Mestre Rubem Braga, habitante do mesmo lugar de infância de Roberto Carlos, Cachoeiro de Itapemirim, conta que, no fundo do sertão, uma pequena igreja tinha um sino de ouro. A cidade também era pequena e o povo se acostumou com o som de ouro do sino, sem saber se o som também era de ouro e era um toque de alegria e felicidade. Como se todos viessem daquele som. Pois o sino em cidade do interior é o aviso das coisas cotidianas, o relógio do trabalho ou descanso ou convite ao culto, com o alvoroço nas vitórias e dorido anúncio nos enterros.
Os moradores são pobres, mas têm um sino de ouro. E o ar se torna de ouro nas badaladas, o vento é ouro que bate na língua do sino, os bois ali no campo já conseguem o mugir de ouro. E o sonho do homem não é breve, nem de ouro, apesar de se arrimar mais longe, mais longe, no inclinado varal do horizonte. Ou no constelado cofre do céu.
E é sino de ouro o júbilo que brota do pão dividido, da água que sacia ou é regato andando, dos montes que se aproximam ao convívio, ou da pedra cheia de sol e o sol cheio de aves, ou das nuvens que não param de crescer.
O sino é a explosão que a cidade entende e jamais esquece, está no amor dos que se abraçam, está no desejo dos que se entregam ao pé das coisas, está na criança que sorri com desarvorada inocência.
O sino é a cidade, mais que o ouro, com o som por dentro é o que vai permanecer na cidade. Puro, intacto.