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Artigos

  • O problema da cesárea

    Segundo uma noção muito difundida, o nome cesárea ou cesariana estaria associado ao imperador Júlio César, nascido de um parto operatório. Pouco provável, pois, entre os antigos romanos, esse tipo de intervenção só se justificava pela morte da parturiente, e a mãe de Júlio César, Aurélia, viveu muitos anos após o nascimento do ilustre filho; mais provavelmente o termo vem do verbo latino caedere, cortar. Mas a lenda mostra como a cesárea apela à imaginação. Trata-se de uma operação antiga; no Ocidente ela é praticada regularmente pelo menos desde o século 16. Mas por causa da letalidade, era um procedimento de exceção.

  • O sumiço do pen drive

    Houve época em que a força bruta era poder. Houve uma época em que a riqueza era poder. Hoje, informação é poder. Quanto mais informados (mas notem, isto não tem a ver necessariamente com conhecimento ou com sabedoria), mais poderosos somos, ao menos teoricamente. Daí esta avalanche, este tsunami de informações. A cotação do dólar, a taxa de inflação, o número de casos de determinada doença, candidatos dos vários partidos, a escalação de times de futebol – nomes e números em profusão, que nos chegam por jornais, revistas, livros, filmes, noticiários de rádio, internet, e que tratamos de armazenar em nossa mente.

  • Primos

    Uma vez, fui a Brasilia para dar a palestra inaugural num evento literário promovido pela Secretaria de Cultura do DF. O governador Cristovam Buarque estava presente e, ao final, gentil como sempre, convidou-me para jantar. Antes, porém, ele tinha um compromisso: deveria comparecer à inauguração da representação diplomática da Autoridade Palestina no Brasil e sugeriu que eu o acompanhasse. Fomos.

  • A Morte de Saramago O surpreendente Saramago

    José Saramago, com quem convivi em muitos lugares, em Porto Alegre (ele adorava nossa cidade), em outras capitais brasileiras, no Exterior, era não apenas um grande escritor, não apenas um intelectual militante, como também um ser humano. De seu trabalho literário dão testemunho o Nobel que recebeu, e que projetou o nosso idioma no mundo, como, sobretudo, a qualidade de sua obra literária. Saramago era, como Jorge Amado e Erico Verissimo, um grande narrador, um narrador que não recusava o humor satírico e a fantasia, um exemplo disso sendo o notável A Jangada de Pedra, uma história que bem poderia figurar como exemplo do realismo mágico que, numa época, caracterizou a literatura latinoamericana. Saramago era também um comunista de carteirinha, uma posição a que chegou em grande parte por ter origem humilde (foi operário) e por ter vivido sob uma das ditaduras mais persistentes da modernidade, o regime salazarista. Vindo do stalinismo, ele não era imune a rompantes autoritários, ao qual se associava uma incontinência verbal capaz de produzir resultados desastrosos. Foi o que aconteceu quando comparou a ocupação israelense dos territórios palestinos ao regime nazista. Toda comparação acaba ofendendo um dos lados, e nesse caso foi uma ofensa pesada, sobretudo porque dirigida a um grupo humano que pagou pesado tributo em vidas ao nazismo.

  • Crimes e erros

    No começo do século 19, durante o governo de Napoleão, Loras Antoine de Bourbon, duque de Enghien e membro da casa real francesa, fui preso, acusado de conspiração. De imediato, ficaram evidentes erros grosseiros da investigação: o duque simplesmente tinha sido confundido com outra pessoa. O que fizeram as autoridades? Anularam o processo? Não. Mudaram a acusação: agora o nobre era considerado culpado de contrabando de armas e colaboração com países inimigos, com o que foi rapidamente, e escandalosamente, executado. Na ocasião, Joseph Fauché, ministro da Polícia, político tão astuto quanto cínico, disse uma frase. (às vezes atribuida ao também político, e também astuto e cínico, Charles-Maurice de Talleyrand) que ficou famosa “C’est pire qu'un crime,c’est une faute”,"É pior que um crime, é um erro".

  • Futebol e saúde

    Os dinamarqueses perderam para os holandeses na Copa do Mundo, mas isto não quer dizer que não sejam fãs entusiastas do futebol. São, e é da Dinamarca que vem um importante estudo sobre este esporte. O trabalho, liderado pelos professores Peter Krustrup e Jens Bangsbo, do Departamento de Exercício e Ciências do Esporte da Universidade de Copenhague, durou mais de três anos e reuniu mais de 50 pesquisadores de sete países no objetivo comum de avaliar a repercussão do futebol sobre a saúde, a condição física e as habilidades sociais em ambos os sexos e em diferentes faixas etárias.

  • Futebol

    Os dinamarqueses perderam para os holandeses na Copa do Mundo, mas isto não quer dizer que não sejam fãs entusiastas do futebol. São, e é da Dinamarca que vem um importante estudo sobre este esporte. O trabalho, liderado pelos professores Peter Krustrup e Jens Bangsbo, do Departamento de Exercício e Ciências do Esporte da Universidade de Copenhague, durou mais de três anos. Reuniu mais de 50 pesquisadores de sete países no objetivo comum de avaliar a repercussão do futebol sobre a saúde, a condição física e as habilidades sociais em ambos os sexos e em diferentes faixas etárias. Numa recente edição especial do “Scandinavian Journal of Medicine and Science in Sports” intitulada Futebol para a Saúde, figuram nada menos de 14 artigos científicos elaborados a partir do projeto.

