O colapso das cidades
Sempre que encontrávamos um engarrafamento de trânsito em qualquer lugar do Brasil, vinha logo a resposta de "parece que estamos em São Paulo", onde há muitos anos o problema de tráfego parece ser insolúvel.
Sempre que encontrávamos um engarrafamento de trânsito em qualquer lugar do Brasil, vinha logo a resposta de "parece que estamos em São Paulo", onde há muitos anos o problema de tráfego parece ser insolúvel.
Estamos em pleno Domingo Gordo. É o meio e o topo da folia, quando as coisas começam a esquentar, as águas já começaram a rolar, águas de inverno e águas que passarinho não bebe e só peru na véspera de Natal.
Estou, ultimamente, certo de que um fenômeno está surgindo no mundo atual: a compressão do tempo. Ele está cada vez mais chato e achatado. Parece que a cada dia fica mais curto.
Atendi a uma repórter que fazia uma reportagem sobre horóscopo e ela, de saída, foi me dizendo: "O senhor, conhecido consultador de horóscopos...". Interrompi: "Minha filha, você está com a informação errada, eu não consulto horóscopos...". "Mas o senhor não usa marrom nem gosta de jacaré empalhado..." "Isso é outra coisa", retruquei, "meu jacaré nada tem a ver com astrologia." E ela, simpaticamente, terminou a conversa: "Vai ver que tem".
Um dia, estava com Tancredo Neves e descontraidamente conversávamos sobre a política, as suas vicissitudes, suas amarguras e seu potencial gratificante. Perguntei-lhe o que responderia se ele tivesse de arrolar três virtudes que deviam ter os políticos. Ele com certo humor me disse: “Sarney, para mim acho que as sete primeiras são paciência, as outras três você pode escolher como quiser.” Rimos juntos e fiquei logo certo de essas primeiras sete eu possuía demais e muitas vezes fui criticado por essa conduta.
Afonso Arinos – nunca será demais lembrar que se trata de um dos maiores monumentos da inteligência brasileira – levantou, em um de seus livros, um tema que serve para profundas meditações.
Cidade da minha mocidade, da minha adolescência, da minha maturidade, da minha velhice, da minha eternidade, dos meus sonhos, das minhas paixões, das minhas flores abertas para a alegria e murchas para as tristezas, do meu destino.
O Brasil anda muito descuidado e ausente de sua história.
Tenho pelo ex-ministro Delfim Neto um misto de admiração e simpatia. Os seus feitos nos três ministérios ocupados (Fazenda, Planejamento e Agricultura) são históricos. Ele foi também muito amigo de Oscar Bloch Sigelmann, ex-vice-presidente das Empresas Bloch, razão pela qual era comum estarmos juntos em solenidades e almoços na sede da revista Manchete. Isto sem contar os seus tempos de embaixador do Brasil na França. Lembro de uma visita que lhe fiz, em Paris, quando conversamos longamente sobre a situação do país e, naquele momento, as repercussões do chamado voto antissionista na ONU. Sou leitor fanático dos artigos do professor Delfim Neto, que honra o corpo docente da Universidade de São Paulo. Ele escreve em dois jornais que são minha leitura diária: a Folha de São Paulo e o Jornal do Commercio do Rio de Janeiro. Pois na Folha, no dia 6 de fevereiro, levei um susto com a apreciação que fez sobre as incidências do Acordo Ortográfico de Unificação da Língua Portuguesa. Levemente desinformado, Delfim criticou os objetivos da iniciativa nascida, segundo ele, de “genitores duvidosos e colocados na “roda” em Lisboa, nos idos de 1990.” Não é bem assim. O assunto, muito antigo, foi retomado em 90 por dois competentes “genitores”, os filólogos Antonio Houaiss e Malaca Casteleiro, este último em nome da Academia das Ciências de Lisboa. Aí vem uma contradição do articulista: ele afirma peremptoriamente que não tem competência para avaliar se o Acordo é uma necessidade e sugere que “a tarefa deveria ser deixada às respectivas academias de letras.” Pois foi o que aconteceu, em sucessivas reuniões. O Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, com os seus 360 mil verbetes, é produto desses encontros e foi editado pela Academia Brasileira de Letras, no caso, com a minha estreita colaboração gráfica. Não havia “encenação, nem conversa”, como insinuou o meu estimado amigo. O então presidente José Sarney aprovou o Acordo, que foi referendado pelo presidente Lula, em agosto de 2008, numa histórica reunião na ABL. A ideia é de que passasse a funcionar obrigatoriamente a partir de 1º de janeiro de 2013. Houve uma completa adesão aos seus postulados, em território brasileiro, mas infelizmente o mesmo não ocorreu em Portugal e num ou noutro país lusófono. Alguns linguistas brasileiros venderam ao nosso Governo a ideia de que seria melhor adiar o início para 2016, sob o pretexto de “alinhar tudo à comunidade lusófona”. Não existe a menor garantia de que isso vá ocorrer, apesar da convicção de que se tivéssemos uma só ortografia (e simplificada, como propõe o Acordo) o fato levaria a ONU a reconhecer o português como língua oficial de trabalho, velha reivindicação dos nossos diplomatas. Portanto, não há “desacordo” que deve ser celebrado, com fez o nosso prezado professor Delfim Netto. Pela sua reconhecida cultura, estimava-se que ele estivesse de acordo com a decisão das academias concernentes, aliás, como ele próprio propôs no seu artigo.
Todos, perplexos, especulam sobre os I movimentos de massa do Brasil e I dizem que estamos diante de grandes perguntas sem respostas.