Estamos, estranhamente, voltando à Idade da Pedra Lascada e ao Pithecantropus Erectus. Mas ao avesso, em robôs e na técnica que supre o trabalho do homem.
Desde a burocracia que nos assoma para o cadastramento de emprego ou de alma, o derruído agendamento (sempre ocupado telefonicamente) nas aposentadorias ou Detran, o aumento ardoroso dos preços de remédios e supermercados, a fome nos aviões, substituída por água, a conselho da Anvisa, quando os tripulantes se fartam no fundo das aeronaves (será preciso um seguro contra a fome, leitores, quando os voos crescem e ela continua?) Mais.
O fantasma terrífico, que é a sala de espera dos bancos, de brutal insensibilidade, imposta pelo sistema, com filas imensas de velhos, com desrespeito à lei, que lhes dá prioridade. E, entre eles, aos que possuem mais de 80 anos.
Isso ocorre, de cima para baixo, arbitrariamente, como se o sistema fosse superior ao Código dos Idosos. E a lei não divide em horas, é obrigatória sempre.
Dorido, o espetáculo de vê-los, quotidianamente, com máscaras e em quase multidão aglomerada, atendida apenas por um funcionário na caixa de entrada. Dentro, mais guardas do que funcionários. Tudo sob o pretexto solene da pandemia.
O período que passamos é obscuro, tal se tornássemos para a Caverna, agora mecânica. E o Espírito jamais será mecânico, nem a imaginação. Mas alcançamos abominável, desastrosa obsessão eletrônica, verdadeira idiotia das máquinas.
Recebem, pagam por nós, respiram, choram por nós (elas são piedosas!), “oram por nós”, clamam por nós, sofrem por nós, coitadas, movem a república, quem sabe, futuramente, até os bancos fechem e fique tudo invisível, ou mesmo as máquinas nos defendam ou julguem, ou recorram entre si.
Porque o mundo se tornou automático, artificial, cúmplice de interesses econômicos, que se amontoam, sob suspeitosa astúcia na pandemia, ou além, tirando proveito dos mais fracos ou idosos ou vulneráveis. É, sim, a Idade da Pedra Lascada.
E quem sabe, as máquinas que chegam a pensar por nós, em tamanha “modernidade”, com desenhos de bisontes e cegueira da história, possam generosamente morrer por nós.