  • O discutível humor técnico

    O Ministério Público Federal de Minas Gerais recomendou que a Ambev retirasse do ar o comercial que faz piada, aliás sem muita graça, a respeito da rivalidade entre brasileiros e argentinos. A propaganda da cerveja Skol mostra torcedores com a camisa da seleção argentina que, depois de abrirem uma lata de cerveja, são chamados de “maricón”.

  • O escritor misterioso

    Um crítico americano considerou-o “o primeiro grande livro do século 21”. “Uma consumada performance”, disse Jonatan Lethem no New York Times. Nos Estados Unidos, o livro recebeu o National Book Critics Circle Award de 2008, prêmio dado por um júri nacional de críticos literários; e figurou como “livro do ano”, ou na lista dos melhores livros do ano, no New York Times Book Review, Time, Los Angeles Times, The Washington Post, San Francisco Chronicle, Village Voice, Kirkus Review, Publishers We.

  • O renascimento do Cruzeiro

    Ser membro da Academia Brasileira de Letras é, naturalmente, uma distinção, mas tem os seus inconvenientes, como descobri na semana passada: tendo ido ao Rio para a reunião da ABL, perdi um acontecimento histórico: ao derrotar o Brasil de Farroupilha, o Esporte Clube Cruzeiro de Porto Alegre garantiu seu retorno à primeira divisão do futebol gaúcho, após 32 anos de ausência. Lamento que meu falecido pai, José Scliar, cruzeirista fanático (e um dos 18 torcedores que, segundo o folclore porto-alegrense, o Cruzeiro tinha) não haja vivido esse momento glorioso. Foi meu pai quem me introduziu ao futebol: eu tinha a paixão pelo Cruzeiro no genoma.

  • Os Dungas

    Estive com Dunga uma vez, e em circunstâncias curiosas. Ambos disputávamos uma partida, não de futebol, mas de basquete, num evento promovido pela Associação Cristã de Moços. Que eu lembre, a atuação dele não foi espetacular - claramente que basquete não em sua praia (nem a minha, por sinal), mas recordo sua cordialidade, seu bom bumor. O que remete a seu apelido, e este, por sua vez nos faz evocar a história dos sete anões. Na versão atribuída aos irmãos Grimm, Branca de Neve foge da rainha malvada e vaidosa e entra na floresta.A partir daí, muitos de nós somos guiados pela versão cinematográfica, o famoso desenho animado de Walt Disney, Seguindo os graciosos animalzinhos da floresta, a moça chega a uma casinha onde tudo é miniatural, mesa, cadeiras, camas. E tudo muito esculhambado, muito sujo. Ajudada pelos bichos, a virtuosa Branca de Neve arruma a casa toda e vai dormir. Ao anoitecer, chegam os donos da casa, os sete anões. Retornam de seu trabalho - e 'leiam a Coincidência - numa mina de diamante, como as muitas que tornaram célebre a África do Sul, onde o Dunga treinador agora está, Na versão de Disney, os anões são inesquecíveis, tanto pela aparência como pelos apelidos (na história original, nem apelidos, nem nomes, existiam). Assim, temos o Soneca, em quem um médico diagnosticaria hipersonia, em resultado da qual está sempre dormindo. Dengoso é sentimental, derrete-se de emoção. Zangado, ao contrário, é um anão de mal com a vida, enquanto Feliz está sempre numa boa. Atchim é um claro portador de rinite alérgica, está sempre espirrando; e o Mestre, fazendo jus ao nome, é o sábio do grupo, o guru dos anões ..

  • Vacinas antigripal: as controvérsias

    Na última sexta-feira, uma senhora adentrou o Centro Administrativo do Estado, na Praia de Belas, e lá fez um escarcéu. Por motivos, aliás, ponderáveis: ela queria se vacinar contra a gripe e estava faltando vacina nos postos a que foi.

  • A Flip vem aí

    Que o Brasil está mudando para melhor não pode haver dúvida. É só consultar os números: os indicadores econômicos, os indicadores de saúde e bem-estar social (a mortalidade infantil diminuindo, a expectativa de vida aumentando, o analfabetismo caindo, pessoas saindo da faixa da pobreza absoluta). E isso se manifesta também na área cultural: o mercado livreiro está crescendo, a rede de ensino está introduzindo os jovens à literatura e, detalhe interessante e significativo, aumenta o número de eventos livreiros-literários.

  • De que morreu Simon Bolívar?

    Dificilmente haverá, na história da América Latina, uma figura mais importante do que Simon Bolívar (1783-1830), o Libertador, líder político e militar venezuelano que, juntamente com José de San Martín, desempenhou papel importante na luta contra o domínio espanhol. Foi ele quem conduziu à independência Venezuela, Bolívia, Colômbia, Equador, Panamá e Peru.

  • Entre o mar e o rochedo

    Médico de saúde pública, trabalhei numa vila popular na periferia de Porto Alegre, lugar paupérrimo, e, como seria de esperar, violento; pessoas de fora não se atreviam a ali entrar. Mas uma professora da escola local garantiu-me que esse problema para ela não existia; podia andar por toda a vila, sem receio, porque tinha a proteção dos moradores. E ela não era exceção. O mesmo acontecia com funcionários da escola e do posto de saúde.