A última decisão do Supremo Tribunal Federal, em que houve empate no assunto fundamental, que foi o das “fichas limpas” dos políticos, revelou-se o confronto cioso entre o Brasil velho, patrimonial, arcaico e o Brasil jovem, aberto ao mais arejados horizontes.
Com o respeito aos eminentes membros do Pretório Excelso, uma parte deles, meus amigos, foi uma oportunidade histórica de fechar uma página obscura de nossa história e começar outra.
De um lado, o reconhecimento de que o povo é fonte da democracia, lembrando-nos de Lincoln que preconizava “o governo do povo, pelo povo e para o povo”. E de outro, contemplamos certa ojeriza, ou superioridade mental contra o que emana do povo, como se fosse um menino a quem se tivesse que puxar as orelhas, num autoritarismo de classe que procede dos tempos do senhor de engenho, tema muito caro ao grande Gilberto Freyre.
De um lado, um Brasil jovem, com olhos no bem-comum, atinando na justiça como seu complemento,tentando libertá-la dos assaltantes de plantão da política nacional e de outro, agentes de um Direito endurecido, fechado, vinculado mais à realidade estrangeira, do que a nossa, com outras circunstâncias, mostrando uma insensibilidade social, que se não dá conta do momento histórico de mudança, atados a alguns artigos de lei engomados na procela do tempo, ou havidos numa opulência sapiente que “não vale um par de botas curtas”. Essa frase é de Machado de Assis. Como esta outra: “A felicidade tem boa alma.” Também a felicidade do povo. E desse empate no confronto de mentalidades , reparamos que a ideia e a lei das “fichas limpas” já venceu. E sua exigência será irreversível.