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Rimbaud, a vida dupla de um rebelde

 

Edmund White, em livro editado pela Companhia das Letras, trata da vida dupla do rebelde Arthur Rimbaud, um dos grandes enigmas da poesia contemporânea.

O precoce e genial poeta francês, depois de escrever alguns dos mais altos momentos de nossa poesia, com “O barco ébrio”, “Uma temporada no Inferno” e Iluminações”, abandona a criação aos dezenove anos e parte para a África, transformando-se num traficante de armas, quando adoeceu e teve morte prematura. Verlaine, seu companheiro de aventuras e desaventuras, ficou sobrevivente, entre vinho e absinto, escrevendo poemas num papel de cigarro, enquanto fumava diante dos atônitos admiradores.

Diabrete irascível, melancólico, solitário, com rosto de anjo decadente, “anjo no exílio”, teve a certeza de que “a verdadeira vida estava ausente, ou de que não estamos no mundo”.

Esse “místico em estado selvagem”, que trazia em si uma sede jamais saciada, tinha o raro dom de assimilar sotaques, com aprendizagem fácil de línguas estrangeiras, queria inventar um novo idioma, com novos sentidos, cores, flores.

Victor Hugo o considerava “Shakespeare menino”, mas era, sim, menino no poeta que, apesar de ser engolido pela ambição de ouro, trazia um caráter duplo de personalidade, que ele próprio percebeu, ao vislumbrar de que seu “eu” era um outro.

Edmund White relata que Rimbaud na África guardava os livros contábeis da companhia, pesava as sacas de café e pagava os corretores locais. A companhia comprava marfim e pele de animais, participando de caravanas que cruzavam o deserto, povoado de leões. Muitos escritores de várias épocas depuseram sobre Rimbaud e o enigma permanece. Talvez com o próprio mistério da poesia.

Diário da Manhã (Go), 13/8/2011