O grande escritor francês, Paul Valéry, diz que “o poeta é uma natureza que pensa por imagens”. Mas se enganou: as imagens é que pensam o poeta.
Há um mistério na criação, que escapa ao pensamento e vai na onda poderosa da imaginação.
Por isso não é o poeta que determina a sua voz, é a voz que determina o poeta.
E essa voz se mistura ao rio sonoro do ritmo, como a água colhida da fonte no cântaro. O que corre é do espírito.
O verso vem, como se o vento o soprasse e depois se alarga no cardume de peixes do sonho. Ou sonho se derrama na fala, como se empurrasse a língua do vento.
E as imagens pensam o poeta, pelo simples fato de não precisar raciociná-las.
A criação pode ser objeto da razão. E bem mais, pode ser objeto da distante aldeia da infância, ou da infância do mundo, sem repararmos. Porque insiste em renascer em nós.
Por isso, cada dia mais, vem-me a certeza de que o poeta não cria, é criado; não sonha, é sonhado; não imagina, é imaginado.
E se não houvesse algo maior na criação, marcaria só o limite transitório do homem.
Mas o desenho do invisível, pela fé no que se inventa, é mais forte que o desenho do visível ou tangível. E mais copioso.
É por isso que Arthur Rimbaud exclamava: “A verdadeira terra está ausente... sendo lícito possuir a verdade numa alma e num corpo”. Mas não enterramos o devaneio, nem a lembrança. Tudo sobe à tona das marés e toca as estrelas.