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Artigos

  • Brasil de volta ao passado

    O Globo, em 16/09/2021

    Não é que o desmonte da política anticorrupção seja um negócio combinado, o problema é o espírito da coisa: espírito de defesa própria, para se proteger de investigações, a tentativa de desmoralizar Sergio Moro e os procuradores da Lava-Jato, para não deixar pedra sobre pedra, e  nenhuma dúvida na cabeça dos cidadãos. Estamos repetindo tudo o que aconteceu antigamente. A operação Satiagraha, por exemplo, foi assim: pegaram todos, a investigação foi anulada por causa de erros técnicos, interpretações equivocadas e agora vemos Naji Nahas jantando com amigos, com Michel Temer e outros. No Brasil é assim, daqui a alguns anos vamos ver Leo Pinheiro, Marcelo Odebrecht, e todos os empreiteiros comemorando por aí, e quem sabe até com dinheiro de volta. Porque se não houve nada, o que se faz com os cinco bilhões de reais devolvidos¿ É como as fotografias da era stalinista. Vão apagar tudo o que aconteceu. Não houve petrolão, não houve dinheiro, não houve desvio, não houve nada e pronto. Políticos envolvidos com corrupção, que são réus em diversas ações, apresentam projetos para amenizar punições e tentam criar barreiras para impedir Sergio Moro de se candidatar. É o medo de que ele ganhe a presidência e volte tudo como estava antes.

  • Juristas dão peso às acusações da CPI

    O Globo, em 15/09/2021

    O parecer da comissão de juristas, coordenada por Miguel Reale Jr, que aponta delitos cometidos pelo presidente Bolsonaro nas questões levantadas pela CPI da COVID dá um peso muito grande às acusações. Soa como política um senador afirmar que Bolsonaro cometeu genocídio ou fez charlatanismo, mas a comissão de juristas dá base legal a essas acusações e torna importante o documento de 200 páginas. Acredito que o relatório final da CPI , que aparentemente será pesado contra o presidente da República, não terá a consequência devida porque o presidente da Câmara, Arthur Lira, controla diretamente os pedidos de impeachment, como também controlou Rodrigo Maia.

  • Nem golpe, nem impeachment

    O Globo, em 14/09/2021

    Não vai ter golpe, nem impeachment. E talvez nem candidato único como terceira via. Assim como as multidões que estiveram nas ruas no 7 de Setembro apoiando Bolsonaro não impediram que ele fosse derrotado — tanto que teve de recuar —, a falta de pessoas em número expressivo nas manifestações do fim de semana não quer dizer que ele tenha maioria, como insinuou.

    Bolsonaro teve uma máquina de organização muito afiada — parecia o PT nos áureos tempos, com o sindicalismo mobilizando as massas. Mas as próximas pesquisas de opinião provavelmente mostrarão Bolsonaro caindo para o que pode ser seu chão, cerca de 20% de apoiadores.

     

  • União das oposições seria bom para candidatura única

    O Globo, em 14/09/2021

    Partidos de oposição, desde o Partido Novo até o PT, anunciam encontro para organizar manifestações a favor do impeachment de Bolsonaro, mas acredito  que o resultado prático não deve ser uma manifestação conjunta. O impeachment não interessa muito ao PT; e nesses grupos, como o MBL, há muita gente contra Lula e Bolsonaro. É difícil evitar que surjam grupos falando mal do PT ou de outro partido ou movimento. Acho também que o ambiente político para o impeachment ficou fragilizado com o fracasso das manifestações do fim de semana, e, junto com a carta feita pelo ex-presidente Michel Temer melhorou a situação do Bolsonaro com relação ao impeachment, apesar de sua força eleitoral estar decadente. A manifestação, se for grande, terá a vantagem de unir a oposição contra Bolsonaro, embora ache que não haverá possibilidade de um impeachment transitar com rapidez suficiente para sair antes da campanha de 2022. A união das oposições seria ótimo prenúncio de candidatura única, mas não acredito que aconteça.

