Eu acho que nem era nascido ainda –nem precisava ser. Até que ouvi no rádio (um Philips de seis válvulas) a música de um Carnaval que devia ser contemporâneo da chegada de Cabral ao Rio. Não sei por que até hoje, fazendo a mala para procurar outro mundo, a letra dizia: "O meu boi morreu/ que será de mim/ mande buscar outro oh morena, lá no Piauí."
Se tivessem me dado a fórmula de Einstein (E=mc²) para entendê-la, seria mais fácil compreender o boi que nunca tive e o Piauí que nem sabia existir. Passa o tempo, morando numa rua nobre da Tijuca, convidaram-me para dar o nome da banda que a turma folgazã pretendia inaugurar num distante Carnaval.
Botaram urnas em várias ruas, e cada morador tinha o direito de batizar a banda que nem sequer existia. Sinceramente, eu só conhecia uma banda, a banda dos Fuzileiros Navais, cujo tocador de fagote era meu vizinho.
No dia da apuração, surgiram vários nomes para a banda que ainda não existia, um deles viera de Niterói e obteve o direito de ir para o segundo turno. O nome era: "Faz Vergonha." Embora sob protestos gerais, fiz parte da comissão julgadora.
Antecipei-me ao Chico Buarque escolhendo como nome da banda "Estava à toa na vida". Pensei que ia ganhar, mas fui superado por um indivíduo que se chamava Jerônimo. Foi dos últimos a votar e não gostou de nenhuma das sugestões apresentadas. Reunidos na praça Saens Pena, os escrutinadores liam em voz alta os nomes sugeridos para a banda.
Ganhou disparado o "Corrimento Vaginal". O pior não foi isso. Atribuíram-me aquela blasfêmia ao Carnaval e às mulheres. Mudei de opinião, escolhi "O Lábaro que Ostentas Estrelado".
Foi a primeira e acho que a única vitória que tive na vida.