Não se assustem com a expressão acima. Ela guarda um profundo sentido, na proposta de uma educação indígena, na região Sul e Sudeste do Brasil. Significa, em guarani, Conhecer-Ensinar. Remonta, para os estudiosos, à época dos nossos primeiros tempos, com o trabalho dos jesuítas, acelerado a partir da vinda do padre José de Anchieta, em 1553, na equipe do governador-geral Duarte da Costa. Todos sabemos do quase genocídio dos nossos indígenas, que saíram do número de 3,5 milhões para os atuais 400 mil. Assinale-se, hoje em dia, um dado positivo: cresce o índice demográfico entre eles, tornando distante a possibilidade da sua extinção. Há tribos em praticamente todo o território nacional, embora em muitas registre-se um número inexpressivo de habitantes. Uma forte luz se acendeu, por iniciativa do Consed (Conselho dos Secretários de Educação), do MEC e da Fundação Nacional do Índio, com a criação do Programa de Formação para Educação Escolar Guarani nas Regiões Sul e Sudeste do Brasil. Desde 2001, lideranças, pajés e professores guarani reúnem-se para discutir essa proposta. Concordamos com as lideranças que afirmam "ser a cultura muito importante. Vamos aprender a ensinar. Também é importante para que não se esqueça a sabedoria dos nossos anciãos e a memória guarani." Por isso, a Secretaria de Estado de Educação aliou-se fortemente ao projeto. Temos o maior carinho pela Escola Estadual Indígena Guarani Karai Kuery Renda, composta das seguintes unidades: "kyringue yvotyty", em Angra dos Reis (Bracuí), "tava-mirim", em Parati-mirim, e "karai oka", em Araponga, também em Paraty. Somando, são 160 alunos, com professores guarani (bilíngües, pois sabem adequadamente o português), que apostam numa educação diferenciada, que atenda aos seus interesses e tradições. A carga mínima anual é de 800 horas, distribuídas por um mínimo de 200 dias letivos de efetivo trabalho escolar. No currículo, são respeitadas as diretrizes nacionais, de acordo com a legislação vigente no País, e as propostas de cada etnia, em respeito às especificidades étnico-culturais de cada povo ou comunidade, respeitados o saber e a cultura indígenas. Cada grupo tem práticas pedagógicas específicas, todas de caráter presencial, com um calendário próprio, como pôde verificar, em visita feita aos locais, o professor Paulo Pimenta, que registrou, com emoção, a eficácia do aprendizado das crianças das respectivas aldeias. Aulas de forte conteúdo de brasilidade, assim se contemplando a construção de conhecimentos, valores, habilidades e competências. Todas pertencem à rede estadual de ensino e funcionam em regime de tempo integral, nas três aldeias referidas. As salas são arrumadas em ambiente diferenciado. Ao lado, existem as casas de reza e um amplo espaço para caçar, montar armadilhas, pescar, plantar etc. É uma forma de não desvirtuar os hábitos seculares, com suas práticas sócio-culturais e religiosas. Nenhuma imposição, pois esta seria contrária ao espírito de preservação dos principais valores ali estabelecidos. O prof. Pimenta registrou isso tudo, voltando ao Rio com o som do chocalho na cabeça, com os índios dançando o seu tradicional Xondaro. Uma experiência inesquecível de respeito aos costumes verdadeiros dos nossos primeiros habitantes.