Quantas vezes a crítica contemporânea fala da morte do romance, como tantas vezes já ouvi falar sobre a morte da poesia e houve um instante que um notável ensaísta japonês previu o fim da história.
Tudo isso soa estranho, diante da capacidade de cada verdadeiro poeta criar a poesia e cada verdadeiro romancista dar nova versão do romance e mesmo a história, segundo Paul Valéry, é sempre a mesma. A história cansa, como a criação.
Confesso, leitores, que optei por uma visão épica na poesia, não a do tempo passado ou dos feitos de heróis do passado, mas a perspectiva profética do que está acontecendo e acontecerá, dando ao verbo movimento e ação.
E na ficção, busco criar planos, ora por metáforas, ora por analogia, possibilitando que o leitor recrie junto, num estilo de época, que é o sobressimbolismo. E os seres simbólicos são os mais perenes.
A tradição se esgota na tradição, quando a narrativa se impõe somente na personagem que transpassa a porta, mas o fato de a porta ultrapassar o personagem elucida a nova ficção.
Confiados de que as palavras são puxadas pelos sonhos. E que os sonhos vão entrelaçando novos seres e enredos. Deixando que as palavras nos inventem, mais valendo um pé nas palavras que se imaginam para fora, do que para dentro.
O romance ganhou grande avanço, com Joyce, Proust, Guimarães Rosa, Borges, Rulfo. Mas a modernidade tem em Kafka o seu importante autor, que é trágico, a ponto de o homem ser inseto e continuar inseto, ou trabalha o processo da injustiça, sem ter defesa.
E, o que não ocorre em Kafka, é a restauração da esperança no homem. Sem ela perde-se a alma. Pois onde há palavra, há espírito.