Muita gente não sabe que a literatura começou com as fábulas. O próprio Cristo usou e até abusou ao transmitir seus ensinamentos por meio de parábolas, que, no fundo, são fábulas com ensinamentos ou advertências morais.
Antes dele, Homero e Vírgílio, em menor escala, também fizeram o mesmo. Fedro, grego, e, mais tarde, La Fontaine, francês, foram mestres em criar fábulas que ainda hoje pertencem às prateleiras mais nobres da literatura universal.
Uma das mais famosas é a do lobo e o cordeiro. Ambos estavam com sede e foram ao mesmo rio ("Ad rivum eundem"). O lobo estava na parte superior do rio, e o cordeiro, na parte de baixo. Depois de algum tempo, o lobo foi reclamar com o cordeiro que estava sujando a água que bebia.
O cordeiro respondeu que não podia sujar a água que o lobo bebia. Indignado, o lobo retrucou, dizendo que o pai do cordeiro, tempos atrás, havia sujado a água que era dele. Avançou sobre o cordeiro e devorou-o.
Essa fábula está sendo repetida nos dias atuais. Um ministro ou outra autoridade qualquer faz uma visita de pêsames à viúva de um tesoureiro qualquer, que era suspeito de ter roubado o dinheiro da nação. Esse simples fato é uma prova de que o visitante era sócio da viúva, que é preso e obrigado a devolver um dinheiro que não roubou.
Juízes, policiais e a mídia repetem a fábula, tão antiga que se tornou atual. Um funcionário honesto toma um ônibus, onde também viaja um suspeito de ter roubado o erário. É o bastante para ser acusado de ser sócio do ladrão, é condenado e trancafiado na Papuda.
O suspeito alega inocência, mas a polícia e a Justiça descobrem que o pai dele, 20 anos atrás, foi padrinho de batizado do filho de um ladrão verdadeiro. Do mesmo jeito, vai acabar na Papuda.