  • Bolsonaro ainda tem algum fôlego

    O Globo, em 13/09/2021

    Assim como as multidões que estiveram nas ruas no sete de setembro apoiando Bolsonaro não impediram que ele fosse derrotado -  tanto que teve que recuar - a falta de pessoas em número expressivo nas manifestações de ontem não quer dizer que ele tenha maioria. Essas coisas vão evoluindo e Bolsonaro teve uma máquina de organização muito afiada – parecia o PT nos áureos tempos, com o sindicalismo mobilizando as massas. Quem está no governo tem capacidade de mobilização muito grande. As manifestações não foram um fracasso, mas também foram um sinal de que ainda não há condições políticas para o impeachment. A carta que o ex-presidente Michel Temer negociou e essa demonstração fraca de apoio ao impeachment mostram que Bolsonaro ainda tem fôlego para seguir adiante. À medida que vai chegando perto o ano eleitoral, perde força a possibilidade de haver impeachment. 

  • PF no rastro de Zé Trovão

    O Globo, em 12/09/2021

    Zé Trovão, quem diria, tornou-se o símbolo da rendição de Bolsonaro, o que dá bem a dimensão de chanchada da crise política que desencadeou sem ter a menor condição de vencer.  Seguindo os passos de seu chefe, pediu perdão pelo Telegram, disse que nunca desejou o que ameaçou fazer, e espera em vão no México o habeas-corpus que lhe prometeram. Fachin já derrubou o primeiro, e o segundo terá o mesmo destino. Zé Trovão vai ser preso a qualquer momento, está sendo rastreado pela Polícia Federal, que o localizou agora na Cidade do México, já tendo passado pelo Panamá, Cancún e Guadalajara.

  • Bolsonaro entrou num beco sem saída

    O Globo, em 10/09/2021

    A carta de recuo dos ataques feitos ao STF, nas manifestações do fim de semana, divulgada pelo presidente Bolsonaro e escrita pelo ex-presidente Michel Temer é apenas uma estratégia, que acredito vá dar errado; ele não mudou da água para o vinho de uma hora para outra. Não acho que tenha capacidade de continuar nessa senda de acordos, mediação e distensão entre os poderes. A vida toda ele viveu de embates e de tensão, não vai mudar agora. Mas essa carta foi seu último passo. Se retratou por escrito, e se tiver uma recaída, não tem mais para onde ir. Entrou num beco sem saída, porque, se voltar a atacar o STF, ou ameaçar golpe, chegará ao fim do caminho, que é o impeachment ou o TSE barrar sua reeleição. Ao mesmo tempo, se continuar moderado, como diz na carta, perde grande parte de seu eleitorado, pelo menos o que estava nas ruas no sete de setembro. Por isso, ontem mesmo voltou a criticar a urna eletrônica, e fez uma piadinha grossa com o ministro Luis Roberto Barroso, coisa de cafajeste. Não há como manter acordo com uma pessoa assim. Bolsonaro está numa situação difícil. O país não vai mudar, o mercado voltou apenas para recuperar perdas. Nenhum investidor vai acreditar que valha a pena investir aqui. A rendição dele foi tão vergonhosa, tão humilhante, que não conseguirá ser um interlocutor válido. Deveria se retirar completamente, ficar quieto no governo, deixar o Congresso trabalhar até acabar o mandato. Ou, para recuperar o prestígio, terá que radicalizar ainda mais.

  • Remédio amargo

    O Globo, em 09/09/2021

    Nem todos foram tão contundentes e certeiros com as palavras como o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luiz Fux. Mas todos os que se pronunciaram com críticas à retórica belicista do presidente Bolsonaro na terça-feira o fizeram como se avisassem ao presidente que está chegando o momento da verdade.

  • Bolsonaro piora sua situação

    O Globo, em 08/09/2021

    Depois do discurso de Bolsonaro na manifestação da avenida Paulista, o presidente da Câmara dos Deputados, Artur Lira, que até então estava tranquilo, pegou o avião de Maceió de volta para Brasília para se reunir com líderes partidários. Recebeu muitos telefonemas cobrando a prometida contenção do presidente. O chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, que junto com Lira fazia o trabalho de controlar Bolsonaro, também passou a se preocupar depois da manifestação de São Paulo. Os dois estavam seguros de que o presidente não faria maluquices em seus discursos; Artur Lira garantira na véspera que Bolsonaro havia concordado em não fazer qualquer coisa que agravasse a situação. Mas agora, a ideia do impeachment aumentou sua força dentro do Congresso, pois muitos partidos já começam a pensar nisso. Não é que Lira vá abrir imediatamente um processo de impeachment, mas ele já começa a colocar no seu radar a necessidade de tomar uma providência se as coisas continuarem como estão. O centrão também começa a botar na balança se vale a pena ficar ao lado do governo. O clima político piorou muito para Bolsonaro porque ele é incontrolável, não vai voltar atrás e ninguém confia mais nos acordos que ele propõe.

