O grande Euclides da Cunha, de Os Sertões, adverte que “não é o bárbaro que nos ameaça, é a civilização que nos apavora”.
Porque com o bárbaro nos temos acostumado, contra ele nos movemos, mesmo que se saiba que invadiu tantos espaços da república e porões da história.
É estranho este tempo de máscaras, quando devemos, sob o ataque do vírus, evitar reuniões e nos enclausurar em casa, ao aguardo de que essa escuridão desapareça.
Mas o civilizado, o dito democrático é o chão de onde se espera conhecimento ou sabedoria, ou sensatez e liberdade ou fuga da violência.
Mas não havendo nada disso, nos amedronta e se torna mais do que bárbaro, irrespirável ou indizível. E ainda assim, quem nos sustenta é Deus.
E não se sabe nada do dia seguinte, nem do que se chama o futuro, que, para Paul Valéry, já “não é o mesmo”.
De um lado vemos a politização da vacina, quando não se discute qual seja ela, desde que funcione e seja rápida, sem a burra e trucidante burocracia. Ou o atropelo, falta de ação concreta, ou transparência.
A vacina significa a cura desta Covid, que nos ameaça, necessária, portanto, à saúde pública, não sujeita a interesses de governantes. De outro lado, percebemos o afundar da cultura, com certa mídia que suscita o avanço da imagem e da banalidade sobre a palavra, quase em desterro, fonte eterna de gerações.
De um lado, há governo que libera o imposto de compra de armas, e de outro, leitores, para nosso espanto, cria imposto sobre o livro.
Quando a arma é instrumento de morte, e o livro, instrumento da consciência e do espírito.
Com arroz caro, a carne cara, o dia militar, a saúde militar e vamos almoçar e jantar armas? Há uma rachadura no sistema, entre o que pensa e o que é.
E, leitores, o que é bárbaro é bárbaro, como o espinho é espinho. Mas é esta dita civilização que nos apavora.