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Oliveira Lima

PORTUGUÊS, INDÍGENA E NEGRO

Até meados do século XVIII, a literatura brasileira, isto é, a manifestação dos sentimentos da nação brasileira considerada como um agregado moral, uma família espiritual ligada por tradições e aspirações comuns, não existe. Constitui um mero prolongamento da literatura da metrópole. Afora as tendências gerais que em certos períodos tem arrastado o gosto literário numa determinada direção, por exemplo, o movimento culteranista do século XVII reagindo em todo o Ocidente europeu contra o exagero da imitação clássica, e a renovação romântica do começo do século atual indo beber a inspiração nas fontes medievais; Portugal sobrepunha-se primitivamente à sua colônia com toda a superioridade de um meio educado e culto, pouco próprio a ser comparado com um campo de luta física pela existência, onde aos batalhadores quase se não ofereciam ócios para emoções poéticas nem para especulações filosóficas.

Os aventureiros rixosos e os colonos laboriosos que abordavam à terra de Santa Cruz sob o comando de cavaleiros sem vintém e de abastados fidalgos empenhados com todos os seus cabedais numa problemática empresa de exploração, desembarcavam ávidos, não de errar contemplativamente pelas magníficas florestas virgens em busca de impressões novas, mas de arrecadar com a ganância ditada pelo sangue semítico que lhes borbulhava nas veias, uns saquitéis de ouro, ou pelo menos de pedir à terra feracíssima produtos que os valessem. Na tarefa contínua, tanto de manejarem a picareta e a enxada como de desenferrujarem a espada, mareada na enfadonha travessia, no sangue dos indígenas antropófagos e dos invasores estrangeiros, escasseava certamente o tempo para desfastios intelectuais. Contudo, nesta comunidade de esforços para o embate oferecido às flechas e ciladas dos aborígenes, aos canhões e frotas dos europeus desde Villegaignon até Duguay-Trouin; nesta fraternidade de pensamento de defesa, ia-se formando nos esparsos núcleos de civilização o sentimento nacional, o qual entra a revelar-se com maior clareza na segunda metade do século findo, emprestando desde então à literatura, começada a florescer com mais palpável vigor, o seu ar particularista. Até esse instante as letras brasileiras apresentam com raríssimas exceções, a de Gregório de Matos Guerra, por exemplo, uma imagem pouco brilhante das modificações por que passava na metrópole a corrente das idéias debaixo da ação de influências estrangeiras.

Hoje ainda a grande nação sul-americana conserva no seu organismo político e social a vibração do longo domínio português, não tendo igualmente conseguido distanciar por inteiro a sua literatura, desabrochada com tamanha louçania, da poderosa influência étnica que pesa sobre todas as manifestações de vida do país. Na composição do forte produto mestiço, tipo diferenciado que forma o brasileiro, entra o português como fator preponderante. Evidencia-se fisicamente no predomínio da cor branca e psicologicamente, entre outras expressões, na esplêndida irradiação do lirismo brasileiro, talvez a mais bela prova de emoção da América do Sul, que diretamente se filia no doce e melancólico lirismo português, o qual no século XVI produziu Bernardim Ribeiro e Cristóvão Falcão e recentemente gerou Soares de Passos e João de Deus. De fato os estrangeiros que têm realmente estudado a literatura portuguesa, são concordes em atribuir à sua poesia lírica um cunho de ternura e à pastoril um ar de suavidade superiores às dos outros países do Meio Dia, e especialmente dissemelhantes da pompa e altivez espanholas.

