O mundo carece de piedade. E diante da frieza, estupidez ou indiferença, a piedade só se aprende na dor. Sim, leitores, vi a notícia, com foto, de uma mulher, de 80 anos, imigrante venezuelana, sendo carregada por outro imigrante, pelas águas do rio Grande, ou rio “Bravo”, na divisa entre os Estados Unidos e o México.
Buscando acolhimento no território americano, atrás de uma vida melhor. O corpo da mulher estava quase inerte, mas ainda com vida, vestindo camiseta rosa, calça cinza de moleton, máscara e uma aliança na mão esquerda.
Sabe-se que o nome dessa mulher é Irma, mais nada. Da nossa triste e solitária estirpe humana, sem documentos e o repuxo de vagante esperança.
Irma foge de uma crise política e econômica interminável no seu país e esqueceu que deixava parentes, ou deixava a terra natal, esqueceu que era idosa e sem forças, esqueceu que há fronteiras entre nações.
E a fronteira tem leis duras, implacáveis, na cumplicidade de pomposos interesses. E não possui piedade alguma.
Pois, amor é que falta, amor que seja maior, amor que se organize sem limites no coração humano.
Neste tempo de pandemia, em que não podemos nos abraçar e que, nas máscaras, só aparecem os olhos, podemos alcançar a luz que não divisamos na solidão da retina, ou em venturosa vacina, a luz da palavra que não dorme. Mesmo sussurrada.
Decerto, se há comunidades políticas que se acionam na razão militante do poder, de cima para baixo, como se ainda houvesse raça superior na pele ou na inteligência, ou se no sangue fluísse com outra cor, o amor não tem pátria.
E, se criamos alguma pátria, é para todos os homens.