Camoneanamente, ou não, lembramos a "dor das coisas que passaram". Em Virgilio Maro, o poeta de Mauá, já lemos essa expressão de mémória do sofrimento passado.
Não importa comparar a dor que transbordou em nós de outro que teve, brutamente, a mesma experiência, embora em alguns a medida inche e em outros, diminua, com o tamanho do corpo ou da alma. Que a maior dor do universo é a da alma.
Disse alguém, se não me engano Pascal, que é impossível filosofar com dor de dente. Porque entra pelos poros e o teorema de Pitágoras é um nervo na boca que grita mais do que uma tempestade.
A dor de amor é difícil de passar e a memória fica enfiada dentro, como uma cabeça na torneira. A dor de amor não sara cedo ou tarde, apenas quando nasce um novo, capaz de derrubar as compostas do dia.
A dor física nos incomoda, molesta a paciência e o sono. Mas a moral é absurdamente deseperada. Apenas Deus pode pousar.
Diário da Manhã (GO), 5/4/2011