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Sem paredes

 

Mia Couto, o grande escritor africano, num de seus livros, conta que , quando Ho Chi Minh saiu da prisão e lhe perguntaram como conseguiu escrever versos tão cheios de ternura numa prisão tão desumana, ele respondeu: “Eu desvalorizei as paredes. Essa lição se converteu assim na minha conduta”, explicava.

Nós todos confinados pelo “coronavírus”, cercados como uma cidade, por inimigos invisíveis, com a ciência impotente, nos aconselhando apenas ao encarceramento, trocando a liberdade pela vida.

Mas é o momento de desvalorizar as paredes, ver além do muro, além desse confinamento.

Por continuarmos vivos e sobrevivermos, porque a mão poderosa de Deus descansa sobre os nossos ombros e com fé tudo isso passará.

Tudo isso fará que, futuramente, valorizemos o próximo, mesmo sem rosto, com uma nova civilização talvez não tão rica monetariamente, mas se preparando ao recesso, forte de espírito.

Esse tempo não foi em vão, tudo tem sentido, ainda que não se perceba. Lemos muito o que não líamos, aproveitamos o tempo que antes não tínhamos, temos o ensejo de maior intimidade com o Senhor do universo e nos alongamos para um novo tempo.

Apesar dos percalços, como diz a “Bíblia”: “A segunda casa será melhor do que a primeira”.

As paredes só existem quando nos impressionamos com elas, ou deixamos que nos retirem a liberdade interior. Mas há que viver “sem paredes”, como os nossos sonhos ou o desconhecido da imaginação, que sempre pode nos invadir.

Tribuna Online, 24/05/2021