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Um Brasil desconhecido

 

Conheci, a convite do Clube da Aeronáutica, e na companhia de inúmeros pesquisadores do grupo do "pensamento brasileiro", o que, como a maioria dos cidadãos, eu ignorava. O trabalho anônimo, perseverante, heroico, das Forças Armadas na defesa das fronteiras geográficas e do espaço aéreo nacional. E mais, os centros de controle do gerenciamento do tráfego dos aviões. E foi para todos uma experiência nova, a descoberta desse Brasil diferente, escondido, desafiador, solitário e injustiçado, onde o esforço de nossos militares mal chega ao conhecimento do povo, na política demagógica de alguns que tentam solapá-los. E isso começou, entre nós, na lúcida análise de Vera Lúcia Borges, em seu livro A batalha eleitoral de 1910, a partir da luta civilista de Rui Barbosa (que perdeu a eleição à presidência), contra o Marechal Hermes da Fonseca. Na época escreveu o escritor Carlos de Laet, contra o que chamou de" candidato pseudo civilista": "Francamente, porém, mais espero do soldado honesto e sincero que da velha raposa, ultra-preparada para os assaltos ao galinheiro político, e que no dizer do seu próprio panegirista, sr. Medeiros de Albuquerque, costuma ter por ano trezentas e sessenta e cinco opiniões, todas retoricamente fundamentadas(...)". Sem entrar no barco das paixões eleitorais, sim, foi com a visão de soldados honestos, íntegros e sinceros, dedicados ao dever, na obediência à hierarquia, longe do raposismo político que permeia abominável corrupção, que reativei em mim, o sentimento de pátria, tão relegado, como coisa ancestral, quando é o princípio de nacionalidade.

Foram três dias de viagem dessa comitiva cultural pelas cidades de Brasília, Sinop, Porto Velho, em Rondônia; São Gabriel da Cachoeira no Amapá; visita a Yauaretê, a Manaus no Amazonas; Cachimbo no Pará; e Brasília, no Distrito Federal. O roteiro foi organizado sabiamente pelo brigadeiro Burnier, atual comandante Geral das Operações Aéreas, e a comitiva foi dirigida pelo brigadeiro Baptista e o coronel Araken, do Clube da Aeronáutica.

O momento mais emotivo: o da formatura, em Yauaretê, dos índios que compõem o batalhão especial de fronteira, defensor da floresta. Não só com a bela "Oração à selva", como pela apresentação magnífica, o desfile em que marcharam, camuflados para a guerra, como se dançassem, num espetáculo harmonioso que levarei sempre na memória.

Impressionou-me a solidão vivida por esses que vigiam o nosso território contra tantos inimigos, preservando o meio ambiente e guardando perpetuamente as divisas desta República, em lugares tão inóspitos, longe das cidades, em que a construção de prédios ou de aeroportos se tornam uma tarefa penosa, principalmente pelo difícil deslocamento do material, muitas vezes pelo rio Negro ou o rio Amazonas, com cachoeiras e constante variação climática.

Outro aspecto foi a visita ao centro dos controladores de voo, além do cortejo dos vários tipos de aviões e helicópteros, ou a demonstração de exercícios utilizados na selva, com descida ou subida em cordas. Percebemos, contrariamente a alguns afirmações isoladas da imprensa, que não há mais pontos cegos no céu de nossa pátria, onde a rota das naves não é só delimitada por convencionais auxílios de solo, mas orientada por satélites, num sistema global de navegação, com radares espalhados pelo país, havendo, inclusive o centro de busca e salvamento, em casos de pessoas em perigo real ou iminente. E esse serviço é realizado por maioria militar, altamente treinada tecnicamente. E alguns civis.

Ao ver esse Brasil ignorado e o quotidiano empenho das nossas Forças Armadas, tantas vezes sem razão vilipendiadas, protegendo com denodo os limites desta Nação, que é Continente, ou resguardando dos interesses estrangeiros, a nossa Amazônia, lembro-me das palavras de Churchill, o admirável estadista inglês: "Nunca tantos deveram tanto, a tão poucos".

Jornal do Commercio (RJ), 10/11/2011