Escreveu o grande Poeta Paul Valéry, que “o melhor do novo é que responde um desejo antigo”. Todos criamos numa tradição.
Assim, toda ruptura se estabelece sobre as ruínas do velho, é uma horta nova com o esterco antigo. E dele, hão de nascer flores e hortaliças. Com a chuva a visitar a horta, ou com seu regar diário, laborioso. E é como brota o poema.
A inspiração é o sopro do vento na semente e o cair a semente na terra boa. E deve, às vezes, o poeta, dito agricultor, segurá-la, até que venha.
E só quem planta tem o direito de colher, e apenas aquele que inventa o sonho adquire o direito de conquistá-lo, ao crescer.
É a realidade da poesia que precisa ser posta, depois de o arado sulcar a terra da criação, como se a infância, ali, se misturasse ao virar do solo, ou fosse aluvião inserido na paz do chão.
Mas a poesia no sonho jamais é terminada, como nós que a geramos. Somente nos completamos na Eternidade, com Deus.
E a palavra, que é nutrida, se ergue no texto e o texto toma alento na viração, entre rimas, ritmos e símbolos.
Pois a árvore avulta na horta, com o tronco dos dias e noites.
Nada é sozinho e tudo tem sentido, mesmo que não se veja. Como tudo o que nasce tem destino, ainda que precise da operação do tempo.
A vida é mais forte, a linguagem começa a se exprimir na exuberância, que é beleza, esplendor da forma.
E a horta feliz dos versos emerge sob o sol, a luz e calor na vereda do poema, quando aparece escrito, porque já brilha. Como um puro desejo de liberdade.