brasil, mesmo sem o fim lastimável do ditador italiano, poderiam dizer: "governar o Brasil não é difícil nem impossível: é inútil".

  • Corrupção e ostracismo

    Folha de São Paulo (RJ), em 11/06/2017

    Durante os oito anos do mandato presidencial de Fernando Henrique Cardoso, critiquei-o quase diariamente, chegando ao ponto de me considerarem inimigo pessoal dele. No entanto, votei nele para a Academia Brasileira de Letras e fui compensado com uma brilhante palestra que ele fez sobre Joaquim Nabuco.