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Um ministro da Justiça

 

Conheci o atual ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, num evento sobre meio-ambiente e desenvolvimento sustentável na Academia Brasileira de Filosofia, Rio de Janeiro, na rua Riachuelo (casa que pertenceu ao General Osório), há quase um ano.

Seu discurso, ao final, foi diferente de muitos que tenho ouvido, sem os rodeios, que soem acompanhar as falas forenses. Discurso direto, objetivo, conciso. Sem gastar vocábulos no fio das andorinhas.

Já o admirava do antes, pela integridade, quando deputado Federal, com brilhante atuação na Câmara. Advogado, professor universitário, jurista.

Um dos mais destacados integrantes do PT, pelo porte intelectual e humanista, fazendo-me lembrar, por afinidade e perfil, ainda que de outro partido, o vice-presidente Michel Temer, que é -o que poucos sabem — também poeta.

E chamou-me atenção sua atitude firme, corajosa, recentemente, ao defender, de público, a decisão do Supremo Tribunal Federal, que cassou os deputados condenados no mensalão, contrariando a beligerante posição do chefe do Poder Legislativo Federal, ao se recusar a obedecer ordem judicial, ferindo o regime democrático.

Merecendo ser assinalada, alem de sua campanha do desarmamento e a constatação medieval dos nossos presídios: a direção independente que imprimiu à Polícia Federal, ao apurar um ninho lobista e corruptivo na sede da Presidência, em São Paulo, a partir de Rosemary Noronha.

Dirão que cumpriu o dever, mas esse é tão difícil de cumprir, entre as injunções e procelas. E muitos são os serviços prestados pelo nobre ministro, no empenho ético do governo de Dilma Kousseff.

Se é verdade que, nós, os poetas, temos uma percepção crítica e não apreciada do poder, por natureza, por ser a política o magistério da razão, a pomo de o cubano e poeta José Marti anotar que "em política o real é o que não se vê", quando também é o real que nem todos conseguem ver, ao mergulhar nas raízes do convívio entre os seres.

Mas o poeta, distintamente, só vê bem, como queria Éxupery, com o coração. E se na política vige a memória breve ou estreita dos falos, na poesia, sobrepaira a memória, que não é curta, das palavras e da espécie.

Porém, se Getúlio Vargas afirmava que "a política é deixar os cavalos passarem", na poesia, quando todos os cavalos passaram, ela cometa desse vertiginoso rastro.

E o motivo desta crônica, leitor, é o de que este escriba, em determinado momento de sua cidadania, resolveu olhar para fora de si mesmo e atinou com a sensibilidade e grandeza de um político, que ama o Direito e rejeita o arbítrio. Ao reconhecer simplesmente que viu com o coração.

E ainda que atento à lição do romancista francês Louis F. Celine, de que "ávida não se interessa pelo coração", estou certo, leitores, cada vez mais, de que o coração se interessa pela vida.

A Tribuna (ES), 6/1/2013