“Se eu não estiver a meu favor, quem estará? Se eu não estiver a favor dos outros, quem sou eu ? E se eu não estou agora, quando estarei?” Isso afirmou o Rabi Hielel, no século 12 e é atualíssimo.
Uns dizem que somos o que fazemos, outros , que somos o que comemos. Terceiros ainda afirmarão que somos a medida de nossa fé.O que nos faz recordar Chesterton, o pensador inglês, que assevera “A singularidade de nossa fé se ajusta à do Universo, tal como a forma estranha de uma chave se ajusta à forma estranha da fechadura.” E afinal , o que somos ?
Os conceitos nos cercam , mas a realidade da nossa vida transcende os conceitos, pior sermos maiores do que eles.Desprezar os horizontes, aborrecer-se do mundo conhecido, é prenúncio de não nos satisfazermos com o que conhecemos ,é desejar atirar-se a novas navegações no desconhecido . Por tendermos mais ao domínio das circunstâncias exteriores, ao canto das Sereias do ignoto, do que o mergulho no mais secreto interior, o nosso “eu” misterioso, com tantos outros “eus” que o povoam. Onde achar-se no meio deles?
É lógico que viver é industriosa cautela, viver também é sonhar, sem perceber sua proporção adverbial de tempo: “No mundo, em conclusão” – diz O solilóquio de Segismundo – “Todos sonham o que são/ Ainda que ninguém o entende.” Sonhamos o que vivemos, ou apenas vivemos o que sonhamos?
E os anos se vão, como nas Coplas de Manrique: “Por isso não nos enganem / pois a vida se apressa / como sonho.” E a grande aventura de existir é aos poucos ir entendendo que a nossa descoberta é também a descoberta de Deus em nós e de Deus no mundo. Por não passarmos de uma grande sede e fome a ser saciada. Maior do que a morte.