A vida é mais de perdas, do que ganhos. Somem-se os amigos e cuidados no vão dos anos, no vão dos vocábulos e no que nem se sabe.
Somem as conquistas e glórias com a mesma velocidade com que vieram e nada nos pertence. Tudo é de passagem. E quem acha que possui alguma coisa, nem a si mesmo possui, pois um vento, ou tempestade, ou empurrão da sorte, ou vacilo das horas e pronto. Por sermos um sopro. Dele viemos e a Ele vamos. Com o cair das flores e dos rijos troncos de árvores.
Somos muitas vezes julgados sem defesa, derrubados sem causa, porque de existir é a penúria, o relampear das estações na crosta dos frutos que apodrecem.
Nos apegamos e de nada salta a luz e é ela que nos abriga na sombra. A opulência depois reconhece a escassez, a volúpia se ergue pela fereza, os argumentos encobrem a incredulidade e Deus é a única realidade do esfúziante universo.
Carregamos nossa comum humanidade com pês que se vergam e sonhos que se quebram. Um dia conhecemos o amor e nos leva ou arrebata. Mas o que é do tempo, não é da eternidade; o que nasce com a seiva, pode fecundar o subir da semente, mas o infortúnio também nos fecunda.
Resistimos, por não nos rendermos, por não querer deixar a esperança, ainda que venha com atraso na espera.
Lutamos por pessoas e coisas e nada fica de gratidão ou cerne. E como permanecer no que cessa, segurar o que tomba com os trovões e a chuva?
A ciência se fatiga, as teorias esmorecem entre uma razão e outra e a inteligência se mede com o luzir das pedras.
A certeza que se tem e não se ausenta, nem se arma de saudade, é a palavra. Estamos ainda vivos, porque não se gastou em nós. Não se gastará pelo solo de fé, continuará no visível, por se nutrir do invisível. Ampliará o lugar de nossa tenda. Sendo essa, leitores - e nenhuma outra - a alegria que nos sobra.