  • Bolsonaro faz exatamente o que acusa o STF de fazer

    O Globo, em 08/09/2021

    O cineasta Woody Allen reproduziu em seu filme “Bananas” um episódio inusitado que aconteceu durante o congresso estudantil clandestino realizado em Ibiúna, no interior de São Paulo, em outubro de 1968, em plena ditadura militar. Eram mais de mil estudantes, que precisavam comer. A compra de centenas de pães na cidadezinha mais próxima acabou revelando o local da reunião da UNE, e todos foram presos.

  • Estamos numa situação limite

    O Globo, em 06/09/2021

    Pela movimentação que está sendo feita há tanto tempo e pelo engajamento do presidente, os atos de amanhã serão grandiosos. Embora esteja caindo em popularidade, Bolsonaro mantém ainda um núcleo de apoiadores muito importante, cerca de 20%, 25%, e com esse tamanho tem lugar garantido no segundo turno da eleição presidencial. Importante é saber se esses números se manterão. Durante a campanha, ele pode desidratar mais ainda, mas, no momento, tem muita gente que segue seus pensamentos e acredita nele. Minha dúvida e meu temor são quanto à violência e às arruaças e isso tem sobretudo um ponto principal, que é a retórica do presidente Bolsonaro. Receio que, diante de uma multidão, ele não se controle e incite o povo contra o Estado de Direito e as instituições democráticas, o que poderá ter consequências. Estamos numa situação limite Depois das manifestações, teremos uma visão clara do que pode acontecer no país. O governo jogou tanta força da sua capacidade de mobilização nelas, que pode haver uma realidade contrária. Estão esperando muita gente - Bolsonaro chegou a falar em dois milhões de pessoas nas ruas – e pode ser que seja decepcionante. Então, a situação de Bolsonaro começará a ficar insustentável.

  • Mourão, terceira via?

    O Globo, em 05/09/2021

    O presidente Bolsonaro acrescentou nos últimos dias mais uma preocupação às suas desditas. Além do receio de que um dos seus filhos, ou alguns deles, sejam presos em decorrência dos inquéritos abertos no Supremo Tribunal Federal (STF) devido aos desvios de dinheiro público (peculato) com as “rachadinhas” dos salários de servidores nos seus gabinetes parlamentares, ele teme que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) o torne inelegível para a eleição do ano que vem.

  • É preciso um basta em Bolsonaro

    O Globo, em 03/09/2021

    As afirmações do presidente da República hoje mostram que, mais uma vez, ele está querendo confusão, o que é um perigo. É preciso dar um basta nisso, ou pelo TSE, STF ou Congresso. Não se pode ter um presidente que ataca os outros poderes o tempo todo. Fico imaginando o que ele não falará nas manifestações em Brasília e São Paulo, dia sete de setembro, diante de uma multidão pedindo cassação de ministros do STF e até o fechamento do próprio STF. Ele não pode manipular o povo contra as instituições democráticas. 

  • A política na economia

    O Globo, em 02/09/2021

    O pagamento de precatórios por parte do governo federal está virando uma questão política que só poderá ser resolvida pelo Congresso. A intenção de encontrar uma solução que fosse avalizada pelo Judiciário, por meio do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), para evitar que a confusão avançasse no sentido de tirar os precatórios do limite do teto de gastos, parecia boa, mas não é constitucional.

  • Vetos de Bolsonaro foram em benefício próprio

    O Globo, em 02/09/2021

    Bolsonaro vetou, em benefício próprio, alguns trechos do projeto que trata de crimes contra o Estado Democrático de Direito e que revoga a Lei de Segurança, como o impulsionamento de fake news e o aumento da pena quando o crime for cometido por militares. Bom lembrar que ele sofre um processo no STF e outro no TSE sobre fake news - este pode até cassar o seu mandato. Se tiver uma lei fixando o assunto como crime, piora a situação para ele.  O argumento para o veto à pena dobrada dos militares envolvidos em manifestações contra a democracia foi de que a medida seria contra manifestações de conservadores. Ora, militar tem que ter punição em dobro, porque é armado pelo Estado e não pode usar essa arma para atacar o sistema que a sociedade escolheu, a democracia. Só tem sentido barrar porque Bolsonaro alimenta esses grupos, principalmente militares, para apoiá-lo nas manifestações, como a de sete de setembro.