Representando o Brasil histórica e moralmente uma nação, com fronteiras delimitadas na sua maioria, constituição peculiar e tradições locais cimentadas, é justo que a sua vida espiritual tenha deixado de ser uma simples prolação daqueles habitantes da faixa mais ocidental da Europa, que descobriram, conquistaram, dominaram, povoaram ou modelaram tantas regiões desconhecidas. Todavia, muito embora a mudança de meio e o cruzamento de raças diversas já redundassem em diferenças antropológicas, e a mesma língua se haja dialetado por motivos de clima, aproximação de idiomas estranhos, divergência de idéias e sentimentos, e outros, não é por ora completa a emancipação intelectual da antiga colônia portuguesa, posto que presentemente libertada de importadas normas políticas e em caminho de funda, conquanto pacífica, reorganização social. O tipo do brasileiro, tipo distanciado dos seus fatores componentes e em via de realização, diariamente denuncia-se dotado de atividade própria na grande empresa renovadora da sua nacionalidade, que malgrado interrupções momentâneas, alheias à genuína expressão pátria, estabelece-se com simpatia e manter-se-á com vigor. Foi ele que surgiu por entre o fácil esboroamento das velhas formas bastardas do trabalho servil e do império centralizador, transformando os escravos em verdadeiros cidadãos, e firmando a íntima federação das províncias da véspera, ciumentas e divergentes, em um pacto confiado e democrático de Estados autônomos. É ele que há quatro séculos quase funde incessantemente as três raças - branca, cabocla e negra -, retirando do cadinho em que se opera este cruzamento físico, ou pelo menos moral, conforme muito judiciosamente os distingue o Sr. Silvio Romero, a consciência de constituir um produto no seu alvorecer.

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(Aspectos da literatura colonial brasileira, 1896)

 

POLICARPO QUARESMA

O “triste” fim do Major Quaresma, coroando uma triste vida, constitui o entrecho de uma novela à qual a imprensa do país não fez ainda a devida justiça, porventura pela simples razão de ser a imprensa quem menos lê. Já lhe basta, dirá ela, ter que fornecer o que ler. Entretanto nessa imprensa houve, há quinze anos passados, mais de um crítico que saudasse como uma revelação genial a aparição do Canaã. O que dizer então do romance do Senhor Lima Barreto, que lhe é em todos os sentidos cem vezes superior? Querem a prova? Qual dos tipos desenhados pelo Senhor Graça Aranha perdurará na memória mesmo dos intelectuais, como acontece com o Conselheiro Acácio , o João da Ega, o Dâmaso, o poeta Alencar? Em Milkau e em Lentz pretendeu o autor do Canaã simbolizar as tendências opostas da alma alemã, o idealismo e a força, mas representará isso um pensamento original, ou será antes o chavão batido por todo aspirante a observador das psicologias estranhas? O que faz a superioridade olímpica de Goethe, senão a combinação perfeita daqueles dois elementos?

Entretanto o Major Quaresma viverá na tradição, como um Dom Quixote nacional. Ambos são tipos de otimistas incuráveis, porque acreditam que os males sociais e sofrimentos humanos podem ser curados pela mais simples e ao mesmo tempo mais difícil das terapêuticas, que é a aplicação da justiça da qual um e outro se arvoraram paladinos. Um levou sovas por querer proteger os fracos; o outro foi fuzilado por querer na sua bondade salvar inocentes. Visionários ambos: assim tratou o marechal de ferro o seu amigo Quaresma e trataria Dom Quixote, se houvesse lido Cervantes.

O romance do Senhor Lima Barreto, se não alvorotou a imprensa, impressionou fortemente quantos o leram. Não tenho ouvido a tal respeito uma opinião discrepante. É um grande livro, por consenso comum. A única pecha de que o tenho ouvido culpar, não me parece absolutamente justa. Refere-se à linguagem, ou melhor, ao estilo, julgado menos cuidado e por vezes incorreto, por ser a linguagem simples e propositalmente desataviada. Por idêntico motivo era Eça de Queirós no começo tachado de escrever mal. O Senhor Lima Barreto procura felizmente não escrever bonito: antes, mil vezes antes, singelo, familiar mesmo, do que pernóstico.

O fato porém é que o autor conta até felizes achados de expressão, traduzindo felicíssimos conceitos, como, por exemplo, a oradora da delegação patriótica a Floriano; de busto curto, agitando o leque, “sem se poder dizer bem qual sua cor ou sua raça, tantas nela andavam que uma escondia a outra”, desafiando a classificação; ou o Almirante Caldas, que achava difícil manobrar com um navio, mais fácil comandar uma esquadra, porque isso bastava bravura; ou ainda o Tenente Fontes que, quando o Major Quaresma queria regular os tiros cientificamente, pela distância, pela alça, pelo ângulo, exclamava que o seu superior pensava estar num polígono, quando a questão era de “fogo para diante”.

O Senhor Lima Barreto não se dá ao luxo, por vezes espaventoso, de rebuscadas psicologias. Ao leitor deixa ele reconstituir o caráter dos seus personagens: o leitor, porém, o pode fazer sem fadiga, naturalmente, quase instintivamente, com os elementos postos à sua disposição - observações passageiras, fragmentos de diálogos, notações rápidas de sentimentos. De tudo isso se deriva uma psicologia completa, que melhor se grava no nosso espírito do que se fosse feita por meio de sutil e detalhada análise. Alguém comparou um dia um romance de Bourget com um retrato de Velásquez, psicólogos ambos de rara penetração, mas eu sempre prefiro o retrato de Velásquez.

No romance do Senhor Lima Barreto há figuras inolvidáveis, a do protagonista, por exemplo, ou a do trovador Ricardo Coração dos Outros, um visionário, também, poeta do violão. Com nenhum gasta o autor muitas pinceladas: a pintura ressalta da própria ação. Ele reserva o mais das suas tintas para o perfil que se tem querido fazer enigmático de Floriano (enigmático para os que não querem traçá-lo à luz da verdade) e de que ele conseguiu um desenho impressivo. Fisicamente, a figura do ditador “era vulgar e desoladora. O bigode caído, o lábio inferior pendente e mole a que se agarrava um grande ‘mosca’; os traços flácidos e grosseiros; não havia nem o desenho do queixo ou olhar que fosse próprio, que revelasse algum dote superior. Era um olhar mortiço, redondo, pobre de expressões, a não ser de tristeza que não lhe era individual, mas nativa, de raça; e todo ele era gelatinoso - parecia não ter nervos.”

No moral, os traços predominantes eram a probidade pessoal, que no Império era ou tinha de ser um predicado geral; o amor da família, mais forte nas civilizações patriarcais, como era a da sua formação moral; uma indolência orgânica, "preguiça de pensar e de agir, da qual vinha o seu mutismo, os seus misteriosos monossílabos, elevados à altura de ditos sibilinos, as famosas ‘encruzilhadas dos talvezes’, que tanto reagiram sobre a inteligência e imaginação nacionais, mendigas de heróis e grandes homens"; a calma de chinelos e palito na boca que ali se originavam e que era antes “tibieza de ânimo”, responsável pelas condescendências e intimidades que autorizava e que tornaram esse governo um governo de prepotências cometidas pelos irresponsáveis.

Em que se firmava tal governo, se lhe faltava o elemento essencial da fortaleza do “homem”, homem-César? De um concurso de circunstâncias geradores de um "entusiasmo contagioso" por uma figura “plácida e triste”, incapaz de realizar qualquer grande reforma e apenas capaz de exercer uma tirania doméstica. Policarpo Quaresma imaginara nele um Henrique IV desdobrando-se num Sully. A atmosfera exaltada, nativista da época, dera-lhe uns reflexos trágicos de Richelieu embebido na idéia da unidade da França e da supremacia dos interesses do Estado. O “homem” valia menos. Os que tinham vindo a ele, faziam-no “ou com pueris pensamentos políticos ou por interesse: nada de superior os animava. Mesmo entre os moços, que eram muitos, se não havia baixo interesse, existia uma adoração fetíchica pela forma republicana, um exagero das virtudes dela, um pendor para o despotismo, que os seus estudos e meditações não podiam achar justo.”

  A mocidade de hoje pensa diversamente com relação a processos de governo. Há mais ceticismo e também mais tolerância. Eu não penso, felizmente para o Brasil, que fosse ‘hoje” possível renovar aquele período do Boqueirão e do famoso quilômetro. É verdade que temos perto de nós a ilha das Cobras, o Satélite e o Contestado... Mas eu “quero” crer que assim será, que a bondade famosa da alma brasileira se tornará uma realidade, e para isto me fio no que sentem e como sentem os escritores que vão surgindo, a exemplo do Senhor Lima Barreto.

Veja-se como ele descreve o pessoal onde se iam recrutar os fuzilados do Boqueirão: “Brancos, pretos, mulatos, caboclos, gente de todas as cores e de todos os sentimentos, gente que se tinha metido em tal aventura pelo hábito de obedecer, gente inteiramente estranha à questão em debate, gente arrancada à força aos lares ou a calaçaria das ruas, pequeninos, tenros, ou que se haviam alistado na miséria, gente ignara, simples, às vezes cruel e perversa como crianças inconscientes, às vezes boa e dócil como um cordeiro, mas enfim gente sem responsabilidade, sem anseio político, sem vontade própria, simples autômatos nas mãos dos chefes e superiores que a tinham abandonado à mercê do vencedor.”

Este... “O tempo estava de morte, de carnificina; todos tinham sede de matar, para afirmar mais a vitória e senti-la bem na consciência coisa sua, própria e altamente honrosa. Pobre Policarpo Quaresma, preso por haver protestado, no uso de um direito constitucional, contra os horrores da matança a sangue-frio, e levado para a mesma masmorra onde tinham penado, no tempo colonial, alguns formosos espíritos ávidos de independência... Aqueles homens acusados de crime tão nefando em face da legislação da época, tinham levado dois anos a ser julgados; e ele, que não tinha crime algum, nem era ouvido, nem era julgado; seria simplesmente executado!"

Não é um dos menores méritos deste romance o poder ser posto em todas as mãos sem constituir uma ofensa à moral. Nos contos mesmo que lhe servem de apêndice, há reserva, e grande, todas as vezes que se toca a nota sensual e brejeira. Nos tipos femininos, Ismênia e Olga sobretudo, a delicadeza do desenho é notável, lembrando algumas das criações de Machado de Assis. Nada de certas cenas do Canaã, dignas de um gabinete de parteira. Em Policarpo Quaresma predomina o sentimento: banha o livro um sopro de compaixão, uma vibração misteriosa de piedade que resgata qualquer defeito de composição, que ainda possa apresentar essa segunda tentativa, no gênero romance, da mais prometedora vocação da geração nova, espírito no qual se alia ao senso do pitoresco o senso social.

É preciso remontar até O Mulato para se lhe encontrar termo de comparação, talvez mesmo mais longe, às Memórias de um Sargento de Milícias, porque em Aluísio Azevedo era forte a preocupação da escola naturalista e sensível a influência de Zola e de Eça de Queirós, ao passo que o Senhor Lima Barreto, como Manuel de Almeida, se contenta, sem esforços de originalidade, em ser ele próprio.

Rio, novembro de 1916

(Lima Barreto, Obras completas, 1956)

 

PERFIL DE DOM JOÃO VI

Dom João VI não foi o que se pode chamar um grande soberano, de quem seja lícito referir brilhantes proezas militares ou golpes audaciosos de administração: não foi um Frederico II da Prússia nem um Pedro I da Rússia. O que fez, o que conseguiu, e não foi afinal pouco, fê-lo e conseguiu-o, no entanto, pelo exercício combinado de dous predicados que cada um deles denota superioridade: um de caráter, a bondade; o outro de inteligência, o senso prático ou de governo. Foi brando e sagaz, insinuante e precavido, afável e pertinaz.

De sua amablidade contam-se traços de cativar. Quando a Arquiduquesa Leopoldina, após a cerimônia do casamento, chegou a São Cristóvão, que tinha sido preparado para receber os nubentes, encontrou nos seus aposentos particulares o busto do Imperador da Áustria, seu pai, e o Rei fez-lhe entrega, para que lesse e se distraísse, de um livro que, ao abrir e folhear, verificou ela comovida conter os retratos de toda a família ausente. (1)

Para avaliar sua esclarecida equidade, basta referir o que observou o cônsul Henderson: que os ingleses residentes no Rio, quando lhes ocorriam dificuldades sérias com a administração, preferiam muito dirigir-se diretamente ao monarca, sempre disposto a fazer justiça, a entender-se com seus ministros. Frequentes vezes na sua (2) obra, autor britânico elogia a cordura, a benignidade e o liberalismo de Dom João VI, que um escritor dos nossos dias (3) , confundindo a miragem com a perspectiva, intitula com mais espírito do que verdade histórica um “real fantoche”.

