Cada vez que sai uma homenagem aos 60 anos de literatura deste vivente, confesso, leitores, que me sinto tão perto do chão, que – e ainda bem – posso ser plantado.
“Do ar não nascem pássaros”, como escrevi num dos poemas de “Sélesis”.
No ar ninguém é plantado. Talvez só os sonhos são plantáveis no vento ou nas estações. Ou as transitórias glórias e soberbas e inverossímeis poses.
Sim, me indagaram, certa vez, onde estava a tal de imortalidade. Fiquei circunspecto. Dei várias respostas.
A primeira que está apenas na palavra viva, que consegue respirar no poema ou na ficção ou no ensaio.
E a imortalidade da palavra é um fato sabido, que faz com que Machado de Assis ou Camões sejam tão contemporâneos.
Outra resposta foi a de ter creditado à Letícia, a Nuvem, essa circunstância, ao me substituir no texto ou a fazer chover na minha solitária horta.
E a terceira resposta, que criou certa expectativa do indagante, que era um elixir composto do chá da Academia, espécie de ingestão sublime, quando do convívio entre os integrantes do sodalício, entre bolos e frutos.
Mas descubro a mais forte absorção de imortalidade, leitores, acreditem, é quando nas manhãs de sol ou chuva, mastigo silentemente o meu pão com linguiça, pimenta, cebola e a clássica mostarda, junto ao delicioso café.
Às vezes cogito que seja essa alimentação substância secreta do húmus da imortalidade.