Também o ministro americano Sumter dizia gostar incomparavelmente mais de tratar com o Rei, cuja bondade reconhecia e proclamava, do que de tratar com seus conselheiros, sobre quem lançava a culpa de quanto pudesse suceder de mau. “Fala em termos favoráveis do Rei, mas julga péssima a condição da sociedade e altamente desaprova os mil vexames e abusos praticados com o povo em nome do Governo.” (4) Tão longe estava aquele diplomata de considerar o Rei uma nulidade, que nele admitia vontade sincera de cultivar boa inteligência e amizade com os Estados Unidos, reputando-o em tal assunto muito mais adiantado do que os seus cortesãos.

São traços todos esses mais autênticos e fidedignos na sua simpática nobreza de que as anedotas picarescas que valeram a Dom João VI um renome - talvez não usurpado se contido nos limites do desenho e não puxado até a caricatura - de desmazelo bonacheirão e de esperteza saloia, uma auréola barata de bonhomme Richard coroado, uma fama de rei filósofo, que apimentavam suas desventuras conjugais e a que emprestava verossimilhança o seu físico ingrato, homely como bruscamente o qualificou Prior.

Baixo, gordo, sanguíneo, tinha de aristocrático as mãos e pés muito pequenos, mas de vulgar as coxas e pernas muito grossas mesmo em relação à corpulência, e sobretudo um rosto redondo sem majestade nem sequer distinção, no qual avultava o lábio inferior espesso e pendente dos Habsburgos, sem, porém, a maxila protuberante e o queixo pontudo de alguns dos príncipes austríacos, cujos retratos nos foram legados por célebres artistas - que decerto não aninhariam tal propósito maldoso - como exemplares indiscutíveis de degenerescência.

Em Dom João VI as imperfeições de todo ser humano não chegavam para que desmerecessem as sólidas qualidades. Se era tímido, pusilânime mesmo, como tal egoísta, ressentido, ciumento de atenções, amigo de monopolizar as deferências e inimigo de perdoar os agravos menores, também era clemente, misericordioso nas grandes ocasiões quando se fazia apelo direto ao seu coração, arguto em qualquer emergência, raramente ou nunca perdendo o equilíbrio moral, tão generoso para com seus fâmulos e validos quanto econômico consigo, estudioso aferrado dos negócios públicos e governante invariavelmente bem-intencionado. Eram aqueles em suma pequenos defeitos a contrapor a um belo conjunto de virtudes, raro num monarca despótico.

Seu senso político revelou-se em muita ocasião. Um dos mais fracos soberanos da Europa, vimos ter sido o único que escapou às humilhações pessoais por que fez Napoleão passar os representantes do direito divino: os Bourbons da Espanha e da Itália, ludibriados, depostos, vagabundos ou cativos; o Rei da Prússia, expulso dos seus Estados; o César austríaco, compelido a implorar a paz e conceder ao aventureiro corso a mão de sua filha; o próprio Czar, ora tendo que aceitar intimidades em entrevistas memoráveis, ora que rebater a invasão devastando províncias do seu Império.

 

(1) Debret, Voyage Pittoresque, vol. III.

(2) A History of the Brazil.

(3) Paul Groussac, no est. cit. sobre S. Liniers.

(4) Brackenridge, Voyage to South America, performed by order of the American Government in the years 1817 and 1818, in the Frigate Congress, Baltimore, 1819. O Autor ia como secretário dessa missão política ao Rio da Prata, mandada inquirir da situação das Províncias Unidas.

(Dom João VI no Brasil